A nova geração do campo: jovens transformam a agricultura no Planalto Norte

Sucessão familiar ganha fôlego com crédito de baixo juro, capacitação técnica e exemplos de inovação em propriedades de SC

Por Mariana Soluções

Jovens no agro do Planalto Norte

A cena tem mudado nas propriedades do Planalto Norte: cada vez mais filhos e filhas decidem permanecer no campo, assumindo gestão, incorporando tecnologia e diversificando fontes de renda. O tema da sucessão familiar saiu do discurso e virou pauta de políticas públicas, cursos técnicos e programas de crédito que aliviam o início da vida produtiva dessa nova geração.

Por que a sucessão voltou ao centro do debate

Depois de anos com êxodo de jovens para as cidades, a agenda de 2025 trouxe novidades importantes: políticas específicas para juventude rural, crédito com juros reduzidos e expansão de formações técnicas no território. Ao mesmo tempo, cadeias tradicionais (tabaco, leite, grãos) convivem com apostas em hortifrúti, mel, agroindústria familiar, turismo rural e venda direta online — uma combinação que torna o negócio mais resiliente e atrativo para quem está chegando.

O que está puxando a volta (ou permanência) dos jovens

1) Crédito acessível para investir cedo


Linhas dedicadas à juventude rural oferecem juros mais baixos e prazos adequados para quem quer iniciar um projeto, modernizar benfeitorias, comprar equipamentos ou implantar irrigação e energia. O Plano Safra da Agricultura Familiar 2025/26 trouxe reforço de recursos e taxas reduzidas em linhas de investimento, e o Pronaf Jovem mantém custo financeiro competitivo para primeira implantação produtiva. Resultado: mais autonomia na hora de assumir a gestão.

2) Formação técnica perto de casa


Cursos de aprendizagem rural, gestão e supervisão agrícola vêm ganhando turmas na região (com polos em cidades como Canoinhas e Papanduva), além de capacitações da Epagri em manejo, gestão de custos e comercialização. Na prática, os jovens incorporam controle de caixa, indicadores de produtividade, planejamento de safra, uso de aplicativos de clima e mercado, além de noções de marketing digital para venda direta.

3) Agenda pública focada na juventude


A Política Nacional de Juventude e Sucessão Rural, sancionada em 2025, reconhece o papel estratégico dos jovens de 15 a 29 anos da agricultura familiar e estabelece diretrizes para acesso à terra, crédito, assistência técnica, educação e inclusão produtiva. Em Santa Catarina, programas estaduais complementam com formação continuada e incentivo à permanência no campo.

Como a tecnologia está mudando a rotina

Nas propriedades, a “mão do jovem” aparece em três frentes:

Gestão: planilhas e apps para acompanhar custo por hectare/lote, margem por atividade, fluxo de caixa e metas por safra.

Produtividade: manejo mais preciso de adubação, sanidade animal, irrigação e secagem, reduzindo perdas e padronizando qualidade.

Mercado: do WhatsApp Business à venda direta em feiras e entregas por assinatura, passando por rótulo, embalagem e rotinas sanitárias para agroindústria familiar.

Histórias que explicam a tendência (formatos de personagem que você pode entrevistar)

Sucessão em família: jovens que assumiram parte da área dos pais e abriram uma segunda atividade (ex.: olericultura irrigada para giro de caixa o ano todo, mantendo tabaco/leite como carro-chefe).

Retorno ao campo após curso técnico: egressos de escolas agrícolas/IFs que reorganizaram custos, fertilidade e calendário; em 12–18 meses, melhoram margem e fluxo.

Agroindústria e venda direta: famílias que formalizaram processamento (mel, panificados, embutidos, queijos) e criaram marca local, vendendo na região e online.

Dica de apuração local: busque turmas recentes de aprendizagem rural e jovens atendidos pela Epagri no Planalto Norte; há casos em Canoinhas, Papanduva, Três Barras e municípios vizinhos com resultados rápidos em gestão e produtividade.

Desafios que seguem na mesa

Conciliação entre estudo e trabalho: pico de demanda na safra vs. calendário escolar.

Burocracia e garantias: a formalização de crédito ainda exige organização documental (DAP/CAF, CAR, regularização de área).

Infraestrutura: estradas, conectividade e energia impactam escoamento, assistência técnica remota e automação.

Clima e preço: variabilidade climática e oscilação de mercado exigem diversificação, seguro e planejamento financeiro.

O que olhar para 2026

Mais crédito verde (irrigação eficiente, energia solar, recuperação de solo) combinando produtividade e corte de custos;

Expansão de programas de aprendizagem com foco em gestão, qualidade e mercado;

Cooperativismo como plataforma para assistência técnica, insumos, comercialização e valorização da produção com padronização;

Integração campo–cidade via compras públicas (PNAE/PAA) e circuitos curtos, aproximando a produção das escolas e hospitais da região.

Por que isso importa para o Planalto Norte

As cidades do nosso eixo (Canoinhas, Três Barras, Major Vieira, Itaiópolis, Papanduva, Monte Castelo, Mafra e etc ) têm forte perfil agrícola e cadeias tradicionais. A sucessão bem feita garante continuidade da produção, mantém postos de trabalho no interior e ativa a economia local — do comércio de insumos ao transporte, da manutenção de máquinas à prestação de serviços.