Primórdios da cidade estão na rota que os tropeiros faziam para chegar ao Rio Grande do Sul

Edinei Wassoaski

PAPANDUVA
 
“Papanduva nasceu à beira de um caminho”. Essa é a frase que abre o livro Resgate de Memórias, da professora Sinira Damaso Ribas, relato mais fiel dos primórdios de Papanduva, a 42 quilômetros de Canoinhas.
A formação da cidade que completa neste sábado 55 anos de emancipação político-administrativa se confunde com a história da Estrada da Mata, usada pelos tropeiros para conduzir o gado de Viamão-RS a Sorocaba-SP.
O livro Histórias de Santa Catarina, de Celestino e Sérgio Sachet, faz uma menção ao caminho das tropas, uma picada que foi se acentuando “pelos cascos das mulas e pelo passo lento da boiada”. Por volta de 1730, justamente onde hoje está Papanduva, condutores de tropas fizeram desse lugar, uma de suas pousadas.
Comerciantes tinham uma especial predileção pela região porque ali encontravam o papuã, excelente pasto para os animais. Vem justamente deste pasto o nome da cidade. A Papuã acrescentou-se o sufixo duva, que significa ‘muito’.
Além da abundância de pastagem, a tranquilidade era ideal para o repouso e segurança dos tropeiros contra ataques de feras e índios.
Este ambiente aprazível foi retendo, aos poucos, muitos tropeiros que foram formando um pequeno povoado. “Não podemos pensar a história de Papanduva desconectada da história do tropeirismo”, afirma Sinira Damaso Ribas, autora do livro Resgate de Memórias. Filha, esposa e mãe de ex-prefeitos de Papanduva, Sinira possui um conhecimento admirável da história da cidade onde nasceu e passou boa parte da vida. Somente depois da morte do marido (Nataniel Ribas foi assassinado em 2007), decidiu se afastar de Papanduva. Há poucos meses ela está morando em Curitiba-PR e visita a cidade natal esporadicamente.
Ainda de acordo com as pesquisas de Sinira, em 1877 já havia registro de uma localidade denominada São Tomás de Papanduva. Bem próximo, havia outra localidade pouco depois chamada de Papanduva. Foi exatamente ali que nasceu o que seria um dia a cidade de Papanduva.
 
PRIMÓRDIOS
 
Em 1818 uma pequena leva de moradores vindos de Campo do Tenente-PR, se fixou na região onde posteriormente se estabeleceria a cidade e passou a extrair erva-mate e cultivar cereais para garantir seu sustento. Entre 1826 e 1829, houve uma obra de revitalização da estrada da mata, quando o povoado crescia a olhos vistos. Segundo pesquisa feita por Sinira, 60 escravos trabalharam na obra da estrada da mata. Cerca de 20 soldados acompanharam os operários para “defendê-los contra os gentios selvagens”. A estrada da mata é hoje a BR-116, que liga Papanduva a Monte Castelo e de lá, para o Paraná.
Ainda em 1829, há registros no livro tombo da Paróquia de São Sebastião de que o padre Marcelino José dos Santos havia rezado missas nas localidades de Papanduva, Estiva, Rancho Grande e Lajeadinho.
Papanduva foi palco de sangrentos ataques dos guerrilheiros, chamados pela escritora Sinira de “fanáticos”, que armados saqueavam e queimavam as propriedades nos mais diversos pontos da região em guerra durante o período de 1912 a 1916. Sinira tem ao menos um motivo para antipatizar com a figura dos guerrilheiros. Aos 81 anos, seu avô, Luís Damaso da Silveira, foi preso e mutilado (uma de suas orelhas e seus dedos foram decepados) e cruelmente assassinado. Isso teria acontecido no auge da ocupação em Papanduva, em agosto de 1914.