Secretária ataca cirurgiões em carta
A POPULAÇÃO TEM QUE SER INFORMADA
Os hospitais públicos e filantrópicos, que é o caso do nosso Hospital Santa Cruz, de uma maneira geral, são equipados com recursos públicos para que o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) tenham acesso. Mas o que acontece é que esses cidadãos são os últimos da fila. Primeiramente, tem acesso garantido os que têm condições de pagar pelo procedimento, os detentores de planos privados de saúde e em último lugar os pacientes SUS. No Hospital Santa Cruz ainda temos especialidades médicas que estão atendendo uma demanda considerável por meio do SUS. Por ser um hospital de médio porte - o único de Canoinhas - e referência natural para municípios circunvizinhos, não podemos admitir que esta instituição continue a multiplicar dívidas, como vem acontecendo há anos. Resolvemos nos colocar à disposição do Hospital Santa Cruz, para a administração compartilhada, pois o Hospital estava prestes a fechar as portas. Faz pouco tempo que estamos nesta parceria, mas foram necessárias medidas drásticas para que a unidade continuasse de portas abertas. O secretário da Administração de Canoinhas, Argos José Burgardt, diariamente está no hospital administrando as finanças e buscando novas formas para aumentar a receita e controlar os gastos. É uma tarefa trabalhosa e demasiadamente difícil, já que os controles de compras e pagamentos não eram realizados de maneira organizada e as compras eram feitas sem um planejamento adequado, principalmente em relação a equipamentos. Argos está trabalhando para que haja economia de escala e escopo. As mudanças estão acontecendo paulatinamente e a questão do acesso do cidadão aos serviços hospitalares também vai mudar. Temos várias especialidades médicas atuando dentro do Hospital Santa Cruz, mas infelizmente temos grandes problemas com a clínica cirúrgica, pois nem todos os médicos desta clínica estão atendendo uma quantidade considerada ética de cirurgias pelo SUS, já que fazem o uso de equipamentos comprados com recursos públicos para a realização de cirurgias de planos privados e particulares. Sabemos das dificuldades em praticar a tabela SUS e da falta de interesse do Governo Federal em reajustá-la adequadamente, mas sabemos também que um serviço compensa o outro. Pode haver uma compensação entre as cirurgias realizadas pelo SUS. Algumas cirurgias podem dar prejuízo, mas este prejuízo pode ser compensado com outras cirurgias. Também existem diretrizes de boas práticas da medicina a serem seguidas que amenizam esses prejuízos. Se é ruim com o SUS, muito pior para o Hospital seria sem o SUS, já que a receita deste órgão faz a diferença para manter a instituição. O pior de todas essas aberrações, é o uso indevido de um videolaparoscópio que também foi adquirido com recursos públicos e que desde 2004 vem funcionando somente para pacientes que têm planos de saúde ou que pagam por essas cirurgias. Os pacientes procuram a Secretaria Municipal de Saúde indagando se há cirurgia por videolaparoscopia pelo SUS. Nós informamos que sim, basta o médico preencher o laudo para emissão de Autorização de Internamento Hospitalar (AIH), a qual irá gerar o pagamento do procedimento. Mas dois médicos da clínica cirúrgica dizem aos pacientes que não há cirurgia por videolaparoscopia por meio do SUS. No mês de setembro realizaram duas cirurgias, até porque souberam que estamos realizando o levantamento (auditoria) das cirurgias que foram feitas somente para particulares e planos privados. Um dos cirurgiões deu a desculpa que o equipamento não estava credenciado pelo SUS para fazer as cirurgias, mas temos atas de reuniões do Conselho Municipal de Saúde, nas quais estão registradas as discussões e as cobranças para com o sr. Roberto Rosa (administrador do hospital na época) a respeito do videolaparoscópico. A falta de credenciamento é desculpa esfarrapada. O credenciamento é feito na hora, no sistema de informações do Ministério da Saúde. Os funcionários da Secretaria de Saúde de Canoinhas assistiram essas cenas de pacientes correndo atrás de recursos para fazer essas cirurgias. É lógico que o médico não é obrigado a realizar cirurgias pelo SUS, mas que então não faça o uso deste equipamento excluindo o cidadão de baixa renda, pois este equipamento seria de uso prioritário para essa população usuária do SUS. O mesmo acontece com as cirurgias eletivas, ou seja, cirurgias que estão na fila de espera da Secretaria Municipal de Saúde, pois estamos com AIHs sobrando devido à falta de médicos da cirurgia geral para operarem pelo SUS. Um exemplo frequente que aparece na Secretaria de Saúde são pessoas que necessitam operar hérnias e que o médico diz que não há vagas pelo SUS e este cidadão não tem condições de pagar pela cirurgia. Como a agenda para quem paga pelo procedimento é mais rápida, muitos pacientes acabam fazendo empréstimos ou vendendo alguma coisa para fazer o procedimento e se livrar da dor. Não podemos generalizar essa conduta médica, pois temos bons profissionais médicos (a maioria) que atuam com comprometimento no setor público e a população sabe quem são eles. Um exemplo a ser citado são os ortopedistas, que realizam muitas cirurgias por meio do SUS. A maioria dos médicos, principalmente os que têm mais tempo de atuação na saúde pública, são comprometidos e sabem da nossa realidade. É muito difícil gerenciar essas questões, mas não vamos desistir jamais porque a população de Canoinhas e região necessita de acesso aos serviços públicos de saúde e nós, gestores deste sistema, temos de ter forças para o enfrentamento destes abusos. Será que a impunidade vai vencer mais uma vez? Será que podemos contar com mais autoridades que defendam a população carente? Certamente recebamos ameaças ou sejamos processados por falarmos a verdade. Mas não estamos preocupados, pois a nossa atenção vai além desta picuinha, estamos comprometidos com os problemas da população e, além de tudo, estamos amparados por defender o uso indevido de equipamentos públicos e a negativa de acesso da população a procedimentos cirúrgicos pelo SUS. E se for necessário processar devido alguma espécie de “ofensa”, assim o faremos. Estamos no fiel cumprimento do Pacto em Defesa do SUS.
A saúde pública de Canoinhas está satisfeita com a recente vinda de um cirurgião geral e cancerologista, Dr. Marcos Sussembach, que veio neste espírito entendendo a necessidade de sua participação no SUS como profissional médico, tanto assim é que ele está dando vazão à fila de espera das cirurgias eletivas de Canoinhas, as quais foram represadas por falta deste espírito pelos dois cirurgiões já citados. Há espaço para todos os profissionais médicos que desejarem ingressar no mercado de trabalho em Canoinhas e região. É lógico que um hospital não sobrevive somente com a realização de procedimentos do SUS, mas que o bom senso deveria ser praticado. Os equipamentos públicos deveriam ser usados de forma ética (honesta), ou seja, nada impede que sejam usados na medicina privada, desde que também tivessem a sua utilização revertida ao serviço público.
Telma Regina Bley – Secretária Municipal de Saúde
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