Cerca de 17% das gestantes que se trataram pelo SUS de Canoinhas nos últimos cinco anos, são adolescentes

CANOINHAS ? ?Fui pega de surpresa. É um susto, acho que a ficha ainda não caiu?. É dessa forma que Cecília* descreve a sensação que teve quando descobriu que, aos 16 anos, estava grávida.

A confusão que se formou na cabeça da adolescente encontrou nas amigas uma resposta para o futuro que se desenhava na sua frente.

?Umas amigas diziam que eu devia tirar, outras aconselhavam a encarar a gravidez?, lembra. Experiência, algumas de suas amigas têm. ?Uma delas teve um filho e deixou no Hospital, outra tem duas crianças?, comenta.

Dessa forma, Cecília pode confrontar os prós e os contras da maternidade. A decisão final, no entanto, veio, quando já estava de quatro meses e a barriga avantajada denunciava seu estado, tornando impossível esconder a gravidez dos pais. ?Um dia minha mãe perguntou e eu não agüentei, acabei confessando?. O que para muitos pais pode ser considerado uma tragédia, foi encarado com relativa tolerância pelos pais de Cecília. Foi a forma como a família encarou sua gravidez que fez Cecília assumir de uma vez por todas a maternidade.

 

INCONSEQUÊNCIA OU FALTA DE INFORMAÇÃO

 

Como num roteiro de novela, a gravidez na adolescência segue um script com poucas alterações. Depois de encarar os pais, a adolescente precisa indicar o co-responsável pela situação. No caso de Cecília, como na maioria dos casos, o pai nega a paternidade, diz que só aceita se Cecília fizer um exame de DNA. ?Faço e esfrego na cara dele?, afirma determinada. Sobre a possibilidade de viver junto com o pai da criança, a adolescente descarta de imediato. ?Enjoei da cara dele, foi o enjôo mais esquisito que tive?. Mas não descarta o que é seu por direito. Assim que o bebê nascer, vai entrar na justiça para pedir pensão alimentícia.

Perguntada se a gravidez é fruto da falta de informação, Cecília é enfática. ?Sempre fui muito bem informada sobre métodos anticoncepcionais, sempre usei, mas aconteceu o deslize, foi involuntário. A gente nunca imagina que vá acontecer com a gente?.

Mas aconteceu e daqui a poucos dias, Luis Gustavo ou Maria Cecília nascerá.

?Não me sinto preparada para ser mãe. Ajudei minha mãe a criar meus irmãos mais novos, mas não é a mesma coisa?, confessa.

Quando se fala no futuro, no entanto, Cecília tem uma visão bastante madura. ?Posso ter dificuldades em encontrar um marido por causa do meu filho, mas uma coisa sempre terei em mente ? o amor de filho não se compara ao amor de um marido, é insubstituível?.

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* De acordo com o que determina o Ministério Público, o nome Cecília é fictício