Evolução das negociações
Entidades da sociedade civil que acompanham de perto as negociações apontaram certo otimismo com a possibilidade da COP progredir justamente no tema do afastamento dos combustíveis fósseis.
"Começou a nascer uma coalizão de países que não existia na semana passada, que está fazendo emergir essa ideia da sinalização política, justamente dos mapas do caminho da transição. Então isso é muito bom", afirmou Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa.
"Vimos avanços no debate sobre a transição energética, no reconhecimento da urgência de proteger florestas tropicais e na consolidação dessa visão de longo prazo. O desafio agora é transformar esse impulso inicial em decisões claras e coerentes, capazes de orientar uma ambição real até o fim da conferência", apontou Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil, em tom otimista.
André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), destacou ritmo acelerado de negociações e a importância de avançar nas discussões sobre redução de combustíveis fósseis.
"Há uma expectativa muito grande para a próxima semana e espero que realmente alguns aspectos importantes dessa negociação avancem, em especial a questão dos fósseis. Obviamente que há países divergentes como a Arábia Saudita, mas o importante é que o Brasil apresentou essa agenda e ela está sendo validada por alguns países importantes", observou.
Pelo menos 23 países aderiram até agora ao compromisso informal de abandono gradual dos combustíveis fósseis, na linha defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a Cúpula do Clima, na semana passada. Entre eles estão Reino Unido, Alemanha, União Europeia e Colômbia.
Adaptação sob suspense
Um tema que segue em impasse é o da Meta Global de Adaptação (GGA, na sigla em inglês). Esse compromisso, estabelecido ainda no Acordo de Paris, em 2015, visa aprimorar a capacidade de adaptação e fortalecimento da resiliência para minimizar os impactos das catástrofes humanas e ambientais causadas pelas mudanças do clima no planeta.
No debate atual da COP, as partes tentam chegar a um consenso sobre 100 indicadores globais de adaptação, ponto de partida para indicar se os países estão avançando nas ações de adaptação e resiliência. Porém, segundo observadores que acompanham as negociações, o Grupo Africano, que representa 54 países do continente, tem defendido estender o trabalho técnico por mais dois anos e postergar a decisão final para 2027. Essa proposta preocupa países e observadores porque pode atrasar a definição das metas.
"Eu espero que ainda seja possível avançar, porque esse tema é fundamental. A gente sabe o que aconteceu no Rio Grande do Sul, no ano passado, e o que acaba de acontecer lá no Paraná, enfim, todo o sul do país. Então, não dá para adaptação esperar. E a proposta do Grupo Africano é atrasar esse assunto por dois anos. Então, eu acho que vai estar na mão dos ministros", sinalizou Natalie Unterstell.
"Se a adoção formal dos indicadores da GGA atrasar, isso poderá desacelerar ações e investimentos, o que gerará frustração para os países mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Se as diretrizes do Artigo 6.4 [Acordo de Paris] não corrigirem o rumo dos padrões já adotados e não fornecerem salvaguardas para o trabalho técnico do próximo ano, as soluções baseadas na natureza podem acabar sendo excluídas do mecanismo na prática, com efeito dominó sobre outros mercados", argumentou Florence Laloë, diretora sênior global de políticas climáticas da Conservação Internacional.
Segundo ela, isso retiraria uma fonte essencial de financiamento para a natureza e para as pessoas que dependem dela.
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