Divergências entre associações de produtores e indústria impede fixação de reajuste

Gracieli Polak

BELA VISTA DO TOLDO/CANOINHAS

 

Mais uma vez, a rodada de negociações da safra 2008/2009 para estipular o percentual de reajuste do preço do quilograma do fumo acabou sem definição. A primeira reunião da safra, realizada em Santa Cruz do Sul, RS, em dezembro passado, devido a divergências entre as entidades e empresas, foi adiada para janeiro. Na quinta-feira, 29, novamente empresas e associações representativas de produtores se reuniram para estabelecer a nova tabela, mas, sem entendimento sobre os percentuais que deverão ser aplicados ainda este ano, na sexta-feira, 30, abandonaram as negociações sem previsão de acordo entre as partes.

De acordo com o Sindicato da Indústria do Fumo (Sinditabaco), o preço médio de venda de 2008 subiu 26% em relação a 2007 e alcançou US$ 3,98 o quilo, alta que se mantém na safra 2008/2009, em plena comercialização. Em meio ao impasse envolvendo as negociações para definir a tabela de preços da safra de tabaco 2008/2009, algumas empresas já começaram a aplicar seus próprios índices de reajuste, mesmo com os valores ainda não definitivos e pouco condizentes com o aumento real dos custos para os produtores, que reclamam do baixo reajuste e da má vontade das empresas em comprar o produto pelo que vale.
Um levantamento feito pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) nas notas apresentadas pelos agricultores, aponta que a arroba do produto do tipo BO1, o de melhor qualidade, está valendo em média 12,6% mais do que em 2008. Com base nesse levantamento, a Afubra tem usado este percentual para aplicar o aumento, mas somente em situações indenizatórias. De acordo com Vilmar Nizer, inspetor técnico da Associação em Rio Negro e Mafra, a associação está aplicando o aumento de 12,06% em ações indenizatórias, porque não acredita que o percentual de aumento estipulado pelas associações de produtores se concretize. ?Eu acho muito difícil que o aumento seja muito superior a isso, porque não se chegou a consenso durante as negociações. Apenas uma empresa ofereceu reajuste de 22%, mas, como as outras não concordaram, as negociações foram encerradas, sem previsão de retomada?, conta Nizer. Ele explica que, mesmo que a safra seja comercializada, o produtor não ficará em prejuízo, porque mesmo que já tenha vendido grande parte da produção, o reajuste é repassado para o produtor posteriormente.

 

RECOMPRA

De acordo com o fumicultor Alfredo Cezar Dreher, de Bela Vista do Toldo, as negociações atrasadas não chegam a preocupar os agricultores, porque a recompra pela empresa, ou seja, a diferença entre o preço antigo e o aplicado no decorrer da safra, é honrado pelas fumageiras. ?É até bom que demore a sair o aumento, porque quando o preço sobe muito, na hora da compra o produto é desvalorizado?, explica.

Para o agricultor Paulo Mireski, também de Bela Vista do Toldo, mais que esperar ações das empresas fumageiras e das associações de defesa dos fumicultores, o agricultor deve se impor e acompanhar a compra do seu produto. ?Se eu sei fazer o fumo eu tenho de saber quanto ele vale também, por isso a gente tem de acompanhar o produto até a venda e só vender se for realmente pelo preço que vale?, defende.

Ele conta que, na semana passada, durante a venda de seu produto, o preço oferecido pela empresa fumageira era inferior ao que os fardos valiam. Diante da compra por preço abaixo do que valia, o agricultor desistiu da venda, trouxe a mercadoria para casa e vendeu para outra empresa. ?Se eu não estivesse lá e não batesse o pé, teria tomado um prejuízo de, pelo menos, dois mil reais?, afirma. O produtor, que nesta safra plantou 80 mil pés da planta, afirma que as colheitas, que normalmente se entendiam até o mês de março, desta vez terão prazo bem mais curto, comprometendo a quantidade colhida do produto, o que, necessariamente não significa perda no lucro anual da propriedade. ?Hoje eu estou produzindo fumo de uma qualidade que eu nunca tinha produzido antes. A quantidade colhida vai ser menor, mas, em compensação, a qualidade é bem melhor, o que faz com que a gente não perca tanto?, ressalta.