Números alertam para impactos da crise econômica mundial no município
Edinei Wassoaski
CANOINHAS
A queda de 15% na arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por parte da prefeitura de Canoinhas no mês de janeiro de 2009 em relação ao mesmo período do ano passado, fez soar o alarme das indústrias do município. Todas têm olhado com cuidado as sucessivas notícias negativas que têm assombrado a economia mundial.
A crise, instalada no mundo a partir da explosão da bolha imobiliária estadunidense, em setembro do ano passado, parece cada vez mais próxima do Brasil e não tem data para ir embora.
As indústrias exportadoras, que em Canoinhas são maioria, são as mais cautelosas. As enchentes de novembro de 2008, que deixaram os portos fechados por quase uma semana, aliadas a crise mundial, são apontadas pelos exportadores como motivos de preocupação. ?É inegável que a crise gera diminuição da atividade exportadora?, reconhece Estevão Fuck, da empresa Fuck S.A., que exporta cerca de 90% da produção de compensados. A empresa produz ainda portas, mercadoria voltada 70% para o mercado interno. Estevão ilustra com dados o temor da recessão. De 140 mil metros de compensados que o País exportava no ano passado, passou para 12 mil metros exportados em janeiro deste ano.
Mesmo assim, a Fuck não sentiu retração no número de pedidos, mas teve de reduzir preços. ?O excesso de oferta faz o preço cair?, explica. Para Estevão é hora de buscar novos nichos de mercado e apertar o cinto. ?Todo mundo tem de fazer um ajuste, diminuir os custos e melhorar a produtividade, incluindo o Governo?, defende. Para quem tem medo de perder o emprego, Estevão faz um alerta. ?A tendência é haver uma seleção, os bons permanecerão?. A Fuck, no entanto, é uma das poucas empresas que estão conseguindo manter o quadro de funcionários sem massa de demissões significativa. Em acordo com os funcionários houve redução de horas extras, mas ninguém foi demitido.
Quadro bem diferente da Lavrasul, que desde setembro do ano passado já demitiu mais de 50% do seu quadro de funcionários. Silvar Kukul, gerente da empresa, nega que a Lavrasul esteja sentindo os efeitos da crise e diz que independente de crise, a Lavrasul sempre buscou a redução de custos. ?Se não trabalharmos constantemente a redução de custos não sobrevivemos?, argumenta. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Mobiliária de Canoinhas (Siticom), desde setembro a Lavrasul já demitiu cerca de 400 funcionários.
NEGOCIAÇÕES
O dólar na casa dos R$ 2,40 é satisfatório para os exportadores, mas a crise provocou um efeito colateral para a cotação. Os clientes, especialmente dos Estados Unidos, estão pedindo redução nos preços. A Procopiak, que trabalha 80% com exportações, vem sentindo a pressão dos clientes, mas considera a crise uma oportunidade e não o bicho papão que vem sendo pintado. ?Vejo que no nosso negócio (compensados) teremos um ano positivo?, aponta o diretor da empresa, Hilton Ritzmann. ?os preços caíram, mas não na mesma proporção que subiu o dólar?, explica o empresário. A Procopiak já iniciou um trabalho de reinserção no mercado interno, buscando diversificar sua carteira de clientes. Ritzmann lembra que a redução nos pedidos se deu justamente na carteira de clientes fiéis, o que aponta para a necessidade de buscar novos clientes e nichos de mercado diferentes. Para ele, Canoinhas não corre risco de ver demissões em massa por conta da crise, mas que as empresas terão de reduzir seu quadro de pessoal, isso parece iminente.
Sindicato defende a diversificação da indústria
Para Alípio Castanho de Araújo, o Gaúcho, do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Mobiliária (Siticom), é preciso diversificar a produção para evitar que crises como esta enterrem indústrias. ?Estou em Canoinhas desde 1971 e desde então só vi madeireiras quebrando, nenhuma surgindo?, alerta. Gaúcho cita o exemplo das grandes potências Zaniolo, Mussi e Wigando Olsen, todas madeireiras que foram a falência nos últimos 30 anos deixando despejando centenas de funcionários nas ruas. Ele se mostra preocupado com o destino dos demitidos da Lavrasul. ?O mercado não consegue absorver este pessoal hoje?, afirma lembrando que as empresas que não estão demitindo também não estão contratando.
Gaúcho diz que nos últimos anos a atividade madeireira só foi sobrecarregada de encargos e fiscalização. ?São inúmeras as entidades que fiscalizam a atividade madeireira, multando sem piedade. Hoje a indústria madeireira não é mais uma atividade atrativa?, opina sugerindo que os empresários busquem a diversificação do setor. Gaúcho aponta como nicho de mercado atraente a construção civil, que teve um salto significativo em Canoinhas nos últimos anos.
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