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A CRISE bate à nossa porta

Recuo dos investimentos da Aurora jogou o canoinhense no turbilhão da crise internacional; especialistas avisam: essa é só a ponta do iceberg!

Edinei Wassoaski CANOINHAS Quando a crise parecia um assunto remoto, confinado aos noticiários de tevê e jornais de grande circulação, o canoinhense viu ela bater à sua porta na segunda-feira, 20. Espantada pelo cenário internacional, a Coopercentral Aurora decidiu adiar o investimento de R$ 400 milhões programado para iniciar este ano em Canoinhas na construção de um frigorífico e uma fábrica de rações. A decisão foi tomada na semana passada, mas divulgada somente na segunda-feira. Uma nova reunião, em janeiro de 2009, deve retomar o assunto. ?O Governo diz que tem dinheiro, mas não libera aos investidores. Tá na hora de agir, não só de falar?, declarou um irritado Mário Lanznaster, presidente da Aurora, em entrevista por telefone. Mais calmo, Lanznaster, afirma com convicção: ?Assim que o mercado se acalmar, parar esta confusão em relação ao dólar, os investimentos serão retomados?. Uma nota oficial partiu da Aurora na quarta-feira, 22, para a prefeitura de Canoinhas e o Governo do Estado. Assinada por Lanznaster, a nota é direcionada ao governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) e ressalta que o único fator que levou à tomada de decisão de adiar os investimentos, é exclusivamente de ordem econômica ?dadas as incertezas do mercado?. Mais uma vez, Lanznaster reafirma o compromisso do investimento. O adiamento, no entanto, não tem data. A reunião de janeiro de 2009, confirma o assessor de imprensa da Aurora, Marcos Bedin, é para avaliar o mercado e o balanço da empresa em 2008, não para definir uma nova data. ?A Aurora hoje tem dois caminhos ? amplia ou vende ? mas como é uma cooperativa, a melhor opção é crescer?, avalia Bedin, reafirmando que o empreendimento em Canoinhas sai. Argos Burgardt, secretário da Administração de Canoinhas, confia na palavra da Aurora. ?Não há como negar que existe uma crise, nem é possível prever até onde ela vai?, reconhece. A prefeitura programava para este mês um ato público de entrega das escrituras dos terrenos nos quais o município investiu R$ 1 milhão, às margens da SC-280, onde deve ser construído o frigorífico. Depois do anúncio da Aurora, o ato foi suspenso. ?A partir do momento em que a Aurora assinar a escritura dos terrenos, passa a contar um prazo para que o investimento se concretize?, explica Burgardt. A suspensão do ato visa justamente não pressionar a Aurora. O secretário alerta que assim como a Sadia em Mafra, a Aurora não vem para Canoinhas por caridade. ?Somos um potencial, se elas (Aurora e Sadia) não investirem, outras empresas vão tomar este espaço?, adverte. O projeto de terraplenagem do terreno que será doado à Aurora, orçado em mais de R$ 3 milhões, de responsabilidade da prefeitura, nem foi iniciado. A explicação da prefeitura é de que a Aurora não chegou a entregar a planta do futuro frigorífico. OUTRO CANCELAMENTO A Aurora adiou também o plano que absorveria R$ 70 milhões na ampliação, abate e industrialização de suínos, em São Gabriel do Oeste-MS. Assim como em Canoinhas, o projeto tinha previsão de iniciar neste trimestre. Nesta semana, a Associação Catarinense de Avicultura (Acav) iniciou trabalho de orientação às agroindústrias para reduzirem em 5% o alojamento de frangos porque alguns importadores passaram a ter dificuldades em obter linhas de crédito em seus países. O setor está atento, também, à recessão no exterior que deve resultar em menor consumo de frango. Em Santa Catarina, segundo maior produtor brasileiro de frangos do Brasil, com abate de 60 milhões de aves por mês, o corte significará uma retração de três milhões de aves mensais em 2009. O Estado exporta mais de 50% dos frangos que produz. Segundo Lanznaster, somente na fábrica de Canoinhas, onde seriam abatidas 300 mil aves por dia a partir de setembro de 2009, a redução será superior a 5%. O projeto de Canoinhas abrange também uma fábrica de rações e incubatórios. Lanznaster diz que não é preciso pedir para as empresas diminuírem a produção, porque isso vai ocorrer no Brasil, \"na dor e na quebradeira\". O dirigente afirma que começou o movimento de fechamento de frigoríficos. \"A Aurora já recebeu várias propostas de venda ou aluguel de frigoríficos paulistas\". Ele não quis revelar os nomes das empresas. Com as vendas externas em ritmo muito lento, a Aurora já está estocando mercadoria nos pátios e câmaras. Para este ano, o dirigente diz que a crise não refletirá no faturamento, que deverá atingir R$ 2,7 bilhões, 24% superior ao ano passado. \"Para 2009, pretendíamos crescer mais do que este percentual, mas já abrimos mão desta meta\", diz. O presidente da Organização das Cooperativas de Santa Catarina (Ocesc), Marcos Antônio Zordan, diz que a entidade está pedindo para que as cooperativas suspendam temporariamente seus planos de expansão, sob o risco de inundar o mercado interno de produtos e os preços despencarem. \"No caso do milho, há excedente de 10 milhões de toneladas e os preços caíram, reduzindo os ganhos do produtor\". Por outro lado, segundo ele, na área de grãos, houve alta generalizada dos insumos e sementes. Neste ano, Zordan diz que as cooperativas catarinenses vão faturar 25% a mais do que em 2007, quando a receita somou R$ 9,1 milhões. \"Para 2009, não há previsão\", afirma.
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