Serviço atende a 57% da população brasileira; pacientes lutam contra preconceito

Gracieli Polak

CANOINHAS
Rotina na vida de muitos pacientes, as internações em hospitais psiquiátricos constroem um rótulo nada amigável, o da loucura, que se espalha em meio à desinformação da população e muitas vezes, também dos próprios familiares dos pacientes. “A família sofre muito com a ocorrência dos transtornos, porque existe muita dificuldade em aceitar. Muitos buscam ajuda em outros lugares. Muita gente simplesmente não aceita”, explica a psicóloga do Caps, Ruthe Dione Ruthes de Paula e Silva.
Definição de limites, expectativas de melhoras, busca de motivos para o desenvolvimento das doenças são, segundo a psicóloga, questões que pairam sobre grande parte dos casos, por este motivo, além de tratamento para o paciente, o Caps presta assistência também aos parentes, na forma de terapias de grupo. Interagindo com a família, conta Ruthe, as chances de o tratamento surtir efeito melhor são maiores e o resultado na vida prática dos pacientes é bastante positivo. Entre as dezenas de pessoas atendidas em regime integral pelo serviço, pelos mais diversos diagnósticos de doenças mentais, a constatação é uma: o sistema funciona, mas o preconceito ainda existe.
MAIS RESPEITO
Orlando José Postol, que se trata de transtorno bipolar há aproximadamente dez anos, revela que ainda hoje o preconceito com os portadores de transtornos mentais é muito grande. “Se a pessoa fica internada em um hospital psiquiátrico logo ela é rotulada como louca. A própria família muitas vezes não sabe como tratar, porque é muito leiga no assunto”, revela. Para Postol, que se trata intensivamente no Caps, o centro é um refúgio que possibilitou sua recuperação. “Aqui eu converso com pessoas que entendem a minha dor, que sabem o que eu estou sentindo. Aqui a equipe trata a doença e cuida do paciente e é graças a isso que hoje eu estou bem, que me sinto um vitorioso”, conta.
Da mesma vitória compartilham outros pacientes, como Leila de Fátima Mueller. “As pessoas riam de mim, me imitavam, ficavam caçoando. Aqui ninguém faz nada disso, ninguém judia, é muito bom”, conta.
MODELO EXEMPLAR
Observando o bem-estar propiciado pelo modelo psiquiátrico brasileiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) usará as diretrizes brasileiras (e de mais alguns países) para definir um projeto que melhore a qualidade de vida dos pacientes. Em 2002, havia 422 Caps no País. Hoje há 1394 Centros, responsáveis pela cobertura de 57% da população.
 
O que é?
O Caps é um programa do serviço da Secretaria Municipal de Saúde de Canoinhas, com recursos do Governo Federal e contrapartida do governo municipal. Está localizado rua Major Vieira, 1194 e atende de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.

Quem compõe a equipe?
A equipe é composta por 15 profissionais: médico psiquiatra, médico clínico geral, médico clínico geral com especialização em dependência química, psicólogo, assistente social e coordenadora, técnica de enfermagem, enfermeira, técnico administrativo, artesão, técnica terapêutica, técnica educacional, cozinheira, profissional da limpeza e dois bolsistas (farmácia e psicologia).


O que o Caps oferece aos usuários do serviço?
Acolhimento (acolher, ouvir e propor uma intervenção diante do que é trazido pela família e pelo paciente);
Atendimentos individuais (social, enfermagem, médico, psicólogico);
Atendimentos em grupo para os pacientes e para os familiares;
Atendimento medicamentoso;
Oficinas terapêuticas;
Atividades terapêuticas (caminhada, terapias corporais, exercícios físicos, festividades em datas; comemorativas)
Visitas domiciliares;
Vale transporte;
Alimentação.