Ao contrário do que afirma a direção, pai diz que levou esposa três vezes ao Pronto Atendimento Municipal

TRÊS BARRAS ? Imagine esperar nove meses pelo nascimento da segunda filha e depois de muita expectativa ver o bebê de 3,1 quilos morrer em 22 horas, depois de um parto de risco por conta de um atraso?

 Foi isso o que aconteceu com o pintor de parede João Edson Raimundo, 32 anos, e Risolete Silva Gordia, 30 anos, no final do mês de janeiro.

O martírio do casal começou no dia 25 de janeiro, uma quinta-feira.  De acordo com João, ele teria levado a mulher que sentia as dores do parto, até o plantão do Hospital Félix da Costa Gomes, em Três Barras, que é de responsabilidade da prefeitura. Risolete teria sido atendida por um clínico geral, que estava no plantão e havia receitado remédios para dor, recomendando que Risolete retornasse no dia seguinte para consultar com sua ginecologista.

Às 10 horas do dia seguinte, Risolete consultou com a médica que a examinou e constatou que ela não apresentava dor, nem perda de líquido naquele momento e que a criança apresentava movimentos fetais normais e batimentos cardíacos normais. Esta versão é da ginecologista, que diz ainda ter orientado Risolete a procurar o Hospital se apresentasse dor efetiva, perda de líquido ou tivesse movimento fetal diminuído.

Risolete voltou a sentir dores às 3 da manhã de sábado, 27, e, seguindo orientação de sua ginecologista, procurou o plantão, sendo atendida, novamente, pelo mesmo clínico geral, que voltou a receitar medicação para dor, sem examiná-la, de acordo com João.

Por ter sentido dores o resto da noite, Risolete voltou ao hospital na manhã seguinte com dores e queixa de perda de líquido verde. De acordo com João, ela foi examinada por outro clínico geral, que disse que a criança levaria de dois a três dias para nascer. De acordo com o médico, segundo João, o líquido teria esvaído por perda do tampão, sinais de que poderia estar entrando em trabalho de parto. O casal voltou para casa, mas as dores não cessaram.

Às 22 horas do mesmo dia, Risolete, pela terceira vez, voltou ao hospital de Três Barras e, por falta de obstetra, foi encaminhada ao Hospital Santa Cruz, de Canoinhas, onde chegou por volta de meia-noite e meia.

A obstetra que estava de plantão foi chamada e fez a cesárea por volta da 1 da manhã. De acordo com a obstetra que conversou com nossa reportagem, mas preferiu não publicar seu nome, a cesárea apresentava risco, tanto para a paciente que estava com pressão alta, quanto para o bebê, que já estava com mecônio (líquido verde devido presença de fezes no líquido). ?Só me restava operar a paciente, tirar a criança, aspirá-la e chamar o pediatra?, afirmou. A obstetra diz que avisou a família de que mãe e filha corriam risco.

No dia seguinte, por volta das 10 horas, o pediatra conversou com João, explicando o quadro delicado da pequena Caroline, nome que os pais haviam escolhido para a menina, e que por isso deveria ser transferida para Itajaí. Às 21 horas do mesmo dia, foi tentada uma drenagem nos pulmões da criança, mas ela não resistiu e acabou morrendo.

A obstetra diz que esteve no Hospital no dia seguinte e se colocou à disposição da família para esclarecer qualquer dúvida. A médica registrou todas as condições de como a paciente chegou ao plantão de Canoinhas e detalhes da cesárea em prontuário que foi entregue a João e motivou um boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Polícia de Três Barras contra o Pronto Atendimento do Hospital Félix da Costa Gomes.

 

DEFESA

 

Há duas semanas, a direção do Hospital Felix da Costa Gomes disse por meio de nota publicada no CN, que ?o parto ocorreu na Maternidade de Canoinhas em razão de que os médicos plantonistas  de ambos os municípios firmaram um acordo, para aquele período (sábado e domingo), de que os partos de Três Barras seriam realizados em Canoinhas? e negou a versão dos pais de Caroline, dizendo que ?a gestante em nenhum instante foi atendida na Maternidade de Três Barras?.

Ainda segundo a nota, ?somente no sábado à noite (27), após solicitação da equipe do PA de Três Barras, a equipe da Maternidade foi avisada, quando então encaminhou a gestante para o plantão da Maternidade de Canoinhas  em razão do acordo citado?.

O diretor do Hospital Félix da Costa Gomes, Osnei Adriano de Oliveira, voltou a afirmar as declarações da nota na manhã de ontem.

De acordo com a secretária municipal de Saúde, Ana Claudia Quege, todos os pacientes que chegam ao PA, caso necessitem de atendimento especializado, são encaminhados pelos clínicos gerais, que atendem no plantão, ao especialista de sobreaviso.

Caso o médico não julgue necessário, ele mesmo medica. No entanto, a secretária diz ter feito a denúncia do caso a Delegacia de Polícia porque não cabe a ela julgar procedimentos médicos.