Aconteceu de 21 a 28 de agosto a Semana Municipal de Acessibilidade e Prevenção às Deficiências

Aos 39 anos Luis Carlos de Aguiar sofreu um acidente de trabalho e perdeu os dois pés e parte do braço direito. O braço esquerdo, que ficou sem movimentos, a seu pedido foi amputado dias depois dele acordar do coma no Hospital Universitário de Florianópolis. Quatro anos e meio depois, Luis ainda tenta se adaptar às próteses nas pernas, mas não permite que isso limite sua independência. Mesmo sem os quatro membros, ele dirige o carro, escreve, mexe no celular, sobe escadas. No entanto, tem dias que ele sente dor, e por isso, não consegue caminhar normalmente.

No começo, na fase de adaptação da nova vida, enquanto ainda não tinha as próteses, era necessário que a família ajudasse ele em todas as tarefas. A cadeira de rodas era importante neste momento. Mas o acesso aos locais públicos, como Bancos, lojas, praças dificultavam a sua locomoção. A falta e/ ou precariedade de locais acessíveis, como rampas, elevadores, uniformidade nas calçadas são hoje as reivindicações da grande maioria de quem possui mobilidade reduzida: cadeirantes, cegos, idosos.

Afim de dar visibilidade às necessidades especiais dos deficientes físicos e mentais, o município de Canoinhas instituiu por meio da lei 6.095/2017, sancionada pelo prefeito Beto Passos em 25 de setembro de 2017, a Semana Municipal de Acessibilidade e Prevenção às Deficiências, que aconteceu neste ano, entre os dias 21 e 28 de agosto.

A semana é organizada pela Secretaria Municipal de Educação com a iniciativa das professoras do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Ao todo são 16 professoras que atendem cerca de 200 estudantes com deficiência matriculados na Rede Municipal de Ensino. As escolas municipais realizam palestras, intervenções e apresentações de conscientização aos estudantes e familiares.

A professora Pâmela Kéroline Mathias foi quem convidou Luis para dar seu testemunho aos professores e colaboradores da Escola Aroldo Carneiro de Carvalho, na quarta-feira, 28. No começo da semana, as crianças participaram de uma palestra com o deficiente visual Elcio Munhoz, membro do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde) de Canoinhas, representante do Hospital Santa Cruz (HSCC), onde trabalha há anos. Pamela ainda montou a Sala dos Sentidos, onde os alunos sem deficiência, vedados, puderam explorar os demais sentidos, como o olfato, tato, paladar e audição. "Quem conduziu as atividades foram os próprios alunos com deficiência. Foram atividades bem interessantes para que todos sentissem na pele o que a minoria passa", relata a professora.

Mas é Luis e sua esposa, Simone, que conhecem a dificuldade que é para estacionar o carro, quando a vaga destinada a ele, está ocupada por alguém que não é portador de necessidades especiais. "Falta um pouco de senso de respeito e empatia dessas pessoas que estacionam em vagas destinadas aos cadeirantes. Elas conseguem andar normalmente, podem estacionar um pouco mais longe. Não precisam ocupar a vaga de quem realmente necessita", comenta Simone.

Para os cegos, como Munhoz comentou na palestra, a maior dificuldade são as calçadas da cidade que não estão padronizadas e são irregulares. O piso tátil, que tem a função de sinalizar deficientes visuais ou com baixa visão, nem sempre segue as normas definidas pela ABNT, e então oferecem risco para que o utiliza.

"Muitas vezes as calçadas são feitas sem o piso tátil de alerta, que são aqueles com bolinhas, que sinalizam aos cegos um obstáculo à frente. Se não tem essa informação orientando ela, a pessoa não saberá que ela está próxima a uma esquina, um poste, uma placa, um desnível, ou uma parede. Por isso é importante estar atento as regras ao construir a calçada", assinala Pâmela.

O respeito ao deficiente é outro assunto levantado por Luis. "É importante que as pessoas entendam que nós temos nossas limitações. Dar espaço para passar, não deixar objetos que obstruam o caminho nas entradas do comércio, ou até mesmo nas calçadas, ajudar quando perceber que a pessoa deficiente está precisando, são atitudes pequenas que para nós fazem a maior diferença", reivindica.

Embora a programação seja realizada em uma semana, é importante ressaltar que cadeirantes, cegos, surdos, amputados, autistas, ou com síndrome de Down, são todos pessoas com deficiências, portadores de direitos e deveres, demandas e soluções, sonhos e realizações, incertezas e convicções, que devem ser ouvidos, vistos e respeitados, pois acima de qualquer limitação física ou intelectual, são seres humanos.


Conheça a história do Luis

A história do Luis foi contada em 2016, pelo jornal Correio do Norte, em uma reportagem da jornalista Priscila Noenberg, intitulada "Me sinto muito bem como estou". A matéria está disponível no site do CN. Para conhecer, basta acessar: www.jornalcorreiodonorte.com.br


Galeria

Galeria de fotos das intervenções que cada escola desenvolveu durante esta semana. Desde o dia 21 de agosto, as professoras do Atendimento Educacional Especializado vêm promovendo ações como curso de libras, de braile, palestras sobre acessibilidade e inclusão, e caminhada.