Gestantes estão sendo levadas para a Maternidade de Mafra
Edinei Wassoaski
TRÊS BARRAS
Desde quarta-feira, 9, as gestantes de Três Barras não podem ter o filho na Maternidade do Hospital Félix da Costa Gomes. A falta de entendimento entre a direção do Hospital e os médicos plantonistas resultou na suspensão dos serviços de obstetrícia do Hospital.
Segundo o administrador do Hospital, Osnei Adriano de Oliveira, a prefeitura esgotou todas as possibilidades de negociação.
A situação agoniza há meses, tanto que nos últimos três meses, dois dos cinco médicos que atendiam na maternidade pediram demissão. Como ficaram apenas três obstetras, a carga de trabalho aumentou. Descontentes com a situação, depois que mais uma declinou no dia 4 de novembro, deixando apenas duas médicas responsáveis pela maternidade, a situação se tornou insustentável. As duas médicas que estavam trabalhando e outros dois que haviam pedido demissão se reuniram no início da semana para dar um ultimato na direção do Hospital. Ou se recontratava os dois demitidos por um salário maior e igualava os salários das duas que estavam trabalhando, ou todos se demitiriam. Segundo Oliveira, as médicas recebiam R$ 1,25 mil mensais por plantões revezados de segunda a sexta, um final de semana por mês de plantão e cinco horas diárias no Pronto Atendimento. Os médicos pediam equiparação com o piso da categoria, o que aumentaria o salário para R$ 3,5 mil, mais que o dobro do atual. Esse valor seria bruto. Todos os encargos trabalhistas teriam de ser arcados pela prefeitura.
Depois de muita negociação, segundo Oliveira, a prefeitura chegou a oferecer R$ 2,7 mil, mas os médicos não concordaram. “Além de não termos condições, se pagarmos o que eles pedem, outras categorias pedirão isonomia”, alerta Oliveira. Um médico do Estratégias de Saúde da Família, que trabalha 40 horas semanais, por exemplo, ganha hoje R$ 5 mil.
Oliveira adianta ainda que há médicos interessados em trabalhar na maternidade, mas como é fim de ano, as contratações só devem se efetivar em 2010.
Diante da intransigência, não restou alternativa senão suspender os partos e cesáreas. As parturientes estão sendo encaminhadas para Mafra.
MÉDICOS JUSTIFICAM
O CN conversou com três dos médicos que prestavam plantão na maternidade. Nenhum deles quis se identificar, mas todos justificaram a decisão. Além da questão salarial, eles se queixam de falta de repasses do SUS. Hoje, cada procedimento cirúrgico dentro de um hospital credenciado pelo SUS, como é o caso do Félix da Costa Gomes, remunera o hospital de acordo com uma tabela. Um parto normal, por exemplo, repassa um bolo de cerca de R$ 1 mil. O obstetra tem direito a R$ 180 desse bolo. A remuneração, no entanto, não estava sendo repassada aos médicos há meses. “O que acontece é que o hospital tem um déficit mensal de cerca de R$ 19 mil. O (Luiz) Shimoguiri (ex-prefeito) cobria esse rombo, mas o Elói (Quege, atual prefeito) não cobre. O que acontece é que o que vem do SUS é sugado pelo rombo e não é repassado para os médicos”, explicou um dos médicos.
Prefeito Eloi Quege (PP) lamentou a decisão dos médicos e afirmou que não pode pagar o que eles pedem.
CASA DE PARTO
Oliveira disse ainda que a tendência é que a Maternidade de Três Barras se torne uma Casa de Partos. Dessa forma, elimina-se a figura do médico. Enfermeiras do Hospital poderiam realizar o parto.
“E se um bebê entalar e correr risco de morte?”, questiona um dos ex-plantonistas da maternidade.
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