Revendedores garantem que a crise está facilitando negócios com automóveis

Edinei Wassoaski CANOINHAS É inevitável que a crise econômica mundial espantou os consumidores dos artigos de segunda necessidade. É o caso dos automóveis que, segundo dados da Federação Nacional de Distribuição de Veículos (Fenabrave), tiveram uma queda de vendas em torno de 15,65% na primeira quinzena de novembro, na comparação com igual período de outubro. Em Canoinhas, a queda está abaixo da média nacional. Em relação ao mesmo período, segundo dados do Ciretran, a queda não chegou a 5%. Nos últimos três meses, o tombo foi de 10% na venda de carros novos e 15% na compra de usados (veja no gráfico). Os revendedores, no entanto, estão sentindo com maior intensidade o impacto da crise, mas garantem, este é o momento de investir em automóveis. ?Os carros usados tiveram queda de preço. Quem vender terá de se contentar com um preço mais baixo, a margem de lucro do revendedor vai baixar e quem ganha com isso é aquele que comprar o carro usado?, avalia o proprietário da revenda de veículos Zanlorenzi, Jorge Luiz Zanlorenzi. Ele explica que o efeito mais favorável para o consumidor neste momento é a adaptação para baixo dos preços dos veículos usados. ?É hora de comprar?, incentiva. Zanlorenzi admite que já chegou a vender um automóvel que valia R$ 30 mil por R$ 26 mil. ?Perdi margem de lucro, mas temos de nos adaptar a realidade?. Um gerente de vendas que não quis se identificar disse ao CN que para estimular os negócios, as concessionárias e revendas estão oferecendo taxas de juros de 0,99%, para todas as marcas. ?O detalhe é que cada concessionária contribui com um percentual em dinheiro para que possa fazer negócios com esta taxa?, revela. Internamente, as revendas estão promovendo redução nas despesas. ?Economia é a palavra de ordem?. O mesmo gerente lembra que o mercado automobilístico estava crescendo vertiginosamente, ?obviamente a desaceleração e a normalização deveria acontecer, é quase igual a situação de irmos ao supermercado fazer nossas compras do mês, nos dias subseqüentes não vamos novamente ao mercado porque estamos com a cozinha cheia de mantimentos?, compara. CALOTE FAZ BANCOS SEGURAR DINHEIRO Antes mesmo que os impactos mais fortes da crise global desembarcassem no Brasil, o nível de inadimplência do financiamento de automóveis já transmitia sinais preocupantes. Os dados mais recentes do Banco Central, referentes a setembro, indicam que naquele mês 11,23% dos parcelamentos de veículos estavam com pagamento atrasado em mais de 15 dias, índice maior que o do mês anterior (10,97%) e superior ao verificado no mesmo período de 2007 (9,9%). Isso significa que, do saldo total de empréstimos dessa modalidade (R$ 83,6 bilhões), financiamentos que somam cerca de R$ 9,4 bilhões têm uma ou mais parcelas atrasadas. Zanlorenzi lembra que os bancos estão abarrotados de dinheiro, mas temem liberar crédito. ?Uma hora eles terão de liberar este dinheiro?, prevê. O Governo já liberou R$ 8 bilhões para os bancos das montadoras financiarem a venda de veículos. De acordo com o BC, a inadimplência do crédito automotivo ainda é menor que a média verificada em todos os empréstimos concedidos a pessoas físicas, que atingiu 13,54% em setembro. No entanto, a diferença entre esses dois índices vem se estreitando. Em setembro de 2007, a inadimplência geral era 34% superior à do crédito de veículos; um ano depois, essa distância foi reduzida a 20,5%. O setor automotivo já teve momentos piores ? o pico da inadimplência na série histórica do BC, iniciada em junho de 2000, foi de 12,32%, em março de 2003. No entanto, considerando-se apenas os atrasos superiores a 90 dias (que, por serem mais graves, são acompanhados mais de perto pelo mercado), o índice de não-pagamento atingiu em setembro a marca de 3,83% do total, a maior já registrada. Em agosto, o nível era de 3,77% e, em setembro de 2007, de 3,26%. EM CRISE É QUE SE INVESTE O crescimento do mercado de revendas de automóveis foi tão intenso no último ano que num piscar de olhos a avenida Rubens Ribeiro da Silva, em Canoinhas, recebeu 11 lojas de veículos. A 12.ª já está engatilhada. Trata-se de uma concessionária da GM, que embora esteja enfrentando a pior crise de sua história nos Estados Unidos, tem no Brasil a sua melhor renda. A concessionária deve inaugurar no início de 2009 na esquina entre a avenida e a BR-116, no cruzamento com a BR-280. ?Esta crise fará uma seleção, os bons ficarão, os não tão bons assim fecharão. É o mercado?, aponta Zanlorenzi.