Projeto da Universidade Federal de Viçosa-MG serviu de base para mudar realidade em Irineópolis e no Paraná
Edinei Wassoaski
IRINEÓPOLIS
“Separar o lixo. Essa é a questão”, resume o mestre em gestão ambiental, professor da Universidade do Contestado, campus Canoinhas, Reinhardt Sievers. Infelizmente a parcela da população de Canoinhas que faz isso é quase insignificante. Em Três Barras e Bela Vista do Toldo, a realidade é bem mais positiva, já que existe coleta seletiva, mas o lixo vai todo para fora das cidades. “É preciso conscientizar”, orienta o professor. Para isso, no entanto, é preciso que o poder público mude o foco. Há anos a prefeitura de Canoinhas vem tentando estimular os catadores de lixo reciclável a formarem uma associação. A associação chegou a ser fundada, mas nem chegou a funcionar de fato. Segundo o supervisor de Meio Ambiente, Felippe Davet, há uma grande dificuldade em se conseguir recursos para fomentar a associação, pelo menos via prefeitura. Ele acredita que se os catadores formassem uma organização não-governamental (ONG), a situação seria bem menos complicada. “É muito mais fácil conseguir recursos via ONGs do que via prefeitura”, argumenta. O orçamento deste ano prevê R$ 50 mil dos cofres municipais para a instalação de um barracão que seria doado a Associação dos Catadores. Como bem lembra Davet, no entanto, dinheiro previsto no orçamento não é sinônimo de dinheiro liberado.
Se mirarmos para os municípios da região que conseguiram tratar com sucesso a questão do lixo reciclável, é fácil constatar que o problema está mesmo no foco.
Em 2005, Bituruna-PR, a 137 quilômetros de Canoinhas, importou da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, um projeto pioneiro. Fomentado pelo governo municipal, que buscou recursos federais em contrapartida, o projeto de instalação de uma Unidade de Triagem e Compostagem de Lixo (UTC) provocou suspiros de inveja em prefeitos de outros municípios, que viram um velho vilão ser exorcizado com um projeto aparentemente simples. Com uma grande campanha de conscientização, hoje os moradores da pequena cidade paranaense de 17,5 mil habitantes já sabem que os caminhões da coletora são para lixo orgânico e a carretinha engatada ao caminhão serve para o lixo reciclável. Na UTC, cada um tem um destino diferente.
O projeto se estendeu quase simultaneamente para General Carneiro e Cruz Machado.
PROJETO INSPIROU IRINEÓPOLIS
O projeto concretizado em Bituruna inspirou o prefeito de Irineópolis, Wanderlei Lezan (PMDB), a ir atrás de recursos para construir uma UTC na cidade. Em março de 2008 o sonho, enfim, se tornou realidade. O projeto custou R$ 107 mil. Provando que uma UTC depene muito mais de força de vontade do que de dinheiro em caixa, Lezan conseguiu R$ 103 mil do montante dos cofres da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), dando uma contrapartida de somente R$ 5 mil.
A UTC de Irineópolis foi implantada na Vila Batatal, localidade de Colônia Velha, a cerca de três quilômetros do centro da cidade, em um terreno de 25 mil metros quadrados, com área útil de 15 mil metros quadrados.
O complexo tem um prédio destinado à administração, com 53,20 metros quadrados; o depósito de recicláveis com 135 metros quadrados, com vida útil prevista para 20 anos; o pátio de compostagem com 600 metros quadrados, o galpão de recepção e triagem com 63,5 metros quadrados e o aterro sanitário em trincheiras com 497,55 metros quadrados, destinado aos resíduos sólidos não-aproveitáveis.
O material reciclável é separado por categoria: garrafas, latas, papel e plásticos. Ainda dividido pela qualidade, o produto é agrupado e prensado. Empresas ligadas ao trabalho de reciclagem compram o produto final. A unidade tem capacidade máxima para processar 6,5 toneladas/dia.
LEI OBRIGA MUNICÍPIOS A COMPOSTAR
Os municípios com UTC evitaram uma dor de cabeça que promete preocupar muitos prefeitos. Aprovada em 2007, lei federal obriga os municípios a tratar o lixo por meio de compostagem. Leonardo Quadros, responsável pela implementação das UTCs de Bituruna e Irineópolis explica que não é mais uma questão de conscientização, “é obrigação mesmo”.
Às vésperas da eleição passada, o CN fez uma série de reportagens sobre as propostas dos candidatos a prefeito para problemas emergenciais como o lixo. Prefeito Leoberto Weinert (PMDB) prometeu criar a Fundação do Meio Ambiente e instalar a coleta seletiva em todo o município. Até o momento nenhuma das promessas foi cumprida. (Colaborou Lucio Colombo)
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