Primeiros dois meses de 2009 já registraram mais de 500 demissões

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
A indústria da transformação – que inclui as madeireiras –, principal filão da indústria canoinhense, foi o que mais demitiu na cidade em 2008. Com 1.323 contratações, o setor demitiu 1.502 pessoas, 179 a mais do que contratou. Boa parte destes demitidos saiu de empresas como a Lavrasul, que desde setembro do ano passado já demitiu mais de 500 funcionários. A agropecuária foi o segundo setor a demitir mais que contratar em 2008. O saldo negativo é de 10 empregos. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego, sustentados pelo Serviço Nacional do Emprego (Sine).
Setor em expansão, a indústria da construção civil é o que mais cresceu em 2008 na região. Em Canoinhas, o saldo positivo de empregos criados foi de 161.
Aldo Niepiçue é um dos que conseguiu emprego na construção civil em 2008. O fim de uma obra, no entanto, não lhe garantiu a continuidade no emprego. Ele é um dos 510 trabalhadores que requereram o seguro-desemprego no Sine de Canoinhas (que atende ainda os municípios de Três Barras, Bela Vista do Toldo e Major Vieira) somente nos dois primeiros meses deste ano. A rotatividade do setor é explicada pelas empreitadas para as quais os trabalhadores são contratados. “Terminou a obra, não tem mais emprego”, explica Niepiçue. O operário diz que, no entanto, não deve receber nem a primeira parcela do seguro. Ele já tem um emprego garantido em uma cerealista. “Acho que lá vou ganhar mais, porque eles pagam mais horas extras”, conta empolgado. Segundo Niepiçue, ele não foi o único a conhecer a rua este ano na empresa em que trabalhou. “Uma porção foi mandada embora”, revela.
 
SEM MOTIVOS PARA ALARME
 
Em 2008 uma média de 240 pessoas foram demitidas por mês nas quatro cidades que formam a Comarca. Em fevereiro deste ano, o número chegou a 271, um aumento sensível, mas preocupante, considerando ser o mês mais curto do ano.
Para o administrador e mestre em Economia Industrial, José Augusto Maievski, não há motivos para alarme. Os reflexos da crise desencadeada pelos EUA devem aparecer de forma mais branda para o Brasil e em especial para a região de Canoinhas. “Com certeza a região terá ações de contenção financeira motivadas por redução de vendas, dado a queda no câmbio, por mais que estejamos em uma condição favorável para as exportações, no entanto, os países compradores reduziram suas compras, dada a ação retrativa do mercado internacional motivadas pela crise”, explica, se referindo ao setor exportador, que em Canoinhas responde por boa parte da produção da indústria madeireira. A Lavrasul, por exemplo, exporta 90% de sua produção.
“As exportadoras estão direcionando esforços para outros mercados, inclusive o interno. Já as empresas que trabalham quase que exclusivamente com o mercado interno terão a entrada de novos e fortes concorrentes. Assim os principais beneficiados serão os consumidores finais, com produtos de melhor qualidade e melhores preços, que diretamente não estarão sentindo os efeitos da chamada ‘crise’”, defende o economista.
Juliano Seleme, que assumiu esta semana a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Canoinhas, tem noção do péssimo momento para se falar em investimento, mas está confiante que a crise pode abrir oportunidades no mercado e que empresas podem se interessar pelo potencial de Canoinhas. “Vamos atrás de empresas em outras cidades, montaremos um site com informações para empreendedores, enfim, vamos atrás de investimentos para gerar emprego e movimentar nossa economia”, afirma.
Seleme defende a indústria madeireira e critica o Governo. “As montadoras de veículos dão um grito e o Governo corre socorrê-las com dinheiro, a indústria de transformação já demitiu mais trabalhadores, talvez, e não recebe nenhuma ajuda”, protesta.