Festival do Rio começa nesta quinta com 300 filmes na programação
Começa nesta quinta-feira (2/10), no Rio de Janeiro, a 27ª edição do Festival do Rio, um dos principais eventos de cinema do país, que neste ano traz 300 filmes em sua programação, entre curtas e longas-metragens que serão exibidos em mais de 20 salas de cinema da capital. Um dos maiores mercados de cinema, o Rio Market, também vai movimentar a cidade.
Em ano marcado por vitórias para o cinema nacional, como Globo de Ouro, Oscar e prêmios em Cannes, o festival apresenta 120 títulos brasileiros, sendo a maior parte ainda inédita nas salas de cinema.
As mostras Panorama Mundial, Expectativa, Itinerários Únicos e Midnight Movies apresentam 180 títulos internacionais, com obras que se destacaram internacionalmente em grandes festivais.
Com estreia no Festival do Rio, a cantora Fernanda Abreu traz para as telas o documentário Da Lata 30 anos. Ela conversou com a Agência Brasil.
Agência Brasil : Como nasceu a ideia de transformar aquele material de 1995 em documentário?
Fernanda Abreu: A ideia surgiu porque o diretor Paulo Severo, meu amigo desde os anos 80, acompanhou tudo, as gravações do disco no Rio e em Londres, a sessão de capa com Walter Carvalho, clipes e parte da turnê. Ele tinha esse material riquíssimo e inédito. Decidimos costurar um roteiro com mais de 30 depoimentos de gente que esteve comigo naquela época.
Agência Brasil: Quem participa desse reencontro em forma de filme?
Fernanda Abreu: Muita gente! Hermano e Herbert Viana, Lenine, Pedro Luís, Charles Gavan, Débora Couker, Cláudia Kopke, além de músicos, arranjadores e produtores do disco. O documentário mostra não só a música, mas também dança, fotografia, artes visuais e o contexto do Brasil e do Rio de 1995.
Agência Brasil: Além do filme, você está lançando o álbum em vinil e um livro de arte. O que o público vai encontrar?
Fernanda Abreu: O livro traz fotos do Walter Carvalho daquela época e atuais, textos de Marcelo Tas, Hermano Vianna, Fausto Fawcett, Letrux, Rogério S. e muito material de memorabilia: ingressos, crachás, cartazes, figurinos que ainda guardo. É um mergulho no universo do Da Lata.
Agência Brasil: E revisitar esse material, 30 anos depois, trouxe alguma surpresa?
Fernanda Abreu: O que mais me impressionou foi perceber que o disco não envelheceu. Ele continua atual na mistura de samba com funk carioca, que estava apenas nascendo. Também reencontrar objetos, registros de shows fora do Brasil, como Montreux, e matérias de jornais me emocionou muito.
Agência Brasil: O documentário chega justamente em um momento forte para o cinema brasileiro. Como você enxerga isso?
Fernanda Abreu: Acho espetacular. Nosso cinema é um sobrevivente, já passou por altos e baixos, mas hoje tem diretores incríveis e muitos roteiros potentes. Estamos ganhando prêmios, de Oscar a Veneza, e isso prova que cultura gera inspiração e também movimenta a economia. Para mim é um orgulho estrear no audiovisual com esse projeto.
Agência Brasil: O funk aparece como um fio condutor no Da Lata. Que papel ele tem nessa história?
Fernanda Abreu: Nos anos 90, o Rio vivia violência, mas também inovação: computadores, samplers, estúdios pequenos e o funk nascendo. Eu fui a bailes em 1989, fiquei fascinada e trouxe isso para a minha música. O Da Lata reafirma essa mistura, do samba ao funk, no meu jeito pop. Foi importante não só para minha carreira, mas para a estética da música brasileira.
Agência Brasil: Você já previa a força do funk, mas ainda existe preconceito?
Fernanda Abreu: Sim, desde 1995 eu dizia que o funk daria muito o que falar. Hoje temos Anitta, Ludmilla e tantas outras, mas o preconceito continua, principalmente das elites. É preciso entender que o Brasil também é a favela, o asfalto, a cultura popular. Só assim teremos uma representação verdadeira do país.
A programação oficial do Festival do Rio que vai até o dia 12 de outubro no site.