Aumento de 13,1 %, anunciado nesta semana não cobre custos de produção, reclamam agricultores

Gracieli Polak

CANOINHAS
Mais de uma centena de agricultores de toda região se reuniram ontem, pela manhã, ao lado da Igreja Matriz de Canoinhas para protestar contra as condições de comercialização da produção do fumo. A mobilização, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf) e pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul do Brasil (Fetraf-Sul) mais uma vez teve como objetivo a busca por melhores condições de trabalho e renda para os trabalhadores envolvidos com a cultura do fumo, além da discussão de estratégias para a negociação da produção e o encaminhamento de propostas de políticas públicas de apoio à classe aos governos municipal, estadual e federal.
Neste ano, a briga pelo preço justo pelo tabaco está ainda mais tensa que em safras anteriores. Fumicultores e entidades representativas da classe queriam um aumento mínimo de 25% no preço do quilograma de fumo produzido na safra 2008/2009. Conseguiram 13,1% para a produção do tipo Virgínia, Burley e Galpão Comum, depois de mais de três meses de negociação com as fumageiras. O reajuste baixo em relação ao aumento nos custos e as “compras com qualidade rebaixada motivam a união dos produtores”, explica o secretário do Sintraf Canoinhas, João Grein.
O coordenador estadual da Fetraf-Sul, Alexandre Berganigni, reiterou a importância da mobilização dos agricultores para melhorar as condições de trabalho e renda no campo. Segundo Berganigni, a mobilização deve ser constante para que os direitos sejam respeitados e a batalha pelo preço justo pelos produtos depende, também, dos agricultores. “Precisamos nos impor, não abaixar a cabeça para tudo. O real que tiram de cada quilograma de fumo significa mais renda para o agricultor, mais dinheiro no comércio, mais desenvolvimento para toda região, principalmente aqui no Planalto Norte onde a produção fumicultora é muito intensa”, afirmou.
FUMO NO GALPÃO
Fauri Colaço, fumicultor da localidade de Colônia Ouro Verde, interior de Bela Vista do Toldo, afirma que tem 10 mil quilos de fumo prontos para comercialização, mas não pretende os vender tão cedo. Segundo Colaço, a primeira remessa de fumo enviado à fumageira teve retorno positivo, mas, baseado na experiência de outros produtores que já venderam parte da produção, o retrospecto não é bom para os agricultores. “Eles não estão valorizando o suor da gente. Meu fumo tem qualidade, não pode ser comprado por valor menor do que vale”, defende. 
A opinião de Colaço é partilhada com Gilmar Fernandes, fumicultor da localidade de Forquilha, interior de Canoinhas, que já vendeu uma parte da produção desta safra depois do aumento anunciado nesta semana. Fernandes explica que, depois do aumento no preço, o problema para o agricultor é outro. “Eles sobem 13% no preço da tabela, mas, na hora de comprar, rebaixam a qualidade. Eu mando fumo de primeira e eles compram como se fosse do segundo e a gente perde muito mais que o aumento nesse tipo de negociação. Querem matar o produtor pelo cansaço, porque agora precisamos honrar os compromissos e vender o fumo”, alerta.