Defesa promete recorrer da decisão; julgamento durou dez horas

CANOINHAS - Edinei Lopes de Souza, 31 anos, um dos acusados de ter participado do assassinato do ex-vereador de Major Vieira, Jair Iarrocheski (PP), em abril de 2005, foi condenado a 19 anos de prisão na noite de quarta-feira, 13. O julgamento começou às 9 horas e se prolongou até às 20 horas, apenas com uma hora de intervalo para almoço.

Lopes foi condenado a 17 anos de prisão pelo crime de homicídio, acrescido de mais dois anos pelos crimes de ocultação de cadáver e seqüestro.

Ele já cumpriu dois anos da pena enquanto aguardava julgamento.

O restante da pena deve cumprir na Penitenciária de São José dos Pinhais-PR.

A advogada de defesa de Lopes, Gisele Reis, prometeu recorrer da sentença imposta pelo júri.

 

DEFESA

 

A defesa de Lopes foi embasada em um testemunho de um senhor que dizia ter visto Lopes no dia do seqüestro de Iarrocheski, em uma igreja, em Curitiba-PR, cidade onde morava. ?Fiquei chocada de o júri ter ignorado o fato de ser impossível uma pessoa estar em dois lugares ao mesmo tempo?, disse à imprensa logo após a sentença ter sido lida. Até o último momento, a defesa tentou transferir o julgamento para Curitiba, considerando que Lopes morava na Capital paranaense antes do crime, mas não conseguiu. O objetivo era obter um julgamento longe da região onde o crime aconteceu, com um júri que não tenha acompanhado o caso na época dos fatos.

Para justificar a vinda de Lopes a Canoinhas, a defesa alegou que ele pretendia abrir um negócio na cidade e que teria alugado a casa na qual foram encontradas evidências de sua participação no crime, para iniciar seus negócios na cidade. A defesa lembrou ainda que uma ex-funcionária de Henning, condenado por ser o mandante do crime, que teria dito que Edinei teria ido procurar o patrão em Major Vieira, se apresentando como palestrante, jamais foi ouvida em juízo, apenas na Delegacia de Polícia.

 

ACUSAÇÃO

 

O promotor Alan Boetger teve ajuda do advogado José Álvaro Machado, contratado pela família, durante o julgamento.

Enquanto Boetger usou um discurso mais moderado, Machado foi enfático na acusação que reuniu uma série de evidências. O depósito de R$ 9 mil na conta de Gisele Gomes Feitosa, companheira de Lopes, sem justificativa aparente, à época dos fatos, foi a mais contundente. A situação do réu ficou ainda mais complicada quando em depoimento, Gisele disse que este dinheiro foi usado para pagar advogados e uma dívida que o casal tinha com seu padrasto. Pouco antes, Lopes teria dito que o dinheiro foi entregue a um policial como pagamento para livrá-lo da cadeia.

Na casa alugada por Henning, onde Edinei foi preso, foi encontrado o estepe do carro onde havia vestígios de sangue de Iarrocheski. Outro testemunho decisivo foi o do jovem Diego Fillus, funcionário de Iarrocheski, seqüestrado com ele, que reconheceu a voz de Lopes como sendo de um dos seqüestradores.

Machado chegou a mostrar fotos da cabeça decepada de Iarrocheski, a fim de sensibilizar os jurados. ?Não há dúvidas que Gláucio mandou matar; Não há dúvidas que Edinei é um dos executores?, concluiu.

Lopes já havia sido condenado por um latrocínio e fez parte de uma quadrilha de roubo de veículos de Curitiba.

 

 

CONDENAÇÃO DE MANDANTE É IRRECORRÍVEL

 

Lopes é o segundo condenado pelo crime. Em 31 de outubro de 2006 o júri popular condenou o também ex-vereador de Major Vieira, Gláucio Henning, a 14 anos de prisão em regime fechado por co-autoria da morte de Iarrocheski, e a um ano de prisão pelo seqüestro de Iarrocheski e de seu empregado.

Henning negou a participação no crime durante todo o julgamento.

Fatos irrefutáveis como o aluguel da casa que abrigou os acusados de matar Iarrocheski e 48 telefonemas de Henning a Lopes, dias antes do crime, complicaram o ex-vereador.

Na casa de Henning foram encontrados documentos relacionados à locação da casa. O ex-vereador alega que a esposa de Lopes era sua amante, e ele teria alugado a casa para ela. Lopes não confirma esta versão.

Outros dois acusados do crime, Vantuir Ferreira de Araújo e Eloi Ferreira de Araújo, irmãos, estão foragidos da justiça. Eloi nem chegou a ser preso enquanto que Vatuir fugiu do Presídio Regional de Mafra em dezembro passado.

Lopes também chegou a fugir. Depois de passar um ano no Presídio Regional de Mafra, fugiu em abril de 2006, mas foi recapturado dias depois.

 

Suspeitas de outras pessoas envolvidas

 

Dr. Gustavo Henrique Aracheski, que presidiu o júri, comentou logo depois de ler a sentença, as suspeitas de que mais pessoas estariam envolvidas no crime. ?Enquanto não há denúncia, não podemos expor ninguém, seja quem for, a constrangimento público, baseados em boatos?, alertou.

Para o advogado de acusação, não há dúvidas. Machado lembrou que a situação financeira de Henning à época dos fatos, não era nada boa, o que levanta suspeitas de onde ele teria retirado o dinheiro para pagar os assassinos.

Como os dois eram políticos, Machado acha natural que a motivação vá além da denúncia feita por Iarrocheski a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) de crimes ambientais cometidos por Henning. ?Os dois eram vereadores de partidos opostos, Iarrocheski era o único vereador de oposição na Câmara, havia feito uma série de denúncias relacionadas a políticos, não somente contra o Gláucio?, lembrou o advogado.