Empresa de Canoinhas é pioneira na região ao dar destinação correta ao lixo que mais riscos oferece

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Sheyla Sachweh tem na ponta da língua a imensa lista de exigências que os órgãos ambientais fazem para manter aterros sanitários. Não é à toa. Ao lado do marido, o vereador Alexey Sachweh, ela está à frente da GR Soluções Ambientais, a primeira a tratar lixo industrial na região. Instalada há cinco anos, a empresa já colhe alguns frutos ao tratar de um assunto até então desconhecido por boa parte da população. O destino correto para lixo produzido por indústrias, em construções civis e até mesmo em casa, como é o caso de lâmpadas, pilhas e baterias.
Este tipo de lixo, que representa maior risco para a saúde e para o meio ambiente, é dividido em duas classes.
A Classe 1 é que oferece maior risco, compreendendo produtos como borra de resíduos de tintas e similares, óleos, graxas e lodos. Já o lixo de Classe 2 compreende materiais menos perigosos como o produzido pela indústria da construção civil.
Em Santa Catarina existem somente cinco aterros legalizados especializados no tratamento do lixo industrial classe 1. O da GR é um deles.
 
TRATAMENTO
 
“Toda a empresa é responsável pelo lixo que produz”, lembra Sheyla. Ela não revela o custo para tratamento do lixo das empresas que contratam a GR, mas lembra, “A multa é muito mais cara”, no caso de a empresa não dar o destino correto ao lixo.
Os caminhões da empresa têm licença especial para transportar a carga que é retirada de dentro das empresas.
Chegando ao aterro, a primeira ação é tornar o lixo inerte, sem risco de vazamentos ou reações químicas com outros materiais. Exames de substâncias retiradas do lixo são feitos em um laboratório a fim de garantir que o material não provoque nenhum dano ao meio ambiente. Lâmpadas, por exemplo, são soterradas por uma grossa camada de concreto, dentro de um barril, que é levado para o aterro, um imenso ‘cemitério’, no qual o lixo é depositado sobre uma grossa capa. A proteção impede que qualquer resíduo vaze para o solo. Abaixo da capa, há uma camada de argila e outra capa reserva. Um sistema inteligente denuncia qualquer possível furo na capa. A falha é detectada e corrigida antes de a substância atingir a segunda capa. De qualquer forma, a medida é preventiva e nunca houve uma emergência.
O tratamento é semelhante para os lixos de classes 1 e 2, mas acontecem em aterros diferentes. Embora a legislação não obrigue, o lixo de classe 1 está dentro de um barracão. “Achamos que dessa forma há maior segurança”, explica Sheyla. Já o lixo classe 2, mais comum, está a céu aberto, em uma vala de 46 mil metros cúbicos.
O tratamento do aterro classe 2 é mais complexo. Como está à mercê da chuva, três piscinas, abertas em três diferentes alturas, drenam a água que acaba em tanques chamados de pulmões. Tratada, a água vai para um córrego, que desemboca no rio Paciência. O lodo, fruto do tratamento, volta para o aterro.
 
PROJETO AJUDA, MAS NÃO RESOLVE
 
Há dois anos, a GR iniciou um projeto social a fim de dar destinação correta ao lixo caseiro. Quinze pontos de coleta, em escolas e supermercados, foram criados. Como o custo do aterro é alto e não há lucro algum em tratar desse tipo de lixo, o atendimento é limitado. “Seguida alguém aparece no portão com um saquinho de pilhas ou lâmpadas, recebemos, mas não dá para trabalhar de graça”, pondera Sheyla.
Alexey conta que até o ano passado a GR fazia a cortesia de recolher o lixo produzido por alguns setores da prefeitura, mas como foi eleito vereador, teve de abdicar da cortesia, por configurar prestação de serviço de um vereador para a prefeitura, o que seria ilegal.
Para o mestre em gestão ambiental, professor da UnC Canoinhas, Reinhardt Sievers, faltam políticas públicas que ampliem a destinação do lixo doméstico. A maioria das pessoas mistura lâmpadas, pilhas e baterias com o lixo comum, muitos sem se tocar do perigo que isto representa. “Acima de tudo falta uma campanha de conscientização”, frisa.
 
 
MATERIAL DE CONSTRUÇÃO PODE SER RECICLADO
 
A GR planeja para o mais breve possível, a instalação de uma recicladora de material de construção. Segundo Alexey, é possível triturar sobras de concreto e reutilizar areia e cimento. A novidade promete revolucionar o mercado da construção civil na região. Outra área na qual a empresa se ensaia para estrear é de lixo hospitalar. A coleta em hospitais, laboratórios e consultórios médicos hoje, em Canoinhas e Três Barras, é feita pela Serrana, empresa de Mafra, responsável pela coleta do lixo doméstico das duas cidades.