Veredicto saiu depois de 22 horas de julgamento em Joinville
Rogério Giessel/especial para o CN
Edinei Wassoaski
JOINVILLE
A demora na chegada de uma testemunha atrasou em quase uma hora o início do julgamento do pedreiro canoinhense Oscar Gonçalves do Rosário, ontem pela manhã, no Tribunal do Júri de Joinville. Sem algemas e com colete a prova de balas, Oscar estava apreensivo.
A primeira testemunha de acusação a depor foi o delegado Dirceu Siveira Junior, que respondeu às perguntas da promotoria. Perguntado se durante a reconstituição dos fatos foi percebida alguma forma de violência praticada contra Oscar, Dirceu alegou que outros policiais estavam presentes na reconstituição. Segundo o delegado, o Ministério Público também foi convocado. Dirceu respondeu sobre a forma como chegou a Oscar, afirmando que o PM Aldo Jailson Souza, que tem família em Canoinhas, teria falado sobre Oscar, estranhando o fato de o pedreiro ter saído de Joinville no dia da morte da menina.
O advogado de defesa Norberto da Silva Gomes fez uma série de perguntas a Dirceu que foram indeferidas pelo juiz Renato Roberge, que preside o júri.
Jean Pierre, agente prisional do Presídio Regional de Joinville foi a segunda testemunha a depor. Ele afirmou que ouviu de Oscar a confissão do crime. O pedreiro teria dito que penetrou a menina no ânus, tapando sua boca com a mão. Ainda de acordo com o agente, Oscar teria contado que a menina ainda estava viva quando ele a mergulhou no tanque batismal. A confissão teria ocorrido três semanas depois da prisão de Oscar. O agente prisional disse também Oscar relatou que já havia feito algo semelhante com alguém da família, supostamente uma de suas irmãs. Na ocasião a menina teria sangrado e contou para a mãe, mas, como era da família teriam abafado o caso. Houve manifestação da mãe de Oscar, que acompanha o julgamento na platéia. O juiz pediu que ela se calasse.
O policial militar que denunciou Oscar, Aldo Jailson Souza, testemunhou
Aldo soube que Oscar tinha retornado para Canoinhas no dia da morte da menina e teria conhecimento de supostos crimes praticados pelo pedreiro.
O policial foi até o Batalhão de Canoinhas e obteve uma foto do acusado e a encaminhou para o chefe de inteligência do 8.º Batalhão da PM de Joinville.
DEFESA
Depois do recesso para o almoço, o diretor estadual do Instituto Médico Legal (IML) José Maurício Ortiga, sentou na cadeira de testemunha. A promotoria lembrou do processo que o diretor responde por ter cobrado como médico particular por ter feito o embalsamento de 49 argentinos mortos em um acidente de ônibus na Serra do Espigão,
O médico legista Badan Palhares, que se tornou conhecido por ter trabalhado na investigação da morte do tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Melo, Paulo César Farias, depôs em seguida dando início aos testemunhos de defesa. O advogado de defesa perguntou ao médico o que são petéquias.
Badan respondeu que são pequenas pontuações avermelhadas encontradas na superfície da pele ou em órgãos internos que podem ser produzidas por vários fatores.
Mas na área médico legal elas passam a ter importância nas asfixias mecânicas ou em qualquer modalidade de asfixia.
Gomes perguntou ao médico se há necessidade de abrir o local onde está a petéquia para saber sua causa. Badan afirmou que sim. ?Há a necessidade para saber o histórico", emendou. Perguntado se na ausência desse procedimento o laudo pode ser e pode invalidado, Badan disse que sim. ?Se isso não for feito não haverá condições de descobrir o agente desencadeante?, frisou.
Em seguida foi feita a leitura do testemunho do médico João Koerich. O juiz perguntou a ele se pela foto é possível identificar equimoses no pescoço da suposta vítima.
Koerich disse que não. Ele afirmou que não havia lesão interna
Por volta das 17h30min, a pediatra Lusinete Soares, médica que realizou o primeiro atendimento médico-hospitalar à menina Gabrielli, iniciou seu testemunho. Ela afirma que eram 10h05min do dia 3 de março de 2007 quando entrou no hospital uma senhora com uma criança de cabelos molhados no colo. A mulher que a trouxe estava muito nervosa pedindo para reanimar a menina, mas Gabrielli já estava morta. Ela disse que a menina havia defecado, mas a fralda não estava molhada. A pediatra diz que viu petéquias na região cervical à direita e uma pequena fissura na região anal. Uma outra colega sua, a médica Juliana Fronza, notou um hematoma anal na mesma posição por volta das 18 horas. Ela disse que a fralda estava bem colocada, com as fitas de adesão intactas. A médica afirmou ao advogado de defesa que se enganou quando grafou em seu laudo ?dilacerado? ? em referência ao ânus da menina ? termo trocado por ?dilatado?. Gomes perguntou se a fissura pode ser ocasionada pelo trânsito das fezes. A médica disse que sim. Lusinete se disse ?massacrada? por ter sido a única a ser chamada em juízo para falar sobre o caso, quando outros profissionais do hospital também atenderam a menina.
Depois de um recesso de meia hora, o julgamento foi retomado. Dois vídeos foram exibidos. O primeiro é a gravação do primeiro depoimento prestado por Oscar ainda na Delegacia de Polícia de Canoinhas. O segundo é da reconstituição do crime, gravado na Igreja onde Gabrielli foi encontrada morta. Já passam de 10 horas de julgamento.
Ao final da gravação, Oscar foi hostilizado verbalmente por populares.
Em seguida, Oscar começou a ser interrogado. Ele negou o crime e afirmou que apanhou de policiais para confessar que matou a menina. Oscar atribuiu ao delegado Dirceu o que chamou de ?palhaçada que fizeram comigo?. Quanto ao agente prisional Jean Pierre, que depôs pela manhã dizendo que Oscar havia confessado o crime para ele, Oscar afirma que apanhou do agente na prisão.
O juiz chamou a atenção de Oscar sobre as imagens da confissão e perguntou a ele por que voltou atrás.
O pedreiro respondeu que apanhou depois do exame de corpo delito para confessar. Ele afirma que se tivesse dito que apanhou para confessar, apanharia ainda mais no presídio, onde foi ameçado pelo diretor.
Oscar afirmou ao juiz que em Canoinhas, na delegacia, um policial o aconselhou a dizer que havia bebido no dia da morte da menina. O policial disse que se ele afirmasse que estava bêbado, nada lhe aconteceria.
Questionado pela promotoria sobre as acusações de estupro em Canoinhas, Oscar afirmou que as meninas eram suas amigas e tinham a mesma idade que ele. Elas cheiravam cola e o que aconteceu foi uma briga, não uma tentativa de estupro, segundo Oscar.
O advogado de defesa perguntou se durante o depoimento na Delegacia de Canoinhas, em alguns momentos a câmera era desligada. Ele disse que sim. ?Quando eu não estava falando o que eles queriam, a câmera era desligada?, afirmou. O réu alega também que no momento da reconstituição, dois policiais civis disseram: ?Agora você faz tudo direitinho, como nós te ensinamos. Senão, te jogamos com outros presos.?
Por volta da meia-noite o julgamento foi suspenso para que todos fossem jantar.
A previsão do juiz é que o julgamento vá até ao amanhecer. Às 00h30min começa o debate entre os advogados de defesa e os promotores. Essa será a última fase antes dos jurados se retirarem para proferir a sentença.
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