Entre os deputados estaduais eleitos para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), apenas a deputada Ana Campagnolo (PL) obteve mais de 100 mil. Com isso, ela se torna a deputada mais votada da história do Parlamento catarinense, com 196.571 votos, 4,88% dos votos válidos no Estado. A segunda mais votada foi a deputada Luciane Carminatti (PT), com 92.478 votos, que assume o seu quarto mandato, enquanto que a deputada Paulinha (Podemos), reeleita, foi a oitava mais votada, com 58.694 votos.

Formada em História e professora, Ana Campagnolo ganhou notoriedade por ser defensora de movimentos como o chamado “Escola sem partido” e antifeminista. Ela superou o recorde existente no Parlamento catarinense que era do ex-deputado Gelson Merísio (Solidariedade) que em 2014 recebeu 119.280 votos.  Na eleição de 2018, quando foi eleita pela primeira vez, Ana Campagnolo conquistou 34.825 votos. “Estamos muito felizes com o resultado das eleições. Imaginávamos que iríamos triplicar a votação de 2018, devido o trabalho nas redes sociais. Quando me elegi em 2018 tinha 20 mil seguidores, e agora tenho mais de 2 milhões em todas as redes (Youtube, Instagran, Twitter e Facebook). Mas não imaginávamos uma votação assim, tão boa, cinco vezes mais, trazendo colegas do PL também. Com certeza tem um pouco do nosso trabalho ideológico e de base”, disse Campagnolo.

A deputada explicou que conta com apoio de lideranças fortes atuando em seu favor em todo o Estado. “Eles estão posicionados em pontos estratégicos, no Oeste, Norte, Meio-Oeste, Sul, Vale do Itajaí e Grande Florianópolis. Esses assessores que trabalharam com a gente construíram lideranças, ajudaram a distribuir recursos, as nossas emendas foram muito pulverizadas no Estado. Tomamos muito cuidado com isso, atendendo desde os pequenos até os grandes municípios. Também teve a expressidade do nosso trabalho feito pela CPI do Aborto. Talvez as pessoas não lembrem, mas o requerimento de abertura da CPI teve mais de 120 assinaturas, então era obvio que isso teria reflexo nas urnas”, avalia.

Ela destaca ainda que já esperava o resultado positivo nas eleições deste ano por ser a única parlamentar conservadora e de direita na Assembleia Legislativa, sendo a maior ícone nacional do antifeminismo. “É importante mencionar ainda que sou autora de livros sobre isso, e meus livros venderam mais de 100 mil cópias. Acredito que quem compra o livro e o lê certamente irá votar em quem representa as suas ideias.”

Ana Campagnolo diz que o resultado mostra também o amadurecimento do seu trabalho no Parlamento catarinense. “Isso foi fruto de muito trabalho. Fui representante do partido na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ), a mais importante da Casa, tendo sido única mulher a liderar bloco e partido. Fui também autora de um pedido de impeachment do governador, então o resultado foi o coroamento de um trabalho bem feito.”

A segunda mais votada
A deputada Luciane Carminatti (PT), que assume o seu quarto mandato, recebeu 92.478 votos. “Ainda estamos absorvendo o resultado das urnas. A gente esperava por isso, porque foram quatro anos de muito trabalho, de muita presença nos municípios, de projetos aprovados, então esperava que o resultado viesse nas urnas e de fato o resultado veio. Então, nada melhor do que a gente perceber o apoio, o apoio traduzido nesta força política, de uma mulher de esquerda num cenário estadual bastante difícil.”

Sobre a diminuição no número de mulheres no Parlamento catarinense, que passa de cinco para três, a deputada diz que já no período eleitoral falava que tinha muito medo que isso ocorreria. “Temos duas análises a fazer: primeiro, a dificuldade que os partidos têm de construir novas lideranças de mulheres, então os partidos de uma forma geral não tem colocado novos nomes ou lideranças em condições de chegar. Isso é uma tarefa que cada partido tem que fazer olhar para dentro e perceber o que está acontecendo. Em segundo lugar, tem que analisar que as duas companheiras (as deputadas Ada de Luca, do MDB, e Marlene Fengler, do PSD) que não concorreram a estadual foram para federal. Tenho uma leitura que se elas tivessem sido deputada estadual, nós teríamos a bancada no mesmo número, mantido as cadeiras.”

Mesmo com a diferença significativa no número de mulheres e homens eleitos, Carminatti diz que agurda uma legislação compreensiva por parte dos parlamentares homens. “Espero que para a Assembleia Legislativa tenhamos elegido homens com um entendimento das pautas femininas, mas de forma mais avançada. Que nós possamos contar com os homens, porque eleger mulheres por si só não significa avançar nas nossas pautas. Acredito que o desafio é a interlocução com a sociedade civil organizada, com as mulheres, com todas as pessoas que entendem que a política para ser democrática precisa ter rosto feminino.”

Para Carminatti, o grande desafio é fazer política grande. “A gente conseguiu olhar para os colegas e dialogar, nunca me furtei a isso, tanto que a gente conseguiu, mesmo sendo uma minoria de esquerda no Parlamento, ser uma das deputadas que mais aprovou leis importantes. Quero dizer que é o desafio no Parlamento, estabelecer diálogo porque somos 40 deputados eleitos pelos seus partidos e os 40 precisam pensar no Estado”, conclui.

Segundo mandato
A deputada Paulinha (Podemos), que foi reeleita para o seu segundo mandato, com 58.694 votos, agradeceu o apoio dos eleitores e lamentou que o governador Carlos Moisés (Republicanos) não tenha conseguido ir para o segundo turno nas eleições deste ano. “Com pesar que vejo o nosso querido governador de fora do segundo turno. Ele trouxe dignidade ao Estado e um olhar aos pequenos municípios, como o meu, Bombinhas. Apesar disso, respeito o resultado das urnas e reitero o meu compromisso de continuar trabalhando em prol de Santa Catarina.”

Ex- vereadora e ex-prefeita de Bombinhas, a deputada Paulinha conquistou 51.739 votos na eleição de 2018. Ela afirma que enxerga com tristeza a redução no número de mulheres no Parlamento. 

Paulinha avalia que o mandato conquistado será de mais desafios, principalmente para a pauta das mulheres no Parlamento catarinense. “Mas não podemos nos entregar, temos que continuar perseverando e nos esforçando para que se consiga neste cenário traduzir o sentimento das mulheres e constituir políticas públicas que sustentem essa equidade que a gente defende.”

Ela adianta que pretende buscar parceria dos deputados homens para defender as pautas que sejam justas para Santa Catarina. “Temos que ponderar o que aconteceu e entender esse retrocesso e se reposicionar neste quadro. Sinto-me com a responsabilidade multiplicada.” Paulinha afirma que entre as principais bandeiras que defende há inúmeras leis feministas que não avançaram no atual mandato. “Por hora, temos que aguardar a eleição do segundo turno e avaliar quais serão as políticas públicas do próximo governo.”

Por Ney Bueno