Leandro da Silva, 26 anos, nega ter assassinado o empresário
CANOINHAS ? Mesmo que em aberto, foi definido na quarta-feira, 21, depois de um julgamento que durou mais de 10 horas, um dos casos mais intrigantes da crônica policial canoinhense.
O mecânico Leandro da Silva, 26 anos, foi condenado a 16 anos de prisão em regime fechado. O júri presidido pelo juiz Gustavo Henrique Aracheski, decidiu por 6 votos a 1 pela condenação de Leandro.
Leandro é acusado de matar à queima-roupa o ex-gerente do HSBC Bamerindus, Gilmar Ghettino, 46 anos, em 24 de novembro de 2004. Nesse dia, Ghettino, que no momento trabalhava com factoring (prestação contínua de serviços, conjugada com aquisição de créditos de empresas, resultante de suas vendas mercantis ou prestação de serviços a prazo) foi assassinado com oito tiros, no escritório de advocacia de Angelo Tokarski.
Gilmar conversava com o advogado quando Leandro, vestindo roupa de couro preta, sem tirar o capacete, nem levantar a viseira, teria entrado na recepção do escritório, feito sinal com a mão para a secretária Katiane Soares Lourenço ficar parada e teria invadido a sala do advogado. Repetindo para Angelo o gesto que fez a secretária, ele teria disparado oito tiros com uma pistola semi-automática calibre 7,65 com silenciador contra Gilmar. Três dos tiros atingiram a cabeça do ex-bancário. Outros três tiros atingiram o seu tórax, um a mão direita e um o ombro esquerdo, levando-o a morte instantânea. O assassino fugiu logo em seguida, em alta velocidade.
DEFESA
A defesa de Leandro, feita pelo advogado Munir Rocelande de Andrade, se baseou na falta de provas contra seu cliente. Uma das supostas evidências apresentadas por Andrade é de que o assassino, conforme as testemunhas, teria atirado com a mão esquerda e que, de acordo com demonstração feita diante do júri, Leandro é destro. ?Não existe evidência de que Leandro tenha recebido dinheiro para matar e a secretária Katiane não reconhece seu perfil físico como sendo do assassino?, declarou Andrade.
Leandro, no entanto, entrou por diversas vezes em contradição ao depor diante do júri. Preso desde dezembro de 2004, o mecânico negou que tivesse atribuído o crime a Sinézio Ranchuk em depoimento prestado a Polícia logo depois de preso. Negou também que conhecesse a vítima, contradizendo mais uma vez o que disse em depoimento anterior, quando relatou que havia encontrado ?um agiota canoinhense? em um posto de combustíveis de Monte Castelo, um dia antes do crime.
A motocicleta, uma das principais evidências usadas pela acusação, de acordo com Leandro, ficou somente 24 horas em seu poder. Ela teria sido usada na transação de um automóvel Monza, no dia seguinte ao crime.
MAIS CONTRADIÇÕES
Leandro não foi convincente ao explicar a origem de R$ 38 mil, pago por uma casa em Papanduva. Primeiro disse que o dinheiro vinha de uma suposta herança da família de sua amásia para depois afirmar que o dinheiro era fruto de uma suposta dívida que os irmãos de sua amásia tinham com ela. O réu justificou ainda que ganhou R$ 65 mil com a venda de dois tratores supostamente roubados que ele receptou e pelos quais ele responde a um segundo processo.
Depois de negar que tivesse tentado vender uma arma, Leandro reconheceu ter oferecido um revólver calibre 38 a um homem identificado como Caché, em Monte Castelo, onde nove meses antes de ser preso, Leandro havia aberto uma oficina. Disse que havia comprado a arma depois de se desentender com o ex-namorado de sua amásia.
Leandro reconheceu que, a pedido de um amigo conhecido como Zezinho, teria trocado um cheque com Vande Andrade, conhecido por fazer empréstimos, a exemplo de Guethino, assassinado em outubro passado. Em depoimento anterior, Leandro disse que Zezinho estava sendo pressionado pelo agiota.
ACUSAÇÕES
Pela primeira vez, depois de inúmeros depoimentos, Leandro disse que foi espancado por policiais civis e que recebeu proposta de suborno de um comissário e de um advogado. ?Eles me pediram R$ 20 mil para me deixarem fugir?, declarou. Quanto à surra, Leandro disse que a violência foi tanta que precisou ficar dez dias internado no Hospital Santa Cruz, por não sentir as próprias pernas. Disse ainda que o médico ortopedista Marcelo Galotti o atendeu e afirmou que testemunharia a seu favor num possível processo judicial.
Galotti disse ontem que realmente atendeu Leandro em dezembro de 2004, por conta de diversas lesões e que voltará a falar sobre o caso somente se for intimado pela Justiça.
Como já cumpriu um ano e meio da pena, Leandro deve permanecer apenas 10 meses na prisão. Com um sexto da pena completo, ele pode pedir relaxamento da pena para regime semi-aberto. Andrade, advogado do réu, declarou que irá recorrer da sentença e deve pedir transferência de seu cliente do Presídio Regional de Mafra para Tijucas, onde mora a família de Leandro.
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