O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi condenado pelo então juiz de 1ª Instância a nove anos de prisão por conta do caso envolvendo o Triplex em Guarujá. Após o anúncio da condenação - e antes mesmo desta -, simpatizantes e antagonistas da excêntrica figura da história nacional bombardearam as redes sociais expondo suas opiniões acerca do ocorrido. É certo que muitas delas tomaram ares de extremismo, o que já era de se supor levando em conta os índices educacionais deste país. 

Fato é que Lula e tantos outros indivíduos creditados pela população para exercer cargos de governança traíram princípios básicos de convivência, prezando vantagens individuais em detrimento do bem coletivo. Um dos principais argumentos dos invariáveis defensores do ex-presidente é que se trata de um inocente perseguido pelos verdugos juízes. Sobre estes, podemos dizer que não têm legitimidade para falar em justiça nas condições atuais, onde há cortes de verbas na saúde e na educação, enquanto seus salários têm as cifras aumentadas. Todavia, defender o Lula é tão eficaz quanto ler Homero para resolver uma equação. Sérgio Moro não fazia nada mais que seu trabalho, o que não justificava ser chamado de "herói", mas após a eleição de 2018 revelou o que muitas especulações supunham, aliando-se e se tronando ministro de um governo que teve o anti-petismo como bandeira. 

Alegar que Lula é um defensor dos interesses do trabalhador, que é membro da classe operária, não passa de uma ilusão. Com os anos no poder, o líder sindical de 1984 passou a conviver e tornou-se parte daqueles que prometeu destruir. Luiz Inácio e as elites passaram a andar de mãos dadas, e os frutos desta relação vêm à tona. De fato não foram apresentadas provas contundentes e irrefutáveis no caso do triplex, mas a culpa assemelha-se ao seguinte panorama: um peixe, uma bexiga inflada e um gato estão no mesmo cômodo; quando alguém chega, nota que o peixe foi comido, a bexiga foi estourada e o gato dorme sobre o sofá. Não há como comprovar que o felino estourou a bexiga e comeu o peixe, mas certamente o foi. Condenar o ex-presidente foi uma atitude equivocada, mas não podemos deixar de levar em conta que sua lisura também não é provável. Mais tarde, com as mensagens reveladas pelo Intercept, mensagens de texto revelaram que Moro e Dallagnol (quem julga e quem acusa) mantinham relação muito mais próxima do que o aceitável para garantir a lisura do procedimento judicial; Dallagnol e outros procuradores se valeram de boatos e convicções ao invés de provas para acusar. Hoje fica muito difícil encarar os teóricos da conspiração de 2017 com esse enredo sem lhes dar razão. 

Enquanto isso tudo se desenvolvia, Aécio Neves pôde reassumir sua função como Senador da República, mesmo havendo indícios até mais contundentes sobre sua falta de decoro - e um helicóptero carregado com cocaína atribuído a ele - da mesma forma com que o ex-presidente Michel Temer, que fora delatado por Joesley Batista por meio de áudio em que nitidamente o chefe do Executivo nacional comete crime de responsabilidade, foi blindado por seus asseclas deputados e ministros do Supremo Tribunal Federal. Nesse turbilhão, quem é responsável por noticiar o que acontece acaba sendo culpado e atacado de todos os lados. Democracia e liberdade de imprensa não existem desatreladas. O marco das civilizações ocidentais é a imprensa livre, que expõe os delitos daqueles que compõe as esferas do poder em nome do conhecimento da população. O Brasil é um dos países teoricamente democráticos em que repórteres e jornalistas são mais coagidos pelos barões do poder.  

O Senado e a Câmara dos Deputados são, em grande medida, a materialização do descaso com a educação e a falta de conhecimento político do cidadão brasileiro. Seria cômico se não fosse verdade, que um indivíduo como Paulo Maluf - procurado internacionalmente, envolvido com esquemas de corrupção desde os tempos da ditadura militar - ser eleito e reeleito como Deputado Federal. É um bom exemplo de que a corrupção por estas bandas não é recente, vem desde os tempos da colonização. A diferença é que agora assistimos pela televisão ou acessamos via internet. 

A polarização cega entre os fã clubes do Judiciário e de Lula chega a ser ridícula. Enquanto os juízes aumentam os próprios salários em meio a crise, recebem auxílios infinitos que extrapolam o teto do funcionalismo e são exaltados como os salvadores da pátria por pessoas que cerram os olhos aos gritantes problemas que envolvem tal poder, do outro lado, Lula aproveita-se disto, dançava conforme a música para livrar a própria cara e lança-se como esperança ao outro grupo de pessoas desamparadas que clamavam por um messias para chamar de Presidente. Este último foi eleito e escancarou mais ainda tudo o que acontece nas terras da jaboticaba, Moro rompe com ele conclamando a si mesmo como um arauto da ética, da moral e do combate à corrupção; os olhos do brasileiro se voltam para as rinhas do Planalto enquanto a floresta queima, crianças morrem de fome e o saneamento básico do país chega a regredir. 

Alexandre Douvan. Acadêmico de Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Membro do grupo de Estudos em Ciências Humanas - Mentes Inquieta