Denúncia foi feita por APP da E.E.B. Almirante Barroso; dinheiro seria para custear apostilas
Edinei Wassoaski
CANOINHAS
A Polícia investiga denúncia de suposto desvio de recursos da Associação de Pais e Professores (APP) da Escola de Educação Básica Almirante Barroso. A denúncia foi feita pela própria APP depois de descobrir que tinha uma dívida de R$ 24 mil com o Sistema Energia. Desde 1999, o sistema é responsável por fornecer apostilas aos alunos do Ensino Médio. Segundo a APP, o dinheiro para pagar as apostilas foi arrecadado com os alunos e repassado para a direção da escola, responsável por fazer os pagamentos para o sistema Energia.
A denúncia foi parar na Câmara. Vereador João Grein (PT), que tem uma filha estudando na escola, se mostrou indignado com a atitude da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) que tomou como providência exonerar a diretora supostamente responsável pelas finanças da escola. “Agora a escola, que não tem recursos terá de arcar com a dívida”, protestou Grein. Ele disse ainda que não quer ver ninguém preso, mas que o culpado arque com o valor supostamente desviado.
APOSTILAS
O escândalo das apostilas estourou em uma reunião entre APP e diretoria do Almirante Barroso em 1.º de abril deste ano. A presidência da APP estava sendo trocada e a presidente que estava deixando a entidade questionou supostos furos nas contas. Embora seja formada por pais e professores, o dinheiro arrecadado pela APP é administrado pela direção da escola. O dinheiro corresponde à receita da cantina e rifas. No caso específico das apostilas, o dinheiro foi cobrado dos pais e deveria ter sido repassado ao sistema Energia.
Tensa, a reunião de 1.º de abril foi pontuada por questionamentos a diretora da escola sobre o destino do dinheiro pago pelos pais pelas apostilas. Segundo a ata da reunião a que o CN teve acesso, a diretora informou que o livro-caixa havia desaparecido e como era de responsabilidade de sua codiretora, não havia como saber o que havia ocorrido. A codiretora faleceu há um ano.
Na mesma reunião, a diretora não admitiu ter comprado um poste e um chuveiro com dinheiro da APP, mas acabou repondo o dinheiro na conta da Associação. Pelo estatuto da Associação somente o presidente da entidade pode fazer compras em seu nome.
Logo após a reunião, a diretora pegou licença de 60 dias. Ao vencer a licença, no final do mês de maio, ela foi exonerada.
IRREGULARIDADES COMEÇARAM EM 2003
Segundo a ex-diretora do Almirante, Carolina da Silva Carvalho, a escola trabalha com o sistema Energia desde 1999 e nunca atrasou pagamentos, pelo menos em sua gestão. O Sistema Energia confirma a informação. Embora tenha se recusado a dar entrevista, representante da entidade confirmou por telefone que a inadimplência do Almirante Barroso vem desde 2003. O mesmo representante explica que a situação deixatória da escola, que passou anos funcionando debaixo do estádio municipal aguardando a reforma do prédio, sensibilizou a empresa, que deu prazos intermináveis e renegociou várias vezes com a escola. Segundo a mesma fonte, a negociação era feita com a diretora exonerada.
SDR diz que responsabilidade é da APP
A gerente de educação de Canoinhas, Francisca Maiorki, afirmou ontem que a dívida é responsabilidade da APP da escola. Ela lembra que as apostilas não são recomendadas pelo Governo, que abastece as escolas com material didático. Quando assumiu a gerência em 2005, Francisca lembra que questionou o uso das apostilas e recebeu como resposta um documento assinado pela maioria dos pais reafirmando o desejo de trabalhar com as apostilas. “Não temos como pagar a conta”, afirma Francisca.
Secretário regional Edmilson Verka (PSDB) compartilha da mesma opinião. Sobre a exoneração da diretora, Verka afirma que o pedido partiu dela mesma, que teria alegado problemas de saúde. Verka lembra ainda que a diretora e o presidente do Conselho Deliberativo da APP assinaram ano passado em cartório um documento no qual reconhecem a dívida com o Energia. “Não temos nada a ver com isso”, afirmou.
Professores e pais querem explicação
Embora poucos assumam a identidade é unanimidade o pedido de explicações sobre a questão. Um membro da atual diretoria cobra resposta da Polícia, já que o prazo para conclusão do inquérito (30 dias) já venceu.
A atual codiretora Lucinéia Pacheco de Miranda Lima lamentou a situação. Ela explica que ano passado, para que pudesse adquirir as apostilas relacionadas aquele ano, a escola teve de parcelar a dívida e com o dinheiro arrecadado para pagar as apostilas relacionadas a 2008 foram pagas quatro parcelas de R$ 2,4 mil de um parcelamento de dez vezes. Mesmo com o pagamento dessas parcelas, a dívida ficou em R$ 24 mil. Lucinéia admite que muitos alunos não pagaram as apostilas, mas para ela não se justifica o tamanho da dívida. “Não dá pra dizer que vamos vender pastel para pagar esta dívida porque não vai dar”, conclui.
Na próxima semana, o professor Pedro Penteado deve assumir a direção do Almirante Barroso em substituição a professora exonerada.
A reportagem tentou insistentemente falar com a diretora exonerada durante a semana, mas ela não foi encontrada em casa.
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