Modelo adotado em 1996 de investimento na criação de cursos foi trocado pelo que privilegia o aperfeiçoamento dos já existentes

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Entre 2002 e 2005, o número de universidades privadas aumentou 35% no Brasil e o número de cursos, 56%. No mesmo período, as matrículas só aumentaram 28%. Ou seja, a oferta de matrículas cresceu muito mais do que a demanda e várias universidades particulares ficaram sem receita para amortizar os empréstimos que contraíram para se expandir. Foi o caso da Universidade do Contestado (UnC), especificamente no campus Canoinhas/Porto União.
A UnC entrou em uma fase delicadíssima, reconhecida hoje, pela primeira vez publicamente, pelo diretor administrativo da instituição, Valdecir Bechel. Mergulhada em dívidas, a crise iniciada em 2005 teve seu ápice em 2006, quando salários foram atrasados, o 13.º foi pago somente em 2007, fornecedores sumiram e credores batiam diariamente na porta da instituição. “Tinha de ser sincero, nunca neguei a dívida, mas deixava claro que no momento não tínhamos como pagar”, recorda Bechel, querendo esquecer a fase na qual justamente assumiu a direção administrativa do campus.
“Hoje vivemos uma situação estável”, afirma.
As dívidas não terminaram. Financiamentos contraídos durante a crise ainda estão sendo pagos, mas dentro do orçamento da Universidade. Os salários não atrasaram depois que o 13.º de 2006 foi pago.
A retomada se deve a um novo modelo administrativo adotado a partir de 2006 quando, segundo Bechel, esgotou-se o modelo voltado para a criação de cursos, sem previsão de sustentabilidade. “Apostou-se em cursos como se todos tivessem demandas ilimitadas e, na prática, viu-se que havia limites sim”, avalia. Esta imprevisibilidade ainda representa alto custo para a UnC. Cursos com poucos alunos dão prejuízo a instituição, mas precisam ser mantidos até que a última turma cole grau. Aos poucos, cursos com pouco potencial de atração de alunos vêm sendo extintos. Somente neste ano, sete (Engenharia de Telecomunicações, Paisagismo e Jardinagem, Prótese Dentária, Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, Tecnologia da Madeira e Tecnologia em Gestão do Turismo) não abriram vagas para vestibular. A meta é formar as turmas em andamento e extinguir a graduação da grade oferecida pela UnC. “A ideia de quanto mais cursos, mais alunos, tem lógica, mas a demanda não acompanhou”, reflete Bechel, analisando os números que apontam 3,9 mil alunos em 2005, auge da oferta de cursos, quando eram oferecidas 32 graduações. Hoje a UnC tem 3,03 mil alunos em 25 cursos, ou seja, embora o número de alunos tenha diminuído, aumentou a demanda por curso.
Mas a crise foi superada com outros ajustes como redução de salários, venda de carros (havia 10, seis foram vendidos), algumas demissões e enxugamento no pagamento de despesas de professores.
 
OCIOSIDADE AINDA É PROBLEMA
 
Mesmo com um número de alunos considerado estável, a UnC Canoinhas ainda registra um número incômodo de vagas ociosas. Pelo menos metade das vagas ofertadas está ociosa. A máxima “só não estuda quem não quer”, no entanto, nunca esteve tão em evidência como agora. Em 2008 mais de R$ 1,2 milhão foram investidos em programas de assistência ao estudante. Este ano a previsão é de que R$ 1,5 milhão sejam destinados para o mesmo fim. Financiamento Estudantil (Fies), Artigo 170 (subvencionado pelo Governo do Estado), crédito Pravaler, além de 70 bolsas integrais que deverão ser destinadas somente este ano (a cada 10 alunos matriculados, um ganha bolsa integral) são os caminhos que as pessoas que não têm condições de arcar com os custos de um curso superior podem seguir. A UnC ainda dá desconto de 30% no valor das mensalidades para acadêmicos que estão cursando a segunda graduação na instituição.
 
Vice-diretor previu cenário desastroso em 2007
 
A gravidade da situação pela qual passou a UnC nos últimos anos foi assunto de um artigo publicado pelo vice-diretor-presidente da UnC Canoinhas/Porto União, na revista Iniciação, da própria instituição, publicado em dezembro de 2007. Com o apocalíptico título Fim da UnC: radiografia do modelo administrativo, o Dr. Armindo José Longhi não poupa críticas ao modelo administrativo adotado pela UnC. “O ciclo do modelo de desenvolvimento adotado pela UnC esgotou-se”, assinala. Ele lembra que a oferta de cursos aumentou vertiginosamente desde 1996, quando a Fumploc passou a se chamar oficialmente UnC em Canoinhas. Considerando os cinco campi da UnC, entre 1996 e 2005 o número de graduações evoluiu de 38 para 124, crescimento em torno de 226% em 10 anos. Neste período foram criados 37 cursos, saltando de 13 em 1996 para 50 em 2005, evolução de 284%.
O erro em apostar na relação demanda/quantidade de cursos se revela em números. No ano de 1990 a média de alunos por curso era de 206; no ano de 1996, caiu para 114, e no ano de 2005, reduziu para 100 alunos por curso. “É necessário e urgente avaliar qual seria o número ideal de cursos a serem ofertados em cada um dos campi da UnC. O que os dados mostram é que a quantidade atualmente ofertada de cursos está além do que a sociedade demanda ou pode pagar”, aponta Longhi.
O vice-diretor-presidente faz uma pergunta respondida hoje com convicção por Bechel. “Os investimentos feitos na abertura de cursos produziram retorno positivo à UnC?” e lança uma proposta. “Quanto menor a mensalidade, maior será a procura, não importando se o regime de funcionamento do curso for presencial, semipresencial ou à distância”.