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Exposição em São Paulo mostra a arte da joalheria africana (Fotos: Agência Brasil)
Os balangandãs, peças usadas por negras, e compostas por pingentes com representações de elementos do cristianismo e religiões de matriz africana, foram as pistas perseguidas pela artista baiana Nádia Taquary para conceber a exposição Ònà Irin: caminho de ferro, montada no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Ao todo, são 22 obras de diferentes fases de sua vida e linguagens, que homenageiam o orixá Ogum, o feminino e o sagrado perpetuado por mulheres.
Taquary explica que os balangandãs estão relacionados ao que se chamou de pecúlio, que nada mais é do que uma tentativa das vítimas da escravidão de se libertar e escapar dessa condição. Para juntar valores suficientes para a alforria, isto é, para deixar de ser cativo ou cativa, eram autorizados pelos seus senhores a somar ao montante doações, legados e heranças. Também podiam ajudar outros escravizados a se salvarem minimamente da cruel engrenagem.
"Não vejo nada ligado a acessório, vejo tudo aqui ligado à história. Até uma penca de balangandãs, que você pode pensar que é um acessório, nunca foi. Foi uma forma de pecúlio no próprio corpo, um corpo que precisava, mesmo tendo dono, ser o guardador de sua própria economia, porque não havia uma outra possibilidade, uma conta em banco", pontuou a artista, em entrevista à Agência Brasil, durante a montagem da exposição.
Sequiosa por repartir com o público as elaborações que surgiram de sua pesquisa sobre joalheria afro-brasileira, iniciada em 2010, materializa o feminino e o divino em instalações, esculturas, videoinstalação e objetos-esculturas. Tal qual uma pessoa que chega ao fim do arco-íris e regressa com um pacote valioso, Taquary distribui pelo salão escuro da unidade do Sesc um e outro elementos lampejantes, suas mulheres-pássaros e, o mais importante, a força de quem sobrevivia ao impossível.
Os balangandãs, também chamados de balançançan, barangandãs, belenguendén e berenguendén, palavras de países africanos, que refletem onomatopeias, eram de ouro e de prata. E eram peças obviamente ligadas ao contexto da escravidão no território ultramarino de Portugal que era o Brasil Colônia.
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