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?Exportadores serão os que mais sofrerão?

Álvaro Concha, especialista em comércio exterior prevê um cenário nebuloso para a economia

Edinei Wassoaski CANOINHAS Graduado e pós-graduado em Comércio Exterior, o chileno Álvaro Concha, há 33 anos no Brasil, atua como professor na Universidade do Contestado (UnC) campus Canoinhas. Preocupado com a crise global, Concha faz uma análise pessimista do mercado, mas acredita que a crise vai ter um fim em pelo menos seis meses. Acompanhe. A crise é culpa exclusiva dos Estados Unidos? O problema começou lá, mas o problema talvez seja de todo o mundo, porque todos acreditaram que num momento de bonança, todos os problemas da economia estavam resolvidos. Fala-se em reflexos do 11 de Setembro. Mas fica difícil relacionar o excesso de oferta de crédito a uma ação terrorista. Difícil, também não consigo estabelecer essa relação, embora possam haver teorias. Fato é que o crédito estava muito fácil e isso levou à crise, prova disso é que os países que facilitaram menos o crédito, hoje estão sofrendo menos com a crise. Canoinhas sentiu o primeiro grande efeito da crise com a brecada de investimentos da Aurora. Como explicar que uma crise iniciada nos Estados Unidos hoje atinge os canoinhenses? São duas questões: Estas grandes empresas não instalam grandes empreendimentos com capital próprio, eles dependem de financiamentos, que estão mais caros e escassos. Outra situação é que se não há venda, não tem porque fazer investimentos. O corte de investimentos é só o primeiro. Depois se corta custos e linha de produção. A Aurora ressalta que está falando em ?adiamento?, não em ?cancelamento?. Mas como adiar um empreendimento se não se tem certeza de quando a crise vai acabar? Não se tem noção, nem visão da repercussão dessa crise, mas espera-se que não se alastre por muito tempo. Muito provavelmente nos próximos seis meses estará resolvida, mas as seqüelas permanecerão. A questão da Aurora e da Sadia é o primeiro reflexo da crise na região. O mercado imobiliário, que teve supervalização em Canoinhas nos últimos dias, tende a desaquecer? Quando o crédito fica mais escasso, a tendência é por desaquecimento de todos os setores. A tendência é que a especulação imobiliária estabilize, o que não quer dizer que vai baixar os preços. Os preços não devem mais subir. Que cenário o senhor vislumbra para os exportadores da região nos próximos meses? São os que mais vão sofrer. Os efeitos, no entanto, serão sentidos em fevereiro ou março, porque os pedidos para embarque nestes meses estão saindo agora, então, tendenciosamente o primeiro trimestre de 2009 deve apontar uma queda de divisas na região. O pacote de R$ 6,5 bilhões que o Governo liberou para custear a safra agrícola pode ser considerado salvador, mas o temor dos agricultores em emprestar dinheiro dos bancos não pode reduzir a produção e refletir no bolso do consumidor? Não tenho dúvida. Há 15 dias, o presidente Lula disse que o problema da crise era dos Estados Unidos, hoje já mudou o discurso. Os preços das commodities (mercadorias de cotação e ?negociabilidade? globais) deve sofrer queda e os agricultores não devem esperar que o Governo banque esta diferença. Apesar de não ter discurso neoliberal, o Governo atua de forma neoliberal. Que conselho o senhor dá ao consumidor comum, que está pensando em trocar de carro, investir na casa, etc? Acho que dinheiro de financiamentos e crédito vai escassear. O conselho é segurar o dinheiro e esperar para ver o que vai acontecer. Todos os setores da economia estão sujeitos à crise? Com certeza. Cada setor vai receber uma pancada diferente e vai reagir de forma diferente, mas todos vão sentir.
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