Em Paula Freitas, a briga que já dura pouco menos de um ano, culminou com muita violência no final de semana
PAULA FREITAS - Violência e terror marcaram o final de semana da família Estácio e dos integrantes do Movimento Sem-Terra (MST). Há quase um ano, cerca de 130 famílias estão acampadas na localidade de Faxinal, distante cerca de dez quilômetros do município de Paula Freitas. A família Estácio mora no mesmo terreno onde as barracas foram armadas.
No total, são mais de 400 alqueires. Segundo informações oficiais, a área pertencia ao antigo Banestado. No entanto, a família Estácio, por estar no local há 20 anos, sob a instrução do advogado Marcelo Leme, fez o pedido legal de usucapião. De acordo com informações dos integrantes do Movimento e inclusive do prefeito municipal (interino), Mauro Félix dos Santos, a família e os integrantes discutiam muito. ?A briga vem de longa data. Os atritos entre eles eram constantes?, explica Félix.
Os manifestantes se defendem e tem uma explicação pelo que aconteceu na madrugada de domingo, 8. ?Buscamos todos os meios para evitar o que aconteceu. Desde que a gente chegou aqui fizemos propostas, mas eles não quiseram aceitar?, justifica um dos integrantes do MST, Cléber dos Santos.
A madrugada de domingo
Queimaduras de cigarro, cabelo cortado com facão, marcas de estilhaços, coronhadas no corpo e mãos amarradas. No total, foram três horas de tortura. O boletim de ocorrência feito pelos integrantes da família Estácio parece um filme de terror. No total, seis pessoas ? inclusive dois menores ? ficaram nas mãos do MST. Aproximadamente 500 pessoas foram até a casa dos Estácio. Depois de amarrar as mãos de todos com fios de cobre, o MST começou a tortura. ?Eles jogavam formiga na gente, faziam a gente beijar o símbolo no boné deles e apagavam o cigarro em nós?, conta José Luiz Estácio (Luizinho), que se diz dono da terra. Enquanto isso, alguns membros do Movimento pegaram um trator e invadiram a casa da família. Na segunda-feira, 9, o que se via no local era apenas madeiras e móveis quebrados. ?Se tivessem matado nós, era melhor?, disse o irmão de Luizinho, João Walter Estácio. Ele mora há 1,5 quilômetro da casa do irmão e foi até lá porque ouviu tiros. A tortura psicológica foi ainda pior. ?Eles fizeram roleta-russa com a gente e disseram que iam estuprar a menina?, lembra o sobrinho de Luizinho, Jorge Luis Tarniovisz. A menina à que ele se refere é filha de Luizinho. Ela tem 14 anos. ?Eles perguntaram da minha mãe. Eu disse que ela é morta e eles falavam: quer ir ver a mãezinha então??, lembra Jorge.
A ação, que começou antes das 7 horas, só terminou às 11 horas. A Polícia Militar de Paula Freitas e de União da Vitória foram acionadas e só conseguiram resolver paliativamente a situação porque levaram ?presa? a família Estácio. Os boletins de ocorrência e a inclusão de novos documentos foram feitos na 4a. SDP. O prefeito de União da Vitória, Hussein Bakri, acompanhou toda a movimentação na noite de domingo. Em pouco tempo, depois de algumas ligações, o problema foi resolvido. Pelo menos, inicialmente. Agora, a reintegração de posse depende da assinatura do secretário de Segurança de Estado. Sem isso, a situação continua a mesma. ?Isso foi só um aviso?, diz um dos integrantes do MST. A família Estácio sente-se ameaçada e por isso, refugia-se na casa de familiares em União da Vitória.
IRINEÓPOLIS
Sem-Terras têm um mês para desocupar área
Mais da metade das famílias abandonou o assentamento
IRINEÓPOLIS ? Há poucos menos de um mês para desocupar a área de terras pertencentes ao fazendeiro Romeu Rocha, em Irineópolis, é comum ver famílias de sem-terras deixarem o local. Das 200 famílias que invadiram as terras em julho passado, cerca de 150 já deixaram a área.
A reintegração de posse da área foi concedida pelo juiz agrário Edemar Gruber, de Joaçaba, logo em seguida a ocupação. A decisão foi baseada em uma nova medição realizada pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), que comprovou o que Romeu afirmava ? não há excesso de terras.
Com guarita e divisão planejada de lotes por família, os acampados afirmam que o Incra nada teve a ver com a invasão nas terras de Romeu.
Os acampados dizem querer unicamente o que prevê a constituição quanto à reforma agrária e que as terras pertencem a União e foram desapropriadas da antiga madeireira Lumber. Eles diziam não saber que as terras pertenciam a Romeu.
Inicialmente, se instalaram no acampamento, famílias de Irineópolis, Três Barras, Canoinhas, Rio Negrinho e Mafra.
CANOINHAS
Destino de famílias indefinido na Paciência dos Neves
CANOINHAS ? Há quase dois anos, cerca de 24 famílias vivem em uma área do Governo Federal na localidade de Paciência dos Neves, distante 35 quilômetros do centro de Canoinhas.
Matéria publicada no CN em junho passado, denunciou as condições precárias em que as famílias viviam. As terras alagadiças inviabilizavam o que os acampados acreditavam vir a ser sua principal fonte de renda ? a agricultura.
A denúncia provocou reação do Incra, responsável pelo acampamento. Dias depois, as famílias foram retiradas do local e se estabeleceram em outra área do Governo, distante quatro quilômetros do primeiro acampamento.
Hoje, os sem-terras da Paciência dos Neves vivem um impasse ? voltar ou não para as terras que acreditavam ser produtivas. Eles reclamam que a área em que o Incra os colocou é pequena para as 24 famílias. No primeiro acampamento, cada família tinha seis alqueires de terras. Mas não existe consenso entre as famílias se o melhor é ficar em uma área pequena, mas segura, ou ir para uma área maior, mas alagadiça. Algumas famílias plantaram na terra alagadiça, alegando não ter espaço para plantar no novo acampamento. Os sem-terras vivem de cestas básicas doadas pelo Governo.
Outras duas famílias de sem-terras vivem às margens da BR-280, nas proximidades da Floresta Nacional de Três Barras (Flona). São dissidentes do acampamento da Paciência dos Neves
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