Estimativa é que 30% dos plantios diretos da região são incorretos
Gracieli Polak
CANOINHAS
Cenários de desolação total durante estiagem e caminhos caudalosos durante as chuvas, as áreas agricultáveis atingidas pela erosão e pela compactação ocasionada pelo uso pelo gado configuram um problema na produção agrícola da região, mesmo depois de anos do domínio da tecnologia para resolver o problema. Em anos agrícolas com graves problemas climáticos, como esse que se encerra com as últimas colheitas, o uso inadequado do solo dá resultado no bolso do agricultor: prejuízo.
De acordo com José Alfredo da Fonseca, engenheiro agrônomo e pesquisador da Estação Experimental de Canoinhas da Empresa de pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), 90% dos casos de erosão do Planalto Norte podem ser corrigidos com tratamento adequado para o solo, o que reduziria as perdas em casos de problemas climáticas. Fonseca explica que a erosão nada mais é que o dano causado pelo impacto do pingo de chuva na terra desprotegida. O que fazer, então, para que o solo não sofra com algo tão comum quanto a chuva? A resposta, para o pesquisador, é simples. “Rotação de cultura e cobertura de solo resolvem esses problemas. Basta que um sistema de plantio direto seja implantado na área produtiva e seja respeitado, com cuidado. Um problema persistente, hoje, é a quantidade de agricultores que faz plantio direto, mas que, com o tempo, relaxou no sistema, não cuida da maneira como deveria e deixa o solo exposto” diz.
MANEJO CONSCIENTE.
Para o agricultor José Fallgatter, que na localidade de Taunay cultiva milho e soja integrados com a produção suína, o sistema de plantio direto é levado a sério. Com produtividade elevada e baixo custo de produção, o agricultor há 14 anos implantou o sistema e o coloca em prática religiosamente. “Faz 14 anos que eu não coloco arado na minha terra e respeito a rotação de culturas. Tem muita gente que não respeita a terra em que planta e vai pelo mercado, resolve cultivar aquilo que vai dar mais dinheiro. Esta não é a postura certa”, defende.
Na propriedade de Fallgatter, que abandonou a criação de gado de corte para preservar o solo, na área plantada com milho na última safra, a cobertura de inverno já foi semeada, mas ainda não nasceu. Na área ocupada com soja, o nabo e a aveia começam a tomar conta da terra e, durante o inverno, atingirão altura superior a um metro, em nenhum momento deixando o solo exposto aos efeitos da chuva. Mas, manejos como o do agricultor de Taunay são exceção.
Segundo estatísticas da Epagri, 70% da área plantada de Canoinhas já passou ou passa por algum sistema protetor como este, mas apenas 30% desse total realiza o manejo da forma ideal. “Tecnicamente a erosão não é problema mais. Hoje ela é um problema de consciência do agricultor, que precisa sempre respeitar o sistema de plantio, seguir todas as etapas, por isso a Campanha de Uso e Manejo do Solo é importante: para lembrar que é preciso cuidar, porque o solo é a base da agricultura”, expõe Fonseca.
CUIDAR BEM PARA TER SEMPRE
A campanha de uso e manejo, desenvolvida pelo governo do Estado, Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural e Epagri, com o apoio de diversas entidades ligadas ao meio rural, visa justamente a proteção da terra e o cuidado adequado para que o solo continue produtivo. Além da rotação de cultura e da cobertura orgânica para proteger as áreas de planta, é estimulado o manejo correto das adubações para diminuir os custos e a integração entre as lavouras e criações para melhorar o uso das terras.
Em meio à quebra de produção enfrentada por grande parcela dos agricultores do Planalto Norte, o cuidado com a terra de Fallgatter, segundo o agricultor, deu resultado. “Meu milho floresceu durante a seca e não sofreu com a falta de chuva. O agricultor só vai tomar consciência quando o descuido doer no bolso, porque fazer plantio direto é uma coisa. Plantar direto é outra completamente diferente”, alerta.
Deixe seu comentário