Conhecido por seu envolvimento em causas sociais, Mauro Mariani foi o segundo candidato mais votado em Santa Catarina
CANOINHAS ? Ex-prefeito de Rio Negrinho, o deputado estadual Mauro Mariani (PMDB) alcançou a segunda maior votação no Estado para ocupar uma vaga na Câmara Federal. Por uma diferença de apenas 3.372 votos não ultrapassou a candidata mais votada, Ângela Amin (PP). Por vários momentos durante a apuração, o deputado liderou a votação.
Em Canoinhas, Mariani foi o candidato a deputado federal mais votado. Recebeu 16.259 sufrágios, mais de 50% do total dos votos válidos. Mas esse resultado foi alcançado unicamente por uma campanha bem articulada?
Certamente. No entanto, outros fatores bem mais práticos influenciaram nessa vitória. Nos últimos anos, de prefeito de uma das mais pacatas cidades do Planalto Norte, Mariani ficou conhecido como o ?deputado dos pacientes oncológicos?. Mantendo uma Casa de Apoio em Florianópolis para que pacientes que sofrem com câncer possam se hospedar enquanto passam por tratamento no Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), Mariani conseguiu notoriedade a nível estadual.
Essa notoriedade se expandiu no Planalto Norte com a ajuda prestada pelo deputado a Associação dos Pacientes Oncológicos de Canoinhas e Região (Apoca), uma Organização Não-Governamental que garantiu pelas mãos de Mariani, um microônibus para a entidade e diversas subvenções que ajudam a manter a Associação. Mesmo que de forma subentendida, Mariani recebeu uma recompensa por sua dedicação a entidade. A votação avassaladora de domingo em Canoinhas e todas as cidades nas quais a Apoca tem representatividade, é prova incontestável disso. ?Nunca trocamos ajuda por voto, mas o povo entende que esse ou aquele deputado está nos ajudando e vê no voto uma forma de recompensá-lo?, avalia a diretora da Apoca, Marciana Salai.
Eni Voltolini (PP), segundo candidato a deputado federal mais votado em Canoinhas também se envolveu em causas sociais quando deputado entre 1998 e 2002. Foi ele um dos responsáveis pela emenda que garantiu a compra da atual sede da Apoca. Segundo o ex-deputado, ?A relação entre qualquer instituição e políticos pode ser saudável, desde que não seja mercantilista. Os interesses das ONGs devem estar acima das eleições?.
UM MEIO DE INFLUÊNCIA
Não é de hoje que o engajamento em causas sociais garante vitórias políticas. Em 1996, Orestes Golanovski, conhecido pela criação da Associação dos Doadores de Sangue da Região de Canoinhas (Adosarec) e por ostentar o título de maior doador de sangue do mundo, quebrou o recorde de maioria dos votos. Sua votação foi tão expressiva que o segundo e terceiro colocados juntos não somavam a quantidades de votos alcançados por ele. O título, depois de anos de luta à frente da entidade, veio por puro reconhecimento, garante Golanovski. ?Nunca cobramos por sangue, nunca troquei ajuda por voto, é uma questão de ética?, afirma. Golanovski admite que a representatividade política é de grande importância a uma ONG. ?Quando não era vereador, nem me recebiam em Florianópolis. Era só se apresentar como presidente de uma ONG, que logo ouvia que o deputado não estava, não poderia me receber. Quando vereador, sempre me recebiam de olho nos votos que eu representava?, recorda. Golanovski foi reeleito em 2000 e em 2004, seu filho, Silmar Golanovski (PMDB) foi eleito e hoje é presidente da Câmara de Vereadores.
VOTO É EFEITO
Para o sociólogo Eduardo Melo, o voto é efeito do trabalho desenvolvido pelo político junto à determinada ONG. Melo encara como saudável o envolvimento entre ONGs e políticos, mas alerta que esse envolvimento precisa vir acompanhado de projetos de Lei que beneficiem aquele setor. O sociólogo avalia o resultado dessas eleições como prova de que o eleitor está cada vez mais pragmático. ?O povo vota em quem apresenta ações efetivas que o impliquem diretamente?, acredita.
Marciana também acredita nisso. ?Não precisamos pedir votos, mesmo porque somos uma ONG e precisamos manter postura apolítica. Os pacientes da Apoca vêem o trabalho do deputado e, naturalmente votam nele?. Marciana vê de forma positiva a contribuição indireta da Apoca na eleição de Mariani e acredita que relações como essa ajudem as ONGs a se manter. Ela diz que Mariani venceu essa eleição por conta de sua dedicação integral e notória a tudo em que se envolve, desde a Apoca até o cargo de secretário estadual de Infra-Estrutura, que assumiu durante o governo Luiz Henrique. ?Mostramos que mesmo com tanta dor e sofrimento, temos força de ajudar aqueles que nos ajudam?, afirma Marciana.
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