Morte de operária de 26 anos na quarta-feira, 19, reforça o triste número
CANOINHAS ? Na manhã de quarta-feira, 19, Gilvana Fernandes, 26 anos, engrossou uma triste estatística registrada pelo Pronto Atendimento de Canoinhas. Pelo menos um acidente de trabalho é registrado por dia na cidade. No caso de Gilvana, mãe de duas filhas, moradora do bairro Campo d?Água Verde, um acidente de proporções irreversíveis. Ela foi esmagada da cintura para baixo por uma empilhadeira na Empresa Cisframa, enquanto trabalhava. O veículo estava com os garfos carregados de madeira, o que impossibilitou a visão do manobrista. Quando ele se deu conta, o veículo havia atropelado e esmagado Gilvana que faleceu pouco tempo depois.
DOR E SEQUELAS
Os acidentes de trabalho, geralmente, acontecem por um segundo de distração ou por falta de equipamentos de segurança e não se limitam as empresas. No mês passado, em um só dia, o Corpo de Bombeiros levou para o PA, duas pessoas que se machucaram fazendo manutenção no telhado de um prédio.
Os acidentes de trabalho são uma ?novela sem fim?, e com novos protagonistas a cada dia. No caso dos que morrem, sofre a família, que terá de lutar para superar a falta de um ente querido. Para os que conseguem sobreviver, resta o ostracismo e a sensação de inutilidade. Quando se perde apenas um dedo, o retorno ao mercado do trabalho ainda é acessível. Não é o caso de Edson Pinto, que há três anos luta na Justiça para ser ressarcido pela perda de um braço e de um dedo, além de diversos cortes profundos.
Em uma manhã de 2003, Edson limpava um picador de madeira, quando seu companheiro de trabalho ligou a máquina sem perceber que o braço de Edson estava entre as facas que se movimentam automaticamente. As lâminas afiadas deceparam o braço de Edson em uma fração de segundo. ?O choque na hora foi tamanho que não senti dor. Ainda peguei meu braço com a outra mão e disse ao meu companheiro ?Você acabou com a minha vida??, recorda Edson.
Edson usava luvas, protetor auricular e avental, tal como manda a Lei trabalhista. Mas num caso como o seu, ele admite que nenhum equipamento de segurança seria capaz de salvar seu braço. Além do braço direito, Edson perdeu um dedo e teve vários cortes no braço esquerdo, que acabou infeccionando. ?Quase perdi o outro braço também?, conta. Hoje, luta para conseguir um braço mecânico do Estado. Sua renda vem da aposentadoria que a Previdência Social lhe paga.
Se hoje está tudo bem? Edson responde que tirando o preconceito, a dor lacerante que sente no que sobrou do braço, especialmente no inverno, e a falta que sente do braço, não dá pra se queixar.
ESTATÍSTICAS
De acordo com dados do Dataprev, somente em Santa Catarina, em 2004, do total médio de vínculos empregatícios, 24,53% se acidentaram na indústria. Desses, 23,47% ficaram incapacitados fisicamente e 11,99% morreram. 59,78% dos acidentados estavam na faixa etária entre 16 e 34 anos, ou seja, com toda a carreira profissional pela frente. Santa Catarina está no topo da lista dos Estados com maior incidência de acidentes de trabalho, em relação a 2004. Na seqüência vem os Estados de Rio Grande do Sul e São Paulo. Também ocupamos o primeiro lugar no ranking dos Estados com maior índice de incapacitados. Apenas em taxa de mortalidade perdemos para outros 15 Estados. Rondônia lidera o ranking com taxa de 38,19% de mortalidade decorrente de acidentes de trabalho.
Traduzindo a região em números, em 2004, ocorreram 30.082 acidentes em Santa Catarina. A maioria em empresas de Joinville (3.373). Blumenau, Florianópolis e São Bento do Sul vem logo em seguida. Mafra ocupa a 25.ª colocação com 231 acidentes e Canoinhas a 26.ª posição com 216 acidentes registrados.
Joinville ocupa a 1.ª colocação também em taxa de mortalidade. 16 pessoas morreram por conta de acidentes de trabalho na cidade. No Planalto Norte, apenas Mafra, Canoinhas e Porto União registraram mortes. Duas em Mafra e uma em Porto União e Canoinhas.
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