Aos 48, rumo aos 49, para morador da mesma idade Três Barras não pode perder o sossego dos primeiros anos
Gracieli Polak
TRÊS BARRAS
Quem foi admitido ou demitido da Prefeitura de Três Barras nos últimos 28 anos, inevitavelmente, conversou com Irineu Jascuf, funcionário do setor de Recursos Humanos do órgão, um cidadão genuinamente tresbarrense, nascido sete meses depois da emancipação do município.
Calmo como a rua que passa ao lado de seu trabalho, no centro da cidade, Jascuf cresceu no ritmo da cidade. Estudou na escola Mehri Bechaara Seleme, a mesma que ainda hoje presta educação para centenas de crianças, aos domingos foi ao cinema da Lumber e, para completar, assistiu aos “grandes clássicos” disputados no Estádio Municipal Artur Ferreira Ribas. “Com sete, oito anos era isso que eu fazia. Era a nossa diversão”, conta.
Também viu com brilho no olhar os trens que faziam do terminal ferroviário, hoje Museu Municipal, uma atração à parte para quem usava calças curtas. Para Jascuf, o fato de o pai trabalhar no ramal fez com que os trens tivessem uma grande participação na sua infância, permeada por longas viagens pelos trilhos. “Minha avó morava em Calmon e nossa visita para ela no Natal era sagrada. A gente ia daqui até Porto União, tinha de dormir lá, para no outro dia pegar o trem até a casa dela. Passávamos muitas horas em um trajeto que hoje é feito rapidinho”, relembra.
Naquela época o jovem viu também a esperança do povo de Três Barras crescer com a chegada da Rigesa, enquanto acompanhava a evolução dos trabalhos de terraplanagem, que passavam ao lado da linha férrea. A Rigesa chegou e empregou muita gente, uma nova onda de progresso tomou conta da cidade e a pequena cidade parecia já não ser tão grande.
Como os trens, que ligavam Três Barras com o resto do mundo, Jascuf teve vontade de partir da pequena cidade, que durante sua juventude começava a se expandir novamente, mas ainda estava centralizada no Campo de Instrução Marechal Hermes. Muitos dos amigos daquela época moravam na área militar, aberta para civis, e disputavam em campo o título de melhores no futebol, mas diversão mesmo era a que encontravam no Clube Laffayete ou na Sociedade Beneficente Operária, casa das tardes de domingo mais animadas da região. Aos 18 anos ele teve a chance de sair de sua cidade de origem, ir para Brasília, mas a vontade da mãe ou o destino, questiona ele, não permitiram. “Eu ia servir o Exército lá, mas no dia da última prova passei mal – talvez pela choradeira da minha mãe por eu ir para tão longe – e não consegui. Prestei o serviço aqui mesmo””, conta.
Jascuf saiu do Exército e entrou na prefeitura, em 1981, onde construiu sua história de trabalho. Teve oportunidades de ir embora, mas preferiu continuar acreditando na terrinha, se casou e teve dois filhos. Andando pelas ruas de bicicleta encurta o caminho entre o trabalho, no Centro, e sua casa, no KM 2, considerado o novo centro da cidade, hoje o tresbarrense não cogita mais sair da cidade e espera que para seus filhos, Eduardo e Talita, surjam boas oportunidades para que, à semelhança dos filhos de alguns amigos, eles não precisem deixar a terra natal. “Muita coisa mudou e muitas das oportunidades se foram, mas eu ainda acredito em Três Barras”, fala.
Para o futuro, espera que o desenvolvimento não venha apenas com seu lado negativo. “Aumentou a população, cresceu a criminalidade e o desemprego. A tranquilidade precisa ser preservada”, pede.
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