Há três anos estudantes da E.E.B. Rodolfo Zipperer estudam em estrutura precária; obra do novo prédio está parada

Edinei Wassoaski

CANOINHAS

 

 ?Essas crianças são como nossos filhos, não tem mais o que esperar, fomos a todos os lugares. Ninguém mais agüenta. Quando cair um telhado decerto alguém vai tomar uma providência. Tenho amor por esse lugar, mas não está dando mais?, diz entre soluços a professora que a exemplo de todos os profissionais da E.E.B. Rodolfo Zipperer, não quer se identificar. Ela teme que a retaliação que sofreram os professores que organizaram uma manifestação em maio passado se repita. Há três anos as condições de ensino na velha estrutura da escola só tem se agravado. O novo prédio, prometido para ser inaugurado em agosto de 2006, não está nem com a metade concluída. A gota d?água, para os professores, foi o laudo da Vigilância Sanitária, emitido na semana passada, que pede providências o mais rápido possível, ?sendo que as condições do estabelecimento de ensino são precárias e desumanas, pois poderão ocasionar riscos aos alunos?.

No laudo, a Vigilância constata uma série de riscos como fios elétricos soltos, chapas compensadas improvisadas como paredes, mais de 20 alunos estudando em salas com 16 metros quadrados, piso com deformações, telhas quebradas e alagamento dentro das salas em dia de chuva.

Os mesmos riscos foram constatados pelo CN em reportagem publicada em julho de 2007, quando um curto-circuito provocou um incêndio que consumiu duas salas de aula e a cozinha da escola.

Luiz Riske, chefe da Vigilância Sanitária em Canoinhas, explicou que não interditou a escola porque é preciso ?usar o bom senso para que as crianças não percam o ano letivo?. Segundo ele, a Vigilância vai voltar a fiscalizar nos próximos dias para ver se as irregularidades foram sanadas. Riske não deu um prazo para que os problemas sejam sanados. Há possibilidade de que a escola seja interditada. Uma cópia do laudo foi enviado por professores ao Ministério Público e a Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR).

 

ORDEM TÉCNICA

 

O secretário regional Paulo Stocker explica que a morosidade na construção de uma nova sede para a Rodolfo Zipperer é de ordem técnica. A Construtora Marítima, responsável pela obra de R$ 1,47 milhão, pediu ainda em 2006, aditivo de cerca de R$ 400 mil para construir a laje do piso superior. O problema é que a obra foi licitada na modalidade ?tomada de preço?, que contempla obras abaixo de R$ 1,5 milhão. Obras acima desse valor precisam passar por um processo mais complicado, denominado ?concorrência?. O comitê gestor do Governo do Estado levou dois anos para emitir parecer sobre o pedido de aditivo. Enquanto isso, a obra segue parada, com raros intervalos nos quais aparece um operário da empresa para trabalhar.

Stocker explica que como a obra é descentralizada, ou seja, de competência da SDR, o próprio órgão encontrou uma solução que foi negociada esta semana com a Marítima. A laje deve ser feita com material alternativo e mais barato, o que não demandará mais de R$ 75 mil, mantendo a obra na modalidade ?tomada de preço?. O dinheiro, no entanto, ainda não foi liberado. Assim que houver a liberação, a Marítima retoma as obras. Stocker acredita que no início de setembro, finalmente, a construção seja retomada.

 

TODOS OS PASSOS DO DRAMA

 

Agosto de 2005

Governo anuncia construção da nova sede para o Rodolfo Zipperer

 

Maio de 2006

Construtora paralisa as obras depois de ter negado pedido de aditivo de R$ 400 mil

 

Maio de 2007

Professores fazem primeira manifestação denunciando que obras estão paradas praticamente há um ano

 

Julho de 2007

Um incêndio destrói duas salas de aula e a cozinha da escola

 

Fevereiro de 2008

Governo anuncia que obras estarão prontas em maio de 2008

 

Maio de 2008

Com menos da metade da obra pronta e ninguém trabalhando, professores levam alunos para terem aulas na rua, como forma de protesto. Governo divulga nota criticando a atitude dos professores e classificando eles como ?irresponsáveis?.

 

Agosto de 2008

Vigilância Sanitária emite laudo alertando para os perigos de manter crianças estudando no prédio. Governo anuncia novo prazo para retomada das obras: setembro de 2008.