Canoinhenses que estão no país relatam ao CN as dificuldades que os estrangeiros enfrentam
Edinei Wassoaski
CANOINHAS
"No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam o emprego, mas, apesar dos milhões de desempregados, nosso governo continua trazendo 1,5 milhão de trabalhadores estrangeiros por ano para pegar empregos americanos. Será que o seu pode ser o próximo?" Essa propaganda está sendo veiculada nas TVs americanas, bancada pela Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano, entidade que reúne 13 associações de classe com mais de 500 mil membros.
Com o desemprego projetado para ultrapassar os 8% neste ano, organizações protecionistas como a coalizão estão apostando tudo no lobby do "hire American" (contrate americanos) para a aprovação de leis que restrinjam a entrada de trabalhadores estrangeiros legais e apertem o cerco aos ilegais que estão no país.
Na semana passada, esses grupos contra trabalhadores estrangeiros comemoraram uma vitória: o pacote de estímulo aprovado pelo Congresso inclui uma medida que dificulta a contratação de funcionários estrangeiros com visto H-1B (de mão de obra especializada) pelos bancos que estão recebendo recursos do programa de resgate.
Mas isso é só o começo, alertam especialistas. Segundo Bob Sakaniwa, diretor da Associação Americana de Advogados de Imigração, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo de domingo, 22, há uma série de propostas para restringir e dificultar a concessão de diversos tipos de visto de trabalho para estrangeiros, inclusive uma proposta de moratória.
O canoinhense Cesar Nascimento Junior, que há três meses participa de um programa de intercâmbio nos Estados Unidos, diz que a crise é perceptível. Junior trabalha na rede de hotéis Omni Corpus Christi Hotels. Fez contrato temporário de três meses, exatamente o período que dura o intercâmbio e, por isso, não viu seu emprego ameaçado. Viu, no entanto, muita gente sendo demitido neste período. Em janeiro, segundo ele, a ocupação no hotel em que trabalha caiu 80%, o que resultou em uma enxurrada de demissões. Muitos estrangeiros ficaram com uma mão na frente, outra atrás e tiveram de voltar para seus países.
Entre os sinais mais evidentes da crise que Junior testemunhou em solo estadunidense um deles foi o fechamento da rede Circuit City, que vendeu todo o estoque a preço de custo antes de decretar a falência. ?A gente vê movimento nos supermercados e farmácias, mas nas lojas o movimento diminuiu bastante?, afirma.
Junior diz que não percebe sinais de xenofobia, até porque é crime, e que a força de trabalho estrangeiro é muito grande. ?Eles (os estadunidenses) gostam de quem cumpre ordens e trabalha bastante e os estrangeiros, em geral, são assim?. Chefes não faltam. ?Tenho um supervisor, um diretor e um gerente a quem devo me reportar?.
Conversando com brasileiros que moram nos EUA, Junior diz que a maioria é cética em relação aos efeitos da crise. ?Eles dizem que estão conseguindo fazer um pé de meia e comprar o que querem, não vêem com o que se preocupar?. Mesmo assim, Junior viu muitos brasileiros retornarem, inclusive os que fizeram parte do mesmo programa de intercâmbio que ele. ?Ao menos 20 voltaram porque não encontraram trabalho aqui?. Para validar o visto, é obrigatório que o estudante tenha um emprego.
ESTRANGEIROS AINDA SÃO ATRATIVOS
Marcelo Borek, canoinhense que passa uma temporada de estudos nos Estados Unidos, acha que a mão de obra estrangeira ainda é atraente para os estadunidenses. ?A primeira impressão é de que os brasileiros só pensam em trabalhar?, afirma.
O fato de ganharem, em média, entre US$ 10 e US$ 15 por hora, certamente estimula os brazucas. ?O maior problema que visualizo para os brasileiros é que muitos estão ilegais e com isso não se consegue o numero do social (similar ao CPF), o que torna a vida do brasileiro um inferno. Sem o social você não é ninguém, a pessoa não consegue nem fazer uma carteira de motorista, já que para tudo é necessário um carro, e quando é parado pela polícia a maioria das pessoas são humilhadas e tratadas com indiferença?.
Borek opina que a rotina dura oferecida aos estrangeiros nos Estados Unidos rende um bom dinheiro, mas é altamente sacrificante. ?A vida aqui é só trabalho, se for para trabalhar e economizar para voltar para o Brasil e montar seu próprio negócio, tudo bem, mas se for para viver só trabalhando e não construir nada na vida, prefiro estar no meu país?, defende.
FIM DA LINHA
Wiomar Ferreira, que deixou Joinville-SC e partiu para os EUA depois de perder o emprego, diz que neste período de crise viu o preço do combustível subir de 98 centavos para US$ 4,25, mas sem alteração de salário. Segundo ele o principal problema dos estrangeiros ainda é a falta de documentação. ?Muita gente perde o emprego por causa das fiscalizações da imigração?. Ele explica que a crise tem gerado um efeito dominó. ?Se eu perder o meu emprego não terei mais uma diarista, gastarei menos gasolina, assim vai acontecendo uma cadeia, uma bola de neve, um setor afeta o outro?.
A ideia inicial de Ferreira era se manter e guardar o máximo de dinheiro possível, mas com a queda das horas de trabalho, inflação e com a expectativa de melhora para apenas daqui a dois anos com estabilidade plena cogitada para daqui a 10 anos, ?só consigo enxergar o Brasil no meu futuro?.
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