Depois de quatro anos estudando em um barracão, alunos da E.E.B. Gertrudes Muller retomam as aulas no novo prédio da escola

CANOINHAS - 1.460 dias. Este foi o tempo que alunos da Escola de Educação Básica Gertrudes Müller, de Canoinhas, tiveram de estudar em um barracão precário do Parque de Exposições Ouro Verde. Considerando somente os dias letivos, foram 800 dias expostos a um calor de deserto no verão e a um frio glacial no inverno. Isso sem contar a fragilidade das divisórias das salas e o barulho que dificultava cada vez mais o estudo.

O drama dos estudantes da Gertrudes Müller teve fim na semana passada. Quatro anos depois de iniciadas as obras da nova sede da escola, enfim, os alunos puderam estudar em uma sala de aula de verdade.

O novo prédio deve ser inaugurado oficialmente somente em março, mas como 90% da obra está conclusa ? falta somente a instalação elétrica do segundo piso e a construção do muro ? os pouco mais de 300 (já foram mais de 400) alunos da escola iniciaram o ano letivo na nova escola.

Destes, uma turma chama atenção. Pouco mais de 20 alunos, da 4.ª série, estão estudando pela primeira vez em uma sala de aula de verdade. Antes só conheciam os cubículos espremidos entre finas chapas de compensado no barracão do Parque de Exposições Ouro Verde. ?Aqui é muito melhor de estudar, as salas são maiores e não tem tanto barulho?, diz Ivo que tem como única referência a escola do barracão.

A professora Eliane Bruno, que participa de um projeto piloto de salas ambiente, na qual quem troca de sala são os alunos e não os professores no intervalo de disciplinas, está empolgada com a nova escola. ?Não tem comparação, a gente pode modular a voz sem atrapalhar outros professores que estão na sala ao lado. Tenho certeza que o aprendizado será muito melhor?, diz a professora.

Na 3.ª série da professora Fátima Galeski chama atenção o número de alunos egressos de outras escolas. ?Se fosse para estudar no barracão minha avó não deixaria?, conta Jonathan, que até ano passado estudava na Escola de Ensino Fundamental Sagrado Coração de Jesus. Embora more próximo da Gertrudes Muller, Jonathan ia de ônibus todos os dias até o Sagrado para fugir do barracão.

O diretor da escola, Valdir Kohl, que também sofreu com a escola improvisada no barracão, comemorou a conquista ? ?O ambiente é outro, tudo é melhor, aqui é muito mais fresco, está tudo novo, bonito?.

Os alunos aguardam ainda a conclusão do Ginásio de Esportes, que está sendo construído anexo à escola. Não há previsão de inauguração.

 

TRAJETÓRIA TUMULTUADA

 

Para chegar à obra concluída, a Gertrudes Muller enfrentou um longo processo marcado pela falência e ressurgimento da construtora Edubetos, vencedora do processo licitatório, protestos e cenas lamentáveis dos alunos estudando no barracão do pavilhão do Parque de Exposições.

Em 2004 a Edubetos iniciou a obra do novo prédio. Desde então, a empresa paralisou as obras diversas vezes. Em uma delas, operários da obra disseram que estavam deixando de trabalhar em protesto contra a falta de pagamentos por parte da Edubetos.

 

À época, o então secretário regional Bene Carvalho (PMDB) garantiu que o Governo sempre honrou com seus compromissos com a empresa que acumulava cinco obras paralisadas em todo o Estado.

Em agosto de 2005, a Edubetos chegou a pedir falência, mas voltou atrás e retomou a obra então orçada em R$ 1,42 milhão.

Em 2006 a construtora paralisou mais uma vez alegando falta de pagamento por parte do Estado.

Em fevereiro de 2007, reportagem exibida pela RBS TV mostrou o drama dos estudantes no barracão.

Somente em agosto de 2007, acordo entre a Edubetos e a Construtora Marítima faz com que as obras fossem retomadas.