Área de trigo plantada no Planalto Norte aumenta, mas entusiasmo do agricultor diminui

Gracieli Polak

TRÊS BARRAS

 

Boa produtividade, grande procura e valorização no mercado na safra passada fizeram com que a produção de trigo na região aumentasse. A cultura, de pouca expressão dentro do Estado de Santa Catarina, teve um crescimento abrupto na área de terra plantada e pode ser encontrada mais facilmente do que em outros anos na região. Há poucos meses, o trigo era a coqueluche dos agricultores, que esperavam produção recorde e um preço semelhante ou superior ao estipulado na hora do plantio, mas, faltando cerca de um mês para a colheita, o discurso não é mais tão otimista.

Com base nos lucros que os três alqueires cultivados no ano passado lhe renderam, o agricultor João Guimarães, da localidade de Barra Grande, em Três Barras, resolveu ampliar a área plantada com a cultivar. Preencheu 10 alqueires com as variedades Guamirim e Safira, com a expectativa de ter lucro semelhante ao que obteve na safra passada por alqueire, mas, com seu trigo em plena florada, o otimismo se desfaz ainda na lavoura. ?O preço não está muito bom, mas aos poucos vêm subindo e a gente ainda não sabe bem o que vai dar, mas, hoje, a gente sabe que já fica no lucro se não tiver prejuízo?, desabafa.

O aumento no custo de produção, que teve mais de 100% de reajuste nos fertilizantes e adubos é outro agravante para a situação, porque o preço de venda não é suficiente para cobrir os investimentos e agregar ?lucro justo aos agricultores?, reclama Guimarães. ?Aí nessa lavoura tem R$20 mil de investimento e ainda muito trabalho. No ano passado eu paguei R$41 pela saca do adubo para o trigo. Neste ano, paguei R$83. Este é um investimento meu, portanto, somente se eu não perder, como aconteceu muitas vezes, fico satisfeito?.

O agricultor conta que já perdeu lavouras inteiras por causa de condições adversas do clima, mas não desanima da agricultura, porque, segundo ele, é preciso investir e contar com a sorte. ?Teve ano que eu perdi toda a minha lavoura, tive de vender carro e trator e ainda assim, fiquei com dívidas. Depois me recuperei. A gente não pode desanimar e o que eu não ganhar com o trigo, pode ser que eu ganhe com a soja?, ressalta.

 

BENEFÍCIO PARA A SOJA

Guimarães afirma que a grande vantagem da plantação do trigo está no benefício que a palhada que fica no terreno faz à soja. Ele conta que, na sua propriedade, a plantação do trigo somente pelo lucro que ele traz não seria viável, principalmente nas condições em que a cultura se encontra neste ano. ?A soja é que está segurando as pontas na minha propriedade. Eu posso até não ganhar com o trigo este ano, mas a forração que ele me dá com certeza vai fazer com que eu ganhe na soja, porque se o solo estiver desprotegido, a soja dá muito menos?, confirma.

Segundo o engenheiro agrônomo Luiz Fernando Machado Kramer, a palhada fornecida pelo trigo é muito importante para que o cultivo da soja seja rentável. De acordo com Kramer, durante seu ciclo de produção, o trigo retira nutrientes do solo, que não se perdem durante a colheita. ?Parte dos nutrientes adquiridos fica no grão e um pouco fica nos resíduos da planta. A decomposição da planta no solo agrega nutrientes e colabora para o desenvolvimento da cultura plantada posteriormente?, explica. De acordo com o agrônomo, é fundamental que outros cuidados sejam tomados, como a rotação de culturas. Kramer afirma que a rotação de culturas é necessária para que as cultivares tenham boa produção, mas, no caso do trigo, esta postura é ainda mais elementar. ?É preciso sempre alternar as culturas plantadas e, mais importante, alternar o plantio de gramíneas e leguminosas. O trigo é uma gramínea, a soja é uma leguminosa. Se o agricultor planta milho, que também é uma gramínea, depois da soja, corre o risco de ter mais doenças na lavoura?, adverte.

Ele explica que, para a lavoura de trigo, a soja é a parceira ideal, por alternar as estruturas de nutrientes do solo e permitir que haja maior troca e, ainda, prevenindo contra a erosão causada pela chuva.

 

CHUVA ACIMA DO ESPERADO

Os prejuízos causados pela chuva acima da média no mês de outubro são visíveis na lavoura de Guimarães. O agricultor separa um cacho de trigo ainda verde e conta os gomos secos, prejudicados pelo excesso de água, que darão quebra no rendimento. Segundo ele, ainda é difícil saber quanto prejuízo a estação chuvosa vai provocar, mas ele calcula que pelo menos 15% da produção esperada foi comprometida. ?Que eu terei uma quebra grande na colheita, é certeza. No ano passado, colhi uma média de 120 sacas por alqueire que de maneira alguma eu alcanço neste ano?, explica.

As condições climáticas são determinantes para a boa produção da cultivar. Kramer explica que o excesso de chuva pode fazer com que os grão murchem e, além disso, disseminar pragas na lavoura. Segundo ele, além de promover grandes quebras na produtividade, o aumento no custo do tratamento é evidente, o que faz com que o produtor tenha ainda mais custo.

A produção estimada para a safra brasileira neste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estimativa (IBGE) é de 5,7 milhões de toneladas. A área plantada com trigo cresceu aproximadamente 9% e região sul se mantém como maior produtora, encabeçada por Paraná e Rio Grande do Sul, maiores produtores do País.