Dos mais de 55 anos dedicados à impressão gráfica, ele guarda peças suficientes para compor um museu
É fácil perceber a paixão de Carlos Bockor pela indústria gráfica. E nem é pela quantidade de peças guardadas em gavetas, caixas e prateleiras que hoje ocupam boa parte do espaço de sua garagem. Basta ver o brilho em seus olhos toda vez que ele explica as funções de cada componente nessa engrenagem que tanto evoluiu. Evolução que ele próprio acompanhou nos mais de 55 anos dedicados à mesma gráfica em Canoinhas. A empresa mudou de donos e de nome, mas Carlos manteve-se firme até este ano, após passar pelas funções de tipógrafo, impressor e gerente.
Ele tinha apenas 11 anos quando surgiu a vaga na então Impressora Ouro Verde. Inicialmente, ajudava na montagem de blocos de notas e, aos finais de semana, entregava jornais. Ao completar 18 anos foi registrado como tipógrafo-impressor e, em 1979, promovido a gerente. Cinco anos depois a impressora foi vendida e mudou de nome, passando a ser Gráfica Canoinhas.
Deste passado dedicado com tanto afinco ao trabalho, Carlos guarda relíquias da história da imprensa. Peças que mostram toda a evolução que o processo de impressão gráfica passou ao longo dos anos. Peças que ele sonha em ver num museu, para que essa história possa ser compartilhada com as atuais e futuras gerações. "Hoje, com toda a evolução tecnológica, a maioria das pessoas nem imagina como era todo o processo, como era trabalhoso montar uma página de jornal, de revista. Cada letra era feita com chumbo derretido. Frases inteiras eram compostas manualmente letra por letra, para só então irem para a máquina de impressão, onde cada folha de papel também era colocada manualmente", ressalta Carlos Bockor, ao mostrar gavetas repletas de tipos móveis, os caracteres avulsos gravados em blocos de madeira ou chumbo.
A coleção conta ainda com clichês (matrizes gravadas em placas metálicas e destinadas à impressão de imagens), numeradores, componedores (para formar as frases), bolandeiras (para compor páginas), uma prensa para colagem de blocos, além de centenas de matrizes para linotipo. A máquina inventada por Ottmar Mergenthaler em 1884, na Alemanha, introduziu a composição mecânica dos caracteres e tornou ultrapassados os tipos móveis alinhados à mão. Com o linotipo, a impressão ficou seis vezes mais veloz.
Carlos guarda também algumas chapas de alumínio já gravadas para impressão off-set, que mostram como é feita a separação das cores. As chapas são usadas até hoje. O que mudou foi o processo de editoração. Antes textos e fotos eram produzidos em papel, montados manualmente (o chamado paste-up) e fotografados, gerando o fotolito - filme que serve para gravação da chapa que vai na máquina. A partir do final da década de 1980, com a informatização das empresas, a editoração eletrônica substituiu o paste-up, gerando o fotolito a partir do arquivo eletrônico.
A coleção de Carlos revela ainda peças bastante curiosas, como o medidor para temperatura do chumbo (usado na fabricação de tipos) e uma balança técnica usada para medir a gramatura do papel. Objetos que ele foi guardando ao longo dos anos, na medida em que as peças ficavam obsoletas e eram descartadas. Outra curiosidade fica por conta dos álbuns de cartões de natal, usados como amostra para os clientes escolherem os modelos desejados. Afinal, era comum as empresas felicitarem seus principais consumidores com belíssimos cartões natalinos impressos.
No Correio do Norte
A relação de Carlos Bockor com a imprensa não se resume à ao processo de impressão. Ele tem história também com o jornal Correio do Norte, onde foi colunista esportivo lá pelos idos de 1975 e 1976. "Faz tanto tempo, não lembro mais por quantos anos fiz a coluna, que retratava principalmente as competições de futebol em Canoinhas e também o panorama do esporte no País", revela ele. Entre 1993 e 1995, também foi diretor do jornal, que até hoje se mantém como o principal veículo de comunicação impresso da cidade.
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