Crime que aconteceu em igreja de Joinville, chocou o País pelos requintes de crueldade

CANOINHAS ? Um dos crimes mais bárbaros registrados em Santa Catarina nos últimos anos teve desfecho em Canoinhas na tarde de segunda-feira, 12.

A prisão do pedreiro Oscar Gonçalves do Rosário, de 22 anos, pôs fim ao inquérito policial aberto há duas semanas. Oscar estava hospedado na casa dos pais, onde moram outros três irmãos, todos menores, no bairro Cristo Rei e foi preso por policiais de Canoinhas em auxílio a uma diligência da Polícia Civil de Joinville, responsável pelo inquérito.

Oscar confessou o assassinato da menina Gabrielli Cristina Eichholz, de um ano e seis meses. Ela estava brincando sozinha no pátio externo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na manhã do sábado, 3, em Joinville, quando Oscar teria estrangulado e depois jogado Gabrielli na pia batismal da igreja lotada de fiéis. Quando encontrada estava agonizando, chegou a ser levada ao Hospital, mas morreu no caminho.

Ao ser preso no início da tarde de segunda-feira, dormindo, Oscar não esboçou qualquer reação. Na Delegacia, não demorou a confessar o crime ao delegado da Divisão de Homicídios de Joinville, Rodrigo Bueno Gusso. Rosário está com prisão preventiva decretada pela 1ª Vara Criminal de Joinville.
O pedreiro estava na listas de suspeitos da Polícia porque testemunhas afirmaram que ele saiu às pressas de Joinville no mesmo dia do crime. Ele teria praticado furto em uma igreja em Joinville e teria trabalhado como pedreiro em uma obra da própria Igreja onde o crime aconteceu, o que foi afirmado pelo avô da criança assassinada, mas negado por Rosário que disse que não freqüentava a Igreja Adventista, nem estava no culto. Segundo seu depoimento à Polícia, ele passava pelo local quando viu Gabrielli brincando no pátio, do lado de fora da Igreja. Oscar teria tentado justificar o crime dizendo que estava bêbado.

A Polícia disse que não revelaria detalhes do seu depoimento preliminar, ainda na Delegacia de Canoinhas, por considerar um relato forte. O delegado encarregado pelo inquérito proibiu a presença da imprensa na Delegacia enquanto Rosário prestava depoimento. A saída da diligência para Joinville aconteceu de forma discreta, pelos fundos da Delegacia.

Oscar tinha ficha na Delegacia de Canoinhas por prática de pequenos furtos. Foi trabalhar em Joinville em dezembro passado e ficou hospedado na casa de familiares.
O acusado chegou a Joinville ainda na noite de segunda-feira sob forte aparato policial. Quatro delegados e cerca de 20 policiais fizeram parte do comboio que levou Oscar até a Delegacia Regional. Ele chegou na Delegacia encapuzado e misturado a outros policiais, que também vestiam capuz. A polícia informou que não está definido em qual local ele ficará preso, por temer por sua segurança. Com a confissão do pedreiro de Canoinhas, o caso foi considerado encerrado pela Polícia.

REPERCUSSÃO NACIONAL

O caso ganhou repercussão nacional. Foi a primeira notícia dada pelo jornal Bom Dia Brasil da Rede Globo na terça-feira, 12. A reportagem foi repetida nos jornais Hoje, Jornal Nacional e Jornal da Globo. Matérias foram publicadas nos principais veículos de mídia do País. A prisão foi matéria de capa dos jornais Diário Catarinense e A Notícia.

A versão eletrônica do jornal Folha de S. Paulo, destacou a prisão, tratando Oscar como suspeito, não revelando sua naturalidade. O site Último Segundo, do grupo IG, também manteve cautela ao lembrar que Oscar é suspeito, mas não omitiu o fato de ele ser canoinhense. O jornal Zero Hora, o maior do Sul do Brasil, acrescentou ainda que Oscar era viciado em drogas.

A Agência Estado, responsável pela publicação do jornal O Estado de S.Paulo, lembrou que Oscar foi acusado há dois anos de ter molestado duas meninas com 9 e 10 anos. As mães das meninas, no entanto, teriam decidido por não registrar queixa. À agência, o delegado Gusso teria revelado detalhes do depoimento. Oscar teria confessado o crime com grande frieza e naturalidade, segundo o delegado. De acordo com a reportagem, ele teria dito que nunca tinha estado no local e que nem sabia que a pia, que é usada para imersão total no momento da cerimônia de batismo, era lugar de batismo dos fiéis. Para o acusado, segundo o delegado, era simplesmente uma banheira.

MÃE DE OSCAR TERIA TENTADO SUICÍDIO

Ao saber que o filho seria o assassino da pequena Gabrielli, a mãe de Oscar, Gracilda Tavares do Rosário teria tentado suicídio com uma faca, sendo impedida pelo marido, informou o jornal Diário Catarinense de terça-feira, 13. ?Não estou chorando mais porque não tenho o que chorar? disse Gracilda à reportagem.

Gracilda trabalha como doméstica e foi avisada pelo marido, que é operário de uma madeireira, da prisão do filho. Bastante abalada, disse que não havia conseguido falar com ele após a detenção, mas que, em momento algum, desconfiou que o filho pudesse estar envolvido num crime bárbaro.
Na casa dos pais, Oscar dormia no mesmo quarto dos irmãos. A mãe disse que, ao saber do motivo da prisão, chegou a perguntar para as duas meninas, uma de 15 e outra de 12 anos, sobre possíveis assédios do irmão, mas elas afirmaram que nunca aconteceu nada.
Em Joinville, o acusado morava com parentes e, na noite do dia 2, véspera do crime, o cunhado de Gracilda havia telefonado, avisando que Oscar retornaria para casa no dia seguinte.
Para a família de Gabrielli, Gracilda disse que sente muito pelo erro do filho, e que é solidária na dor.

Na terça-feira pela manhã, a Polícia fez a reconstituição do crime, com a participação de Oscar.

 

O CASO GABRIELLI

SÁBADO - 3/3
8h40 - Casal de primos leva Gabrielli à igreja.

9 horas - Gabrielli fica na sala de estudos.

10 horas - A prima percebe que a garota sumiu. Uma senhora a acha de bruços no tanque batismal.

10h30 - Gabrielli chega sem vida ao hospital.

11 horas - Um primeiro suspeito é detido e solto.


DOMINGO - 4/3
Tarde - Laudo confirma que ela foi vítima de violência sexual e estrangulamento.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia divulga nota repudiando o crime.

SEGUNDA-FEIRA - 5/3
A polícia e a imprensa têm acesso ao templo.

Em Alegrete (RS), outro suspeito é detido, ouvido e liberado.

QUARTA-FEIRA - 7/3
Polícia convoca um adolescente a retirar sangue para exame de DNA. O advogado Sandro Tonial é contratado pela família.

QUINTA-FEIRA - 8/3
Chefe da Polícia Civil, o canoinhense Maurício Eskudlark, diz que um adolescente de 17 anos é o principal suspeito.

SEXTA-FEIRA - 9/3
Polícia joinvillense se nega a divulgar resultado exame de DNA do principal suspeito e ouve novos depoimentos.

SEGUNDA-FEIRA - 12/3
O pedreiro de 22 anos é preso em Canoinhas.