Adão Lourenço, eleito presidente municipal do Partido dos Trabalhadores em Canoinhas, fala sobre os desafios do partido numa fase marcada por denúncias de corrupção no Governo

CANOINHAS ? De fala mansa e concisa, bem articulado e idealista, Adão Lourenço não disfarça o constrangimento que passa toda a vez que alguém menciona as denúncias de corrupção que assolam o partido no qual milita desde 1997. Mas persistente como só os petistas conseguem ser, Adão não depõe armas facilmente e acaba de assumir a presidência municipal do partido. Empolgado com o novo cargo, na entrevista a seguir Adão promete lutar no processo de reconstrução do partido, fala sobre as eleições para o diretório nacional e revela que a militância petista está mais engajada depois da crise. Confira:

 

Correio do Norte: Como o senhor avalia a votação para os diretórios municipal, estadual e nacional do PT realizada em Canoinhas no dia 18?

Adão: Avalio como muito boa, já que superou a porcentagem de 30% de eleitores, conforme previa o diretório nacional. 41% dos militantes canoinhenses compareceram.

 

CN: Qual a estratégia que o senhor pretende seguir a frente do PT municipal?

Adão: A estratégia é de reconstruir o partido. Precisamos de mudanças como por exemplo, o PT não pode viver só de eleição, acho que é um erro do PT pensar no partido só em época de eleição. É preciso pensar o PT a curto e longo prazo. Aumentar o número de filiados (hoje são 250) e promover o debate político também. Vemos que hoje a sociedade está aprofundando mais o debate político, nos bares, em casa, as pessoas estão falando em política.

 

CN: O resultado do 1.º turno das eleições nacionais (Raul Pont e Ricardo Berzoini disputam o 2.º turno em 9 de outubro) te surpreendeu?

Adão: Não, está dentro do esperado, embora eu tivesse a expectativa de que o Valter Pomar (2.º colocado nas eleições em Canoinhas, depois de Berzoini) fosse para o 2.º turno, já que ele era o meu candidato, que fazia parte da articulação de esquerda. Embora eu não faça parte de nenhuma corrente de pensamento dentro do partido, tenho afinação com a ala de Pomar. Acho que tanto Pont quanto Berzoini tem condições de ser eleito.

 

CN: Como fica o PT com essas duas possibilidades de presidência?

Adão: A partir dessa crise que se instalou, qualquer um dos dois irá mudar o partido. O Berzoini não fecha totalmente com o campo majoritário que administra o PT. Logicamente que com o Raul Pont muda mais. Vai mais à esquerda. Berzoini é um conciliador.

 

CN: Qual o melhor nome: Pont ou Berzoini?

Adão: Para mim é o Pont, mas respeito muito o Berzoini.

 

CN: Como o senhor se sente comandando um partido mergulhado em denúncias de corrupção?

Adão: É uma tarefa difícil, mas faz parte. O PT pecou ao chamar o discurso da ética para si, como se fosse o único atrativo do partido. O PT é muito maior que isso e a questão ética passa pelo fortalecimento das instituições, não pode ser atribuída a uma pessoa. Claro que seria ótimo s todos nós fossemos puros, mas isso é impossível. O fortalecimento das instituições é o caminho para se acabar com a corrupção. Sinto-me bastante triste, sempre acreditei em nossas lideranças, muitas vezes cegamente, isso não pode mais acontecer. Sempre temos que fiscalizar, participar, não deixar que uma pessoa decida tudo.

 

CN: O PT vai sair dessa crise?

Adão: Acredito que sim. O partido é muito maior que isso.

 

CN: Você acredita na inocência do presidente Lula?

Adão: É complicado porque não estou bem por dentro da situação. No entanto, acho que quando você é presidente de qualquer coisa é impossível saber de tudo. Eu fui presidente de várias associações e nem por isso sabia de tudo.

 

CN: O senhor acha que a crise atual prejudica o PT municipal nas próximas eleições?

Adão: É cedo para avaliar isso. Acho que teremos uma resposta para essa pergunta no ano que vem.

 

CN: Quais são as intenções para 2006?

Adão: Existe consenso no sentido de que temos que ter um candidato ao Governo (as apostas se concentram em José Fritsch e Ideli Salvatti). A deputado estadual ainda estamos estudando. No caso do Congresso, devemos apoiar Carlito Merss e há possibilidade de Francisco de Assis se candidatar.