O nome do município foi uma homenagem ao capitão do Exército Brasileiro, João Teixeira de Matos Costa. O militar, durante a Guerra do Contestado (1912-1916), foi assassinado pelos “fanáticos” nas proximidades da estação de São João dos Pobres, em setembro de 1914, em mais um triste episódio dessa luta. Essa estação, depois, seria rebatizada com o seu nome.
Entre os meses de abril e maio do daquele ano, depois de mais uma expedição malograda do Exército, sob o comando do general Carlos Frederico de Mesquita, a maioria das tropas federais foi retirada do Contestado. Para manter o policiamento da região, ficou destacado o 16º Batalhão de Infantaria, sob o comando do capitão Matos Costa. A finalidade desta unidade era proteger os serviços finais de construção da estrada de ferro entre União da Vitória (PR) e São Francisco do Sul (SC), à margem esquerda do Iguaçu, entre Canoinhas e União da Vitória. Dentre as várias localidades protegidas pelo 16º de Infantaria, estava a vila de Canoinhas, Santa Leocádia (atual localidade canoinhense de mesmo nome), União da Vitória e Vila Nova do Timbó (atual localidade de mesmo nome do município de Irineópolis/SC).
Meses depois do encerramento da Expedição Mesquita, mais especificamente no início do mês de setembro de 1914, houve uma grande ofensiva “jagunça”, colocando em polvorosa diversas localidades do Contestado. Foram atacadas estações da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, dentre elas, a de Calmon e de São João dos Pobres, onde muitas pessoas foram assassinadas. Diversas crianças e mulheres viram seus pais e maridos serem trucidados a golpes de facão pela sanguinolenta ação, conforme destaca o militar que participou da guerra, Demerval Peixoto, em seu livro “Campanha do Contestado: episódios e impressões” (1920).
Além das estações, a serraria da empresa norte-americana Southern Brazil Lumber e Colonization Company, localizada em Calmon(SC), foi totalmente incendiada. Assim que tomou conhecimento dos fatos, Matos Costa, acompanhado de sessenta soldados, dois sargentos e mais alguns civis, partiu de trem de União da Vitória com destino a estação de Calmon, no dia 6 de setembro. Na altura da estação de Nova Galícia, o efetivo se deparou com alguns sobreviventes, os quais detalhavam as barbaridades praticadas, informando que os “fanáticos” estavam em um bando armado de aproximadamente seiscentas pessoas. Matos Costa não desistiu da diligência, afirmando que “não era de correr sem ver de quê”.
Faltando aproximadamente três quilômetros para a estação de São João dos Pobres, entre os quilômetros 314 e 315 da estrada de ferro, ao notar a presença do inimigo, Matos Costa desembarcou com quarenta militares. Ao mesmo tempo, determinou para que o trem seguisse em marcha lenta, para servir de anteparo à tropa que seguia a pé pelo leito da linha. Repentinamente, rompeu a fuzilaria rebelde de dentro da mata de vassourais. O maquinista, apavorado, desobedeceu às ordens recebidas, voltando em marcha à ré até União da Vitória, deixando os combatentes abandonados no campo de batalha.
Sem saber o que havia ocorrido com o capitão e os demais, a situação apavorou toda a cidade de União da Vitória. Levas de moradores debandaram. No dia seguinte, 7, formou-se nova expedição na tentativa de dar socorro à tropa de Matos Costa. No caminho, começaram a surgir alguns militares que conseguiram fugir pelo mato. No entanto, não tinham informações a respeito de Matos Costa e dos demais. Essa expedição então retornou. Somente no dia 11, um morador local, Antônio de Araújo, encontrou o cadáver de Matos Costa e de dois sargentos que morreram com ele.
O capitão havia perecido com um tiro que, após varar seu corpo, saiu abaixo da axila esquerda. Morrera comprimindo o ferimento com seu chapéu. As mortes de militares e de civis em virtude desses acontecimentos, somadas, aproximavam-se de cem, conforme Demerval Peixoto. A estação de São João dos Pobres foi rebatizada em homenagem ao capitão, originando a atual nomenclatura do município de Matos Costa.
De sua passagem por Canoinhas, há algumas fotografias pertencentes ao acervo do museu canoinhense Orty de Magalhães Machado. As imagens, além da relevância atrelada à Guerra do Contestado, ajudam a compreender como era a cidade no início do século passado. Fotografias em que o capitão aparece: em frente à antiga cadeia pública, a qual servia de quartel general das forças (que se localizava na atual rua Eugênio de Souza, em frente à praça Lauro Müller); às margens do rio Canoinhas, tendo o capitão como destaque e, ao fundo, diversos militares em cima da antiga ponte de madeira que existia ligando Canoinhas a Três Barras (essa ponte ficava localizada no final da rua Vidal Ramos, alguns metros acima da atual ponte que liga o centro de Canoinhas ao distrito de São Cristóvão).
Assim, dentre as diversas ligações existentes entre Canoinhas e Matos Costa, destaca-se a que se refere a mais esse triste episódio do Contestado que vitimou dezenas de brasileiros em um combate fratricida, entre eles, o capitão homenageado.
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