Cultura discriminada ainda é melhor opção de renda para o agricultor familiar

Gracieli Polak BELA VISTA DO TOLDO Vicente Rogalski, de 72 anos, está aposentado há dois anos. Por causa da idade, o agricultor abandonou a lavoura e hoje sobrevive com a aposentadoria rural que ele e a esposa recebem, mas, na frente de sua casa, permanece ainda todo o aparato utilizado na produção do tabaco, trabalho hoje realizado pelo filho. O fumo, principal atividade da agricultura familiar na região do Planalto Norte catarinense, em meio ao entusiasmo com a plantação do feijão, sobrevive como uma opção segura e rentável para o produtor rural. As mudas de tabaco, que passaram das bandejas para as lavouras nas últimas semanas, têm seu crescimento estimulado pelas chuvas constantes nas últimas semanas. Até o momento da colheita, que deverá começar em dezembro, deverão estar com quase um metro de altura, prontas para o demorado processo de secagem e seleção. O produtor Sérgio Melwistzk aumentou a área plantada de fumo em relação ao ano passado. Mesmo investindo no plantio de feijão e soja, ele não pensa em abandonar o tabaco, porque, segundo ele, o rendimento ainda é bastante alto e o principal estímulo está no custeio da plantação, feito pelas empresas fumageiras. ?A gente não tem crédito para comprar adubo e insumo para plantar milho. Para plantar um alqueire é preciso pelo menos quatro mil reais, custo que para o fumo, a empresa custeia?, afirma. O seguro oferecido pelas companhias fumageiras é apontado pelo agricultor como outro fator que define a escolha pela permanência na cultura, e que, segundo ele, é o que assegura as pessoas ao campo. SEGURANÇA O preço do quilograma do tabaco praticado na safra passada garantiu uma margem de lucro considerável ao fumicultor da região. Segundo a Associação Brasileira dos Fumicultores (Afubra), o preço de R$6,25 foi pago pelo tipo BO1, melhor qualidade do tabaco. A média de preço por kg, aliada à produção alta, foi um dos estímulos para o aumento do plantio para a nova safra, mas não isoladamente. De acordo com o engenheiro agrônomo Donato João Noernberg, embora o tabaco seja rentável, a cultura é muito sensível, mas, diferentemente do que acontece com outras lavouras, o seguro evita que a perda do produtor seja muita alta. ?Como a ocorrência de granizo aqui na nossa região é alta, e o fumo bastante sensível, o seguro das lavouras é determinante para que não haja grande perda?, explica. Atualmente cerca de duas mil famílias cultivam tabaco somente em Canoinhas e a cultura é responsável pela sobrevivência de parcela considerável dos agricultores familiares.