Serra do Lucindo, no interior de Bela Vista do Toldo, terá uma área de 316 hectares recuperada
Edinei Wassoaski
BELA VISTA DO TOLDO
Entre as várias resoluções contidas no Protocolo de Quioto, ratificado em 1999, com a participação de várias nações, estava o controle de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Foi a partir daí que os países passaram a trabalhar com metas de emissão de poluentes. Assim, aqueles países ou indústrias que não conseguem atingir as metas, tornam-se compradores de créditos de carbono. Por outro lado, aquelas indústrias que conseguiram diminuir suas emissões abaixo das cotas determinadas, podem vender o excedente de "redução de emissão" ou "permissão de emissão" no mercado nacional ou internacional.
Essa negociação não se restringe aos países de origem das empresas, mas pode ser feita no mercado internacional. Foi dessa forma que duas empresas espanholas optaram por pagar sua dívida com o meio ambiente em Bela Vista do Toldo.
Desta forma, desde abril deste ano, a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), sediada em Rio do Sul-SC, deu mais um importante passo na execução de um projeto de ação climática, que visa o sequestro de carbono, desenvolvido com o apoio da Fundació Natura, uma organização sediada na cidade de Barcelona (Espanha). A ação está sendo desenvolvida em uma propriedade da localidade de Serra do Lucindo, interior de Bela Vista do Toldo.
O projeto prevê a preservação e a restauração de uma área total de 316 hectares de Mata Atlântica. Destes, aproximadamente 150 hectares de floresta primária e 136 hectares de floresta secundária em estágio avançado de regeneração, que serão conservados, 20 hectares de floresta secundária em estágio médio de regeneração a ser restaurada através do enriquecimento ecológico e 10 hectares de área desprovida de vegetação a ser reflorestada. “A escolha de Bela Vista foi justamente pelo fato das florestas nativas dessa região estar sofrendo bastante pressão do setor florestal e também pelo fato dessa área ter sofrido uma grande exploração indiscriminada no passado. O objetivo agora é mostrar que a floresta preservada, também pode gerar recursos”, diz o presidente da Apremavi, Edegold Schäffer.
Dividido em duas fases, a primeira prevê o plantio de 22 mil mudas de árvores nativas, a reabertura de estradas, a construção de cercas em volta da propriedade e a construção de uma sede que servirá de alojamento para funcionários da Apremavi, estudantes e pesquisadores. A segunda fase prevê atividades de educação ambiental com os moradores das comunidades do entorno e também com as escolas municipais, além da implantação de trilhas ecológicas nas florestas da propriedade, visando à implementação do ecoturismo em Bela Vista do Toldo e região.
Os recursos para execução do projeto são oriundos da venda de créditos de carbono, através de uma parceria firmada entre a Apremavi e a Fundació Natura. Esses créditos foram oferecidos pela Fundació Natura no mercado voluntário para compensação de emissões de CO2 para duas empresas da Espanha, através da plataforma “ZeroCO2” e os recursos gerados, estão sendo repassados para a Apremavi desenvolver as atividades previstas no projeto.
PROJETO COMEÇOU EM ABRIL
As atividades de restauração do projeto tiveram início em abril deste ano com a limpeza e o preparo de aproximadamente 10 hectares de áreas para plantio. Esse trabalho se estendeu durante as três primeiras semanas. Na última semana de abril, foram realizados os serviços de reabertura de estradas e a construção de bueiros. Já na semana de 4 a 8 de maio foi feito um grande mutirão para o plantio de árvores. O mutirão contou com a participação de 16 pessoas, entre funcionários da Apremavi e moradores da comunidade da Serra do Lucindo.
Nos quatro dias de mutirão foram plantadas 11 mil mudas de aproximadamente 50 diferentes espécies nativas da Mata Atlântica. Para facilitar a visualização das mudas durante o processo de limpeza e manutenção futura, foi colocada uma estaca de madeira em cada muda plantada.
Os materiais para a construção do alojamento e das cercas, também já estão no local e a execução das obras, deverá começar nos próximos dias.
O terreno na Serra do Lucindo, onde o projeto está sendo desenvolvido, foi adquirido pela Apremavi no ano de 2006, também através de recursos doados pela Fundació Natura.
Em 2007 foram feitos os estudos para calcular a quantidade de CO2 que seriam captados pela floresta existente no terreno e também pelas árvores que seriam plantadas nas áreas limpas. Esses estudos contaram com a participação de um representante da Fundació Natura, um representante da Universidade da Cataluña na Espanha, um representante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por meio do então professor João de Deus Medeiros, além de representantes da Apremavi. Segundo os estudos realizados, as 22 mil mudas de árvores nativas que estão sendo plantadas dentro do projeto, captarão 15 mil toneladas de CO2 num prazo de 20 anos.
Em setembro de 2008, Schäffer e a secretária executiva Maria Luiza Schmitt Francisco, estiveram na cidade de Barcelona onde visitaram a Fundació Natura e acertaram os últimos detalhes do projeto.
Segundo Schäffer, outro fator importante do projeto e que deve ser ressaltado, é o apoio que a Apremavi está recebendo dos moradores da comunidade da Serra do Lucindo e também do poder público municipal. O prefeito Adelmo Alberti (PSDB) também já manifestou interesse em criar um Parque Natural Municipal no entorno da cidade de Bela Vista do Toldo, para o qual, quer o apoio da Apremavi.
A Apremavi já deu início ao processo para transformar a área da Serra do Lucindo em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A expectativa é de que ainda este ano o processo de criação da RPPN esteja concluído.
ASSOCIAÇÃO QUER REPETIR PROJETO EM PAPANDUVA
A Apremavi possui outra área de 260 hectares no município de Papanduva, que também está sendo transformada em uma RPPN. “Nesta área também pretendemos realizar um projeto de carbono, mas no momento, ainda não encontramos um financiador para o projeto. Por enquanto ainda não é muito fácil conseguir vender créditos de carbono. No Brasil, apenas grandes empresas estão conseguindo isso. Esses projetos são bastante demorados pra sair, pois dependem de estudos e cálculos da quantidade de carbono que serão captados e neutralizados”, explica Schäffer.
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