Falta de funcionários para atender famílias e valores cobrados foram abordados

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Vereadores Beto Passos (PT) e Paulo Glinski (DEM) questionaram na sessão de segunda-feira, 25, a licitação que concedeu a Leomaz Comércio de Materiais de Construção Ltda licença para explorar os serviços dos dois cemitérios municipais (centro e Marcílio Dias).
“Pobre tem de se organizar pra morrer em Canoinhas. Não pode morrer mais que um por semana, senão não tem como enterrar”, disse Glinski em protesto contra os preços praticados pela empresa. Pelo contrato firmado com a prefeitura de Canoinhas, a empresa tem de garantir apenas quatro sepultamentos totalmente gratuitos por mês.
O vereador se mostrou indignado ao relatar que foi procurado por uma família, na semana passada, que não tinha dinheiro para pagar pelo enterro de um “ente querido”. “A esposa estava desesperada, porque o marido estava desempregado e eles precisavam de R$ 1,5 mil para sepultar. A empresa pediu R$ 1,5 mil para proceder ao sepultamento e isto podia ser dividido em no máximo três vezes”, explicou.
Glinski questionou a terceirização de um serviço público. “Tanto o cemitério da cidade, quanto o de Marcílio Dias, são cemitérios pequenos, de fácil manutenção. Não dá para entender o porquê de o município terceirizar esta manutenção e, depois, administrar não quer dizer terceirizar. Devemos repensar a questão da administração pública, senão daqui a pouco o Executivo acaba terceirizando até o atendimento do gabinete do prefeito”, declarou na Tribuna.
Passos foi no mesmo tom. “Uma família teve de sepultar um senhor no Cemitério Jardim das Hortênsias porque não tinha ninguém pra atender”, afirmou. O episódio teria ocorrido no domingo, 24
Os vereadores requereram toda a documentação relativa à concorrência pública. “Quero ter acesso a todos os dados para saber por que mais uma vez uma empresa de fora do município acabou vencendo a licitação”, disse Glinski. Ele lembrou que, recentemente, pediu transparência e ampla divulgação das licitações para permitir que empresas do município possam participar e chegou a apresentar indicação para criar regulamentação para que as micro e pequenas empresas, instaladas em Canoinhas, sejam estimuladas a participar dos processos licitatórios do município.
 Para o vereador, existem em Canoinhas, cerca de 30 empresas que poderiam muito bem realizar os trabalhos de sepultamento e manutenção dos cemitérios da cidade e de Marcílio Dias. “Só que as empresas precisam saber da licitação, para poder participar”, arrematou.
 
QUEM GANHOU A LICITAÇÃO
 
O vereador mostrou cópia de um recibo emitido pela empresa pelo serviço de sepultamento. “No recibo constam dois CNPJs, de duas empresas distintas. Uma é a que ganhou a concorrência e a outra? Não se sabe, quero saber por que uma empresa que não tem contrato com o município está recebendo pelos sepultamentos”, disse.
Glinski explicou que foi buscar informações sobre as empresas no site da Receita Federal e uma consta como fabricante de concreto e estrutura pré-moldada e a outra é um comércio varejista de material de construção. Ambas as empresas possuem sede em Praia Grande-SC, localizado na fronteira com o Rio Grande do Sul.
A Leomaz Comércio de Materiais de Construção tem como incumbência, de acordo com o termo de contrato, de zelar pela segurança e organização permanente do cemitério, comercialização de espaços para sepultamento, serviços de acompanhamento de sepultamento, acompanhamento de translados e exumação, obras de melhoria, como ladrilhamento das ruas internas, calçadas externas e placas de sinalização, construção do ossário, limpeza, conservação e pintura, fornecimento de resumos, mapas de sepultamentos e documentação necessária para o sepultamento.
 
CONTRAPONTO
 
O superintendente do Meio Ambiente da prefeitura de Canoinhas, Felippe Davet, explica que a Leomaz foi a única empresa a se interessar pelo processo licitatório. Segundo ele, a empresa administra mais de 80 cemitérios em todo o Estado. Sobre a nomenclatura, Davet esclarece que não há irregularidade porque embora a empresa tenha na nomenclatura “materiais de construção”, presta serviços de funerária e marmoraria e que não há no processo licitatório exigência quanto a nomenclatura da empresa. Davet ressalta que a Marmoraria Weinfurter, que administrava o cemitério municipal antes da Leomaz, não se inscreveu para a licitação e que os preços cobrados são baseados nos praticados pela Weinfurter, com variação para baixo, inclusive.
A Marmoraria Weinfurter informou que não se interessou pela licitação por conta das exigências do edital.
Willy Ramos Tomaz, responsável pela administração dos cemitérios de Canoinhas, explica que a antiga capela mortuária do Cemitério Municipal está sendo reformada para abrigar o escritório da empresa. A Leomaz tenciona ainda construir uma capela mortuária, instalar bancos e ladrilhar todo o cemitério.
Tomaz nega que não houvesse ninguém da empresa no cemitério domingo, 24. “Eu mesmo estava aqui (no cemitério)”, afirma. O horário de funcionamento do escritório é de domingo a segunda, das 8 ao meio-dia e das 13 às 18 horas.