Presidente da Petrobras disse que Comissão pode paralisar ações da estatal

Edinei Wassoaski

SÃO MATEUS DO SUL
 
Presente em São Mateus do Sul-PR, a 40 quilômetros de Canoinhas, na segunda-feira, 2, a fim de comemorar os 55 anos de instalação da Unidade de Negócios da Industrialização do Xisto de São Mateus do Sul, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, lamentou a instalação da CPI no Senado que pretende apurar irregularidades no repasse de recursos da estatal. Em entrevista coletiva, da qual o CN participou, Gabrielli disse que "Não gostaríamos que a CPI se transformasse em algo de investigação para descobrir o que investigar". Ele admitiu que a CPI pode paralisar a companhia. “Quem já lutou boxe sabe que bater no fígado não dá nocaute, mas enfraquece”, sublinhou.
Segundo ele, cada assunto a ser discutido acabará mobilizando funcionários para responder ou fazer levantamentos de informações. Para isso, Gabrielli pretende alterar sua rotina de trabalho, com a permanência de dois dias por semana em Brasília dedicados somente à CPI. "O dia vai ter mais de 24 horas agora", acentuou.
A iniciativa de falar da CPI, durante entrevista sobre os 55 anos do início da exploração de xisto no País, foi do próprio Gabrielli, quando explanava sobre os investimentos no setor. "Esperamos que as iniciativas, particularmente do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), não venham a atrapalhar os investimentos, particularmente no Estado do Paraná", afirmou.
No mesmo tom, o diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, acenou para a possibilidade de cortes na Petrobras. "Se parar investimentos vão parar contratos. Se parar contratos vão ter demissões", disse.
Segundo Costa, o País sofrerá as consequências. "Alguém depois vai ter de explicar esses prejuízos", acrescentou.
 
REPERCUSSÃO
 
Gabrielli, que retornou domingo, 31, de viagem ao exterior, disse que ainda não há repercussão internacional sobre a Petrobras em função da CPI. "A permanente presença da Petrobras não mais nas páginas econômicas, mas nas páginas políticas e de denúncias dos jornais, evidentemente vai impactar sobre sua reputação", lamentou.
Segundo ele, a estatal é considerada uma das mais transparentes do mundo e com "sólida reputação". Para Gabrielli, o objetivo da oposição é apenas "criar clima e não de fato aprofundar e melhorar a governança da companhia".
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que acompanhava Gabrielli, disse que "aparentemente" a oposição tem a CPI como única estratégia de atacar o governo. "Passaram o ano passado todo torcendo para que a crise fizesse arrefecer o ritmo de crescimento, causasse problema social no País porque isso provavelmente diminuiria a popularidade do governo", afirmou. "É uma irresponsabilidade grande, uma forma de tentar criar problema, procurar problemas para ver se criam constrangimento."
Perguntado pelo repórter do CN do porquê de a Petrobras deixar a situação chegar à iminência de uma CPI sem investigar ela própria as denúncias que pipocaram na imprensa, Gabrielli disse que “Um dos jornais menciona 1,1 mil contratos com ONGs e identifica dois ou três problemas. Então, vamos analisar os dois ou três problemas e não colocar o programa como um grande problema. O programa atinge hoje 18 milhões de pessoas, isso é muito positivo, mas está sendo apresentado como negativo”.
 
ENTRAVE
 
De qualquer forma, a falta de acordo entre os senadores governistas impediu a instalação da CPI da Petrobras na terça-feira, 2. A comissão continua sem funcionar porque Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR) travam uma queda de braço pelo posto de principal interlocutor do Planalto na CPI.
A base não foi à reunião que instalaria a CPI e escolheria presidente e relator. Nova sessão foi marcada para ontem à tarde.
Enquanto tentam se acertar, os governistas também buscam o retorno ao comando da CPI das ONGs, hoje dominada por DEM e PSDB. Sem acordo, a base ameaça boicotar mais uma vez a comissão da estatal.