Droga altamente viciante ganhou território de forma surpreendente em Canoinhas e Três Barras; Problema de bairros pobres? Não! Clientes vêm de todas as classes

Edinei Wassoaski

CANOINHAS/TRÊS BARRAS

 

Dois rapazes andam lado a lado por uma das ruas do bairro São Cristóvão, em Três Barras, por volta das 16 horas de quarta-feira, 4. Sem dizer palavra, um deles, mais velho, repassa algo para a mão do mais novo, aparentando 20 anos. O rapaz coloca a substância minúscula dentro de um cachimbo e com um isqueiro acende o cachimbo no meio da rua. As pessoas que passam ficam indiferentes à cena testemunhada pela reportagem do CN.

Tanto traficante quanto usuário transitam livremente pelo bairro, que junto com o Campo d?Água Verde e o Morro da Fumaça, em Canoinhas, se tornou referência no tráfico de drogas. Foi no São Cristóvão que surgiram, no entanto, as primeiras ocorrências envolvendo uma das drogas mais letais: o crack. Barata, comercializada geralmente entre R$ 5 a R$ 10 a pedra, dependendo do tamanho, que muitas vezes não pesa nem dois gramas, a droga é devastadora. Derivada da planta de coca, o crack é feito do que sobra do refinamento da merla, que é sobra do refinamento da cocaína, ou da pasta não refinada misturada ao bicarbonato de sódio e água. O fato de ser um descarte da cocaína produz dois efeitos contraditórios: É bem mais barato que as demais drogas, mas por outro lado vicia com uma facilidade que espanta os estudiosos do assunto. Em uma simples tragada, o usuário pode cair no vício.

Foi o que aconteceu com Marcelo*. De família humilde, sem formação profissional, viu as oportunidades se afunilarem à medida que desistiu dos estudos. A fossa social em que entrou o colocou de frente para a maconha. ?Quando experimentava, nos momentos de euforia, nem se lembrava de quem eu era?.

Pro volta de 2004, Marcelo já não era um usuário satisfeito com a maconha. A cocaína era muito cara, mas o mercado das drogas pensou numa alternativa para o perfil de clientes como ele. Foi justamente na transição de século que começaram a aparecer as primeiras pedras de crack na região. Para muitos, a droga é somente uma derivação da cocaína, mas sua letalidade e difusão superaram a mãe nobre. O nome é uma onomatopéia inspirada pelos estalos emitidos na queima das lascas.

Foi pouco depois do advento do crack na região que Marcelo tomou contato com a droga. ?O efeito é tão rápido que você quer logo outra pedra?, conta. Hoje, aos 26 anos, Marcelo é somente um resquício do que foi um dia. Ossos da face salientes, braços e pernas finos, costelas aparentes e cheiro forte, indícios clássicos de usuários de crack. Nas idas e vindas em busca de ajuda, as recaídas foram incontáveis. Em 2005, aconteceu a primeira prisão por furto. Furtou para comprar crack. Depois de um tempo na cadeia, o retorno foi muito mais difícil. O preconceito inerente a ex-presidiários tornou seus dias ainda mais difíceis.

A fissura (vontade de consumir a droga) o levou a furtar da própria família. ?Teve dias em que eu queimei 15, 20 pedras?. Depois do segundo furto malsucedido e mais uma temporada no Presídio de Mafra, Marcelo aceitou ajuda e se internou em uma clínica de recuperação de Canoinhas. Acabou brigando com um monitor e saiu da casa. Foi parar nas ruas e hoje está internado em outra clinica de recuperação. ?Não é fácil (se livrar das drogas), mas a gente tem de tentar?, diz, sem deixar de citar Deus como seu ?guia?. ?Quero recomeçar!?.

 

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