Agência Brasil - Como surgiu a ideia do CINE BH?
Raquel Hallak - A CineBH Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte nasceu em 2007 a partir da percepção de que era necessário criar, na capital mineira, seu evento de cinema, e criar também em Minas Gerais um espaço voltado à conexão entre a criação artística e o mercado audiovisual. Já realizávamos a Mostra de Tiradentes [desde 1998] e a CineOP [Ouro Preto-desde 2006], cada uma com sua identidade, e entendemos que Belo Horizonte tinha vocação para sediar um evento com foco na formação de mercado, internacionalização da produção brasileira e intercâmbio profissional.
Agência Brasil - Qual é a importância do evento para a cidade e como o público participa?
Raquel Hallak - A CineBH é hoje um dos principais eventos culturais da capital mineira e contribui diretamente para o fortalecimento do setor audiovisual, movimentando a economia criativa, o turismo cultural e o calendário artístico da cidade. Para o público, é uma oportunidade única de assistir a filmes inéditos, participar de debates, oficinas, rodas de conversa e encontros com realizadores, tudo gratuitamente.
Agência Brasil - Este ano serão 101 filmes entre brasileiros e internacionais. Como você vê o atual cenário do cinema brasileiro?
Raquel Hallak - Apesar dos desafios enfrentados nos últimos anos, o cinema brasileiro mostra uma impressionante capacidade de resistência e reinvenção. Estamos vivendo um momento de retomada e celebração, com conquistas importantes em festivais internacionais e uma produção marcada por diversidade, potência criativa e engajamento com temas urgentes. A curadoria da CineBH reflete essa pluralidade.
Agência Brasil - A abertura do festival será com o filme selecionado do Brasil para concorrer ao Oscar. A expectativa é grande? O que significa para o festival abrir com O Agente Secreto, neste momento tão especial?
Raquel Hallak - É uma honra e um momento simbólico para a CineBH abrir sua 19ª edição com O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, filme que acabou de ser escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2026. A escolha reafirma o nosso compromisso com o cinema brasileiro, relevante e de alcance internacional. Exibir esse filme na abertura em conexão com o homenageado desta edição, o ator Carlos Francisco, é um presente para o público e uma forma de celebrar o talento e a sensibilidade do cinema brasileiro em um momento de visibilidade internacional.
Agência Brasil - Os festivais são as principais telas para os filmes que ainda não têm distribuição? Além disso, é um espaço de formação de público? Comente sobre sua visão dessa janela tão importante.
Raquel Hallak - Os festivais têm um papel estratégico dentro do ecossistema audiovisual. São, muitas vezes, as primeiras janelas de exibição de filmes independentes, que ainda buscam distribuição comercial. Além disso, funcionam como laboratórios de recepção, onde os filmes são testados, discutidos e ganham visibilidade. Para o público, é uma oportunidade de contato com filmes que, muitas vezes, não chegam ao circuito comercial. E, para os realizadores, um espaço de encontro, crítica e reconhecimento.
Agência Brasil - Além do festival CineBH, você pilota outros festivais em Minas. Conte um pouco da sua trajetória e da relação do público mineiro com o audiovisual.
Raquel Hallak - A minha trajetória está profundamente ligada ao compromisso com a promoção e a difusão do cinema brasileiro e à formação de público. À frente da Universo Produção, empresa com 30 anos de atuação no setor cultural e audiovisual, idealizamos, realizamos, sob a minha coordenação geral, o programa Cinema sem Fronteiras, que reúne quatro empreendimentos audiovisuais reconhecidos nacional e internacionalmente: a Mostra de Cinema de Tiradentes, a CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto, a Mostra CineBH e o Brasil CineMundi Encontro Internacional de Coprodução. Cada um desses eventos têm identidade própria e cumpre um papel estratégico no fomento ao audiovisual brasileiro. Ao longo dessa caminhada, temos construído uma relação muito próxima e afetiva com o público mineiro, que participa ativamente dos festivais, valoriza a programação gratuita e se envolve nos debates, oficinas e atividades formativas. Acredito que o cinema é uma ferramenta poderosa de transformação social, e é gratificante ver como, ano após ano, esses eventos se consolidam como espaços de encontro, reflexão e celebração da cultura brasileira.
Agência Brasil - O homenageado deste ano, o ator Carlos Francisco, é hoje um dos grandes expoentes do cinema brasileiro.
Raquel Hallak - Carlos Francisco é um artista que representa com profundidade e sensibilidade a potência do cinema brasileiro contemporâneo. Sua trajetória, marcada por atuações intensas no teatro e no cinema, e por ser uma presença forte e generosa em cena, o coloca como uma referência da nossa geração. A homenagem é um reconhecimento ao seu talento, à sua contribuição artística e ao seu compromisso com narrativas que representam o Brasil em sua diversidade. É uma honra tê-lo como homenageado desta edição.
Agência Brasil - Além da exibição de filmes, discussões sobre o mercado cinematográfico serão debatidos no Brasil Cinemundi?
Raquel Hallak - O Brasil Cinemundi é o evento de mercado internacional da CineBH, que chega à sua 16ª edição consolidado como um dos principais encontros de coprodução do país. Ele conecta projetos brasileiros em desenvolvimento com players do mundo todo, os distribuidores, canais, agentes de vendas, programadores, consultores e representantes de fundos internacionais. Além disso, promove uma série de atividades formativas, painéis, rodadas de negócios e mentorias que contribuem para o desenvolvimento do audiovisual brasileiro.
Agência Brasil - Quais são as perspectivas para o encontro e nos conte um pouco sobre o tema do seminário Audiovisual em Conexão: Regulação, Coprodução e os Desafios do Mercado.
Raquel Hallak - Em quatro dias de atividades, o seminário reunirá mais de 80 especialistas de 15 países - profissionais da cadeia produtiva do audiovisual, pesquisadores, gestores públicos, representantes do Estado, empresas do setor, instituições acadêmicas, distribuidores, curadores, agentes de vendas internacionais e parceiros estratégicos. Em um contexto de retomada e reestruturação das políticas públicas, falar sobre regulação, coprodução e os desafios de mercado é essencial para traçar caminhos possíveis para o fortalecimento da nossa cadeia produtiva.
A programação completa está disponível no site oficial do CineBH.
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