Delegado da Comarca alerta para falta de prevenção contra furtos por parte da população

Edinei Wassoaski

CANOINHAS -

 

Canoinhas nunca teve de fato um delegado de Comarca. Por isso, Rui Orestes Kuchnir, que assumiu a Delegacia no final de 2008, se apresenta como um verdadeiro marco para a história da Polícia local. Nas últimas décadas, vários delegados passaram pela Comarca, mas mal assumiam, deixavam o cargo. Dessa forma, o comissário Levi Rosa Peres, morto em 2007, acabou cumprindo por anos as vezes de delegado. Canoinhense, formado em Direito pela Universidade do Contestado (UnC), casado com uma policial de Três Barras e com família em Canoinhas, Kuchnir garante que tem vontade de permanecer na cidade, salvo uma ordem superior o remeta a outra Comarca. Na entrevista abaixo, o delegado traça um perfil do crime na Comarca e alerta a população sobre medidas simples que podem conter o crime que acontece com maior frequência na Comarca ? furtos. Acompanhe.

 

O senhor já atuou na Delegacia de Canoinhas anos atrás. O que mudou de lá pra cá?

O cargo que eu ocupava é completamente diferente do atual. Comecei a atuar na Delegacia de Canoinhas em 1995 no cargo de técnico em necropsia (na época o IML era vinculado a Delegacia), trabalhava no plantão, em cartório, fazia um pouco de tudo. Em 2005 houve uma desvinculação do IML da Polícia Civil. Por força de Lei, tive de ficar somente no IML. Antes disso, em 2003, eu havia terminado a faculdade de Direito e comecei a prestar uma série de concursos, pelo Brasil inteiro. Fui aprovado em Santa Catarina para delegado e ano passado entrei na academia.

 

A principal mudança que o senhor deve ter sentido foi quanto à estrutura.

Com certeza. Quando eu entrei na Polícia Civil a gente fazia boletim de ocorrência com máquina de escrever. Sem contar que a Delegacia funcionava em um prédio bem menor. Hoje temos mais viaturas, mais policiais e um prédio melhor. Hoje temos condições de fazer um bom trabalho, desde que se queira, claro.

 

Qual crime o senhor percebe como mais comum na Comarca?

A maioria dos crimes ocorridos aqui é relacionada a furtos, relacionados a uso de drogas. São pequenos traficantes. Não temos grandes traficantes, como Florianópolis. São pessoas que começam a viver do tráfico. Compram uma pedra de crack, fumam e revendem pra poder comprar de novo e quando não tem dinheiro para comprar drogas, recorrem ao furto.

 

Que tipo de ação preventiva pode ser tomada para combater os furtos?

Hoje em dia poucas pessoas protegem seu patrimônio. Não colocam alarme, saem de casa e deixam portas abertas. Se você não cuidar do seu patrimônio, a Polícia não tem como cuidar. O pessoal do interior, principalmente, tem pouco cuidado.

A cidade cresceu e as pessoas acham que ainda podem deixar o carro aberto com a chave na ignição no centro da cidade. Temos de proteger nossos bens.

 

A prevenção depende exclusivamente da sociedade?

Depende da sociedade. A pessoa furta por necessidade. Quem se acostumou a não trabalhar, vai furtar pra sobreviver. Então se você não proteger teu bem, a Polícia não tem como ficar fazendo rondas pra proteger. O furto não rende prisão por muito tempo, os presídios estão abarrotados de gente. A preferência se dá a delitos mais graves. Se for prender todos os furtadores não vai ter espaço, então o que se tem de fazer é prevenir. A Polícia pode intensificar as rondas, mas isso é serviço da Polícia Militar, a Polícia Civil só vai atuar depois que o crime ocorreu.

Há muitos casos de boletins de ocorrências de furtos em que a pessoa relata que saiu por meia hora, deixou a casa aberta e quando voltou encontrou a casa saqueada. É preciso se proteger. Os moradores da rua Francisco de Paula Pereira, por exemplo, se queixam de vandalismo e furtos, o que custa a própria população contratar um vigia noturno para ficar fazendo rondas de madrugada. Se o vigia ver algum suspeito, liga pra Polícia. Muitas vezes a Polícia passa por ali, mas no intervalo entre uma ronda e outra acontece o crime. Se deixar por conta da Polícia, ela vai fazer o que pode. Poucas pessoas sabem, mas o serviço preventivo é da Polícia Militar, a Polícia Civil atua como Polícia judiciária, só atua depois do crime cometido.

 

O senhor é a favor do trabalho conjunto entre Polícias Civil e Militar?

Sim. Já estamos conversando a respeito com o tenente coronel Assis.

 

Os homicídios na Comarca são poucos (cinco em 2008), mas quando ocorrem são marcados por requintes de crueldade. A que se deve isso, na sua opinião?

Consumo de álcool combinada com resquícios do Contestado. Há um entendimento, ainda, de que homem tem de andar armado e vingar-se. Os homicídios aqui são diferentes dos ocorridos em grandes cidades, onde se mata por queima de arquivo, por drogas. A maioria dos homicidas se apresenta depois do crime. Noventa por cento são solucionados, em média.