Na próxima semana, em todo o país, as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) de todo o Brasil estarão com uma programação especial para abrir debates e colocar a sociedade em reflexão no dever da igualdade para inclusão.

A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla acontece todos os anos durante o período de 21 a 28 de agosto. O objetivo da Semana Nacional é abrir debates e colocar a sociedade em reflexão no dever da igualdade para inclusão.

Neste ano, com o tema "Família e pessoa com deficiência, protagonistas na implementação das políticas públicas", reafirma a importância da participação da família, em todos os processos de vida se seus filhos: tanto no âmbito educacional, de desenvolvimento, de habilitação e reabilitação, e demais projetos, como na gestão das Apaes.

Em Canoinhas a programação da Semana contempla uma apresentação de teatro sobre prevenção das deficiências, no dia 21, voltado para as famílias e usuários da Apae; o Show de Talentos, na noite do dia 22, aberto ao público; no dia 27, acontece o Seminário sobre a Prevenção das Deficiências, com profissionais e agentes de saúde, professores e colaboradores da Apae.

"É uma semana de conscientização. Para conscientizar as pessoas cada vez mais sobre o trabalho que a Apae realiza. A gente vem colhendo esse resultado. As famílias estão entendendo, a cada dia, qual o objetivo e as metas do trabalho que desenvolvemos com os usuários", explica a diretora da instituição de Canoinhas, Simone Sudoski Munhoz.


Protagonismo e políticas públicas

Políticas púbicas são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos federal, estaduais ou municipais com a participação, direta ou indireta, de entes públicos ou privados que visam assegurar determinado direito de cidadania para vários grupos da sociedade ou para determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico.

O tema deste ano, ressalta que as famílias e as pessoas com deficiência, são as que melhor compreendem as dificuldades enfrentadas na sociedade em suas diferentes contradições, e por isso, são elas, com protagonismo, que devem garantir que as pessoas com deficiência tenham as mesmas oportunidades que as pessoas sem deficiência.

"Quem sente a necessidade dos deficientes são as famílias. Porque o Estado e a sociedade em geral, não conseguem entender essa necessidade específica. Para os outros, é mais um complemento às políticas públicas, mas não são. As famílias sabem, sentem e tem o direito e dever de cobrar", explica a coordenadora da equipe de saúde, Denise Cardoso.

Exemplo disso é o tratamento odontológico é uma grande dificuldade para alguns, que não conseguem abrir a boca naturalmente, e por isso necessitam de sedação própria. "Foi uma luta de quase quatro anos para conseguir atender essa demanda. As famílias vinham com essa reivindicação. Por que se não for as famílias trazer essas demandas, ninguém vai se importar. Porque para você, a calçada ter ou não ter delimitação, é uma coisa, agora, para um cego, ela é importantíssima", ressalta Denise.

A Apae atua em defesa e construção dos direitos das pessoas com deficiência intelectual e múltipla, ofertando serviços especializados de qualidade e organizados na perspectiva da inclusão social dos atendidos. A rampa na frente do prédio e o elevador interno também foram duas grandes conquistas da instituição para melhor atender os seus usuários.


Aldina, Simone, Denise e Vanessa Sêna, orientadoras,
diretora e coordenadora de saúde trabalham juntas em prol do bem estar dos usuários


O que ainda está faltando

Em relação às políticas públicas, a equipe de profissionais da Apae comenta que a questão da priorização de atendimento ainda é uma das principais necessidades das pessoas com deficiência, principalmente na área da assistência e da saúde. "Outra necessidade é ampliar os recursos para a política do deficiente, que é restrita", comenta a coordenadora da equipe de saúde.

Uma demanda importante para o município, que já foi pedida na Conferência de Assistência Social é a Residência Inclusiva, uma unidade que oferta Serviço de Acolhimento Institucional, no âmbito da Proteção Social Especial de Alta Complexidade do Sistema Único de Assistência Social (Suas), para jovens e adultos com deficiência, em situação de dependência, que não disponham de condições de autossustentabilidade ou de retaguarda familiar.

"Aqui na Apae nós já temos casos de pessoas que perderam os pais, os irmãos e estão aos cuidados de outros familiares, que tem outra dinâmica familiar e nem sempre estão dispostos a cuidar delas", conta a orientadora pedagógica Aldina Souza Szczerbowski.

Acessibilidade é outro ponto do qual as cidades do interior ainda não estão preparadas. Calçadas, ônibus e rampa de acesso aos estabelecimentos, banheiros, são as grandes dificuldades para aqueles que usam cadeira de rodas. A falta de consciência no trânsito, e muitas vezes empatia, ao estacionar os carros em vagas preferenciais para cadeirantes, independentemente do horário, já foi tema de reportagem no CN, em novembro de 2018.


Jardim sensorial para estímulo dos sentidos (tato, olfato, paladar, audição, visão) dos usuários


BRUNA WERLE/Acessibilidade: Balanço para cadeira de rodas


Prevenção

De acordo com o Censo IBGE 2010, o Brasil tem 45.606.048 de pessoas com deficiência, o que equivale a 23,9% da população do País. 18,60% foram declaradas pessoas com deficiência visual, 7% com deficiência motora, 5,10% com deficiência auditiva e 1,40% com deficiência mental.

O conceito de pessoa com deficiência tem como base a definição da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF/OMS/2001, que contempla: condição de saúde, deficiência, limitação da atividade e restrição da participação social; e concebe, ainda, a interação da pessoa com deficiência e barreiras existentes como geradoras de situação de dependência.

A Apae de Canoinhas trabalha fortemente na prevenção de deficiências e síndromes. Para isto, os temas são voltados para os vários fatores de risco que podem causar deficiência, assim como a sensibilização da sociedade sobre sua responsabilidade na redução da incidência de deficiências e na preservação da saúde de cada cidadão.

"Hoje em dia, tem muitas deficiências que podem ser prevenidas. Esse número vem aumentando, em vez de diminuir. A nossa demanda é grande. Trabalhamos neste sentido, para conscientizar as pessoas e diminuir esse risco, desde antes da gestação, ainda na concepção", explica Aldina.

Enquanto esse número não reduz, a diretora Simone ressalta para a importância do diagnóstico precoce e da busca por estimulação o mais cedo possível para que as chances de a criança não ser totalmente dependente seja maximizada, que é o serviço que oferecido pela instituição, atuando na área educacional, assistencial e da saúde. "Com o estímulo desde o início, é possível a minimizar as deficiências", reafirma Simone.


Ensaio para o show de talentos, que acontece na próxima quinta-feira, 22