Assembleia decidiu por tornar o campus independente; decisão abre espaço para nova sede

Edinei Wassoaski

CAÇADOR
 
A Assembleia Geral da UnC Caçador, que sedia ainda a Reitoria da Fundação UnC, decidiu pela independência do campus em reunião na terça-feira, 6. Foram 52 votos contra a unificação dos cinco campi – Caçador, Mafra, Curitibanos, Canoinhas e Concórdia – e 26 votos a favor. A decisão, que tornou o campus de Caçador independente, gerou uma avalanche de protestos e reações. Acadêmicos protestam desde quinta-feira, dia 1.º, contra a decisão sacramentada na terça-feira. Eles pedem a unificação, temendo perder os cursos que efetivamente pertencem à Reitoria. “Dos 1,5 mil acadêmicos que participaram da assembleia (realizada na semana passada), uns 10 são contra a unificação”, conta o presidente do Centro Acadêmico de Direito da UnC Caçador, Douglas Klabunde. Durante a assembleia de terça-feira, eles foram impedidos de entrar no campus. Cadeados nos portões e policiais militares armados impediam o acesso. Até o curador de fundações da 25.ª Promotoria, Aor Steffens Miranda, teve dificuldades para entrar no campus. Todos tinham de mostrar identidade antes de entrar. Se o nome não constasse da lista de membros da assembleia, não entrava. Os protestos dos acadêmicos, que começaram na sexta-feira, 2, foram todos pacíficos. Eles fizeram um círculo humano em torno do prédio da universidade e cantaram o hino nacional. Na terça-feira, acenderam velas em vigília aguardando a decisão da assembleia. Mesmo depois do resultado contrário à vontade dos acadêmicos, não houve violência.
Os acadêmicos se reuniram na quarta-feira, 7, e optaram por fazer boicote a Universidade por meio de moratória das mensalidades. Eles reclamam que o diretor-presidente tomou decisões sozinho e não participou de reuniões sobre a unificação. Ele conta que somente na semana passada a comunidade acadêmica ficou sabendo do processo. Há uma semana a Universidade está sem aulas devido à polêmica. A expectativa era de que ontem à noite as aulas fossem normalizadas.
 
CAMPUS DEVE PERDER CURSOS
 
Embora o diretor-presidente da UnC Caçador, Luiz Eugênio Beltrame, garanta que o campus não vai perder os cursos que têm, consulta feita a 25.ª Promotoria antes do processo de unificação deixava explícito que o campus que rompesse com a UnC teria de recomeçar do zero, ficando somente com os cursos que tinha antes de se unir a UnC. No caso de Caçador, o número não passa de três.
Com o objetivo de tranquilizar a comunidade acadêmica, o curador Aor Steffens Miranda garantiu que ao menos até o final do ano nada muda. Uma nova consulta feita pela UnC Caçador com relação aos cursos deve ser analisada nos próximos dias. O campus acredita que em 15 dias consiga homologar a criação de uma nova fundação.
 
CANOINHAS TEM CHANCE DE SEDIAR REITORIA
 
Mal o anúncio de Caçador foi divulgado, os quatro campi da UnC que seguem unificados começaram a fazer lobby para sediar a Reitoria. Ainda não se sabe o que vai ser feito com o prédio sediado em Caçador. Segundo o diretor-presidente da UnC Canoinhas, Hamilton Wendt, Canoinhas já é candidata (leia mais em artigo do vice-diretor-presidente Armindo Longhi na página 2). “Reunimos todas as condições para sediar a Reitoria”, garante. O fato de o CNPJ ser unificado na UnC Mafra, segundo Wendt, não significa que a sede da Reitoria tenha de ser lá.
 
A FAVOR
“Isso é coisa de empresários que se acham coronéis”
Escritor renomado, professor fundador da UnC Caçador, Nilson Thomé está indignado com a decisão tomada pela Assembleia. “Eles não têm conhecimento de todo o processo”, protesta na entrevista a seguir.
 
O senhor acha que a votação da assembleia foi influenciada? Com certeza, Isso é coisa de empresários que se acham coronéis. O coronelismo já acabou, mas eles se acham coronéis.
 
O senhor acha que é possível criar uma nova universidade? Eles acham que é fácil, mas pra isso precisa ter 1/3 de doutores, nós não temos. A assembleia não entende isso. Ela é composta por 2/3 de empresários que têm poder na cidade. Empresário não vota contra empresário. A parte acadêmica não interessa. Querem fazer um Centro de Ensino. Rio do Sul e Chapecó tentaram e não conseguiram. Acham que em 15 dias tudo vai ficar pronto.
 
Os professores foram chamados para discutir o processo de unificação? Não participamos do processo. Eles dizem que os outros campi estão falidos e a UnC Caçador não vai assumir isso. Mas não pensem que Caçador deu às costas aos amigos. 52 pessoas decidiram o destino da UnC Caçador, não a cidade.
 
Os que defendem a independência temem que o reitor concentre demais poder, já que terá liberdade para nomear subordinados em todos os campi. É assim em todas as universidades do mundo. Quem manda é o reitor. O que estão fazendo aqui é a maior c... do ensino superior do mundo.
 
CONTRA
“Não vamos iniciar do zero”
 Diretor-presidente da UnC Caçador, o dentista Luiz Eugênio Beltrame foi nomeado o representante do campus na discussão sobre o processo de unificação. Na entrevista abaixo ele frisa que embora a unificação tenha sido rejeitada, o campus está aberto a negociação.
 
Caçador começa tudo do zero agora? Não vamos iniciar do zero. É o mesmo processo que os outros campi fizeram. Enquanto eles migrarão para o CNPJ da UnC Mafra, nós também teremos de ter outro CNPJ.
 
Os cursos serão mantidos? Sim. Teremos uma nova faculdade, mas com os mesmos cursos. Fizemos consulta do ponto de vista legal, não há problema.
 
Por que Caçador não quis unificar? A Assembleia Geral decidiu pela não unificação ante a insegurança jurídica e econômica-financeira do processo de unificação. No entanto, deixou claro que, resolvendo estes problemas de ordem econômica e financeira, se dispõe a repensar o processo de unificação de forma prudente e segura, como o processo exige.
Nós pedimos mais um ano para analisar, contratar uma empresa para fazer um organograma, mas o curador Aor Miranda não nos concedeu.
 
O senhor teme a concentração de poder no reitor? Divergimos especialmente neste ponto. Isso permite a perpetuação de determinado grupo no poder. Permitem decisões de cima para baixo, pessoas que vão tomar decisões sem ouvir a comunidade. Há outra preocupação com relação à concessão de bolsas de estudo. A UnC Mafra não faz filantropia e como o CNPJ será unificado lá, teríamos de cortar as bolsas.
Os processos seletivos serão relançados por Caçador, a filantropia será mantida e haverá ampliação das bolsas de estudos de 50% e 100%, além dos projetos sociais.
 
Como ficam os acadêmicos? O processo de transferência da mantença ou credenciamento e autorização de todos os cursos será processado junto ao Conselho Estadual de Educação, da mesma forma que as demais fundações pertencentes à Universidade do Contestado, buscando a preservação do status de universidade, na mesma condição que as demais.