Escolas públicas começaram recolhendo lixo reciclável e revendendo; hoje já existe escola que recicla seu próprio lixo

Edinei Wassoaski

CANOINHAS
 
Quando em 1997 foi criada a primeira Gincana do Papel na Escola Básica Municipal Dr. Aroldo Carneiro de Carvalho, à época orientadora escolar Maristela Albuquerque não imaginava que os estudantes abraçassem com tanto empenho a ideia de usar a escola como embrião para trabalhar a conscientização ambiental.
A princípio os alunos recolhiam papel e papelão, mas o projeto ampliou e muitos outros materiais foram estocados na escola para serem vendidos a empresas de reciclagem.
No auge do projeto, mais de 550 quilos de latinhas de cerveja e refrigerante foram juntados e vendidos para uma empresa de Mafra, já que em Canoinhas não havia nenhuma empresa que se interessasse pelo material.
O interesse dos alunos cresceu à medida que dispositivos foram criados pela direção da escola para estimular a arrecadação. Trazendo uma determinada quantidade de lixo reciclável, os estudantes recebiam em troca material escolar. O incentivo levou alunos a trazerem sucatas de fogões, geladeiras e até de um carro.
Para Maristela, a maior conquista do projeto foi o envolvimento da comunidade em torno da escola. “Nossos professores visitaram os vizinhos, conversaram com os pais e conseguiram o envolvimento de todos”, conta. É comum muitos vizinhos trazerem lixo reciclável para o depósito que a escola criou. Periodicamente, um revendedor passa na escola para recolher o lixo.
Maristela cita o exemplo de um jovem que estudou no Aroldo, aprendeu sobre reciclagem e hoje sustenta a família vendendo o lixo reciclável que arrecada.
 
ALÉM DA ARRECADAÇÃO
 
A Escola Básica Municipal Severo de Andrade ousou e foi além da arrecadação de lixo reciclável. Hoje, a própria escola recicla o papel e papelão que recolhe. A arrecadação vem desde o início dos anos 2000, mas a partir de 2005 a escola instituiu um projeto de reciclagem de papel e papelão. Com muito sacrifício, professores e alunos arrecadaram R$ 800 com uma rifa, vendendo mil números. O dinheiro foi investido na compra de um liquidificador industrial que tritura papel.
A orientadora educacional Tania Regina Wendt explica que hoje é um problema selecionar os alunos que participarão da reciclagem, que é feita no contraturno, já que muitos se candidatam para o trabalho. Por enquanto não é possível fabricar papel A4, porque a escola não tem uma prensa, mas o papel fabricado a partir do material reciclável já pode ser usado em cartões e convites, por exemplo. “A ideia é que a própria escola use este papel e que até possamos vender”, explica a coordenadora pedagógica Maria de Lourdes Falkiewicz, que participou da elaboração do projeto. “O nosso próprio lixo servirá para o nosso trabalho”, comemora a diretora da escola, Sonia Maria Grosskopf.
O sucesso do projeto já deu outras ideias às educadoras. Elas se preparam para instituir um projeto de fabricação de sabão a partir de óleo usado.
 
PROJETOS AMBIENTAIS DERAM PONTAPÉ INICIAL
 
Todos os diretores e professores de escolas em que se praticam ações ambientais concordam que o gene da preservação ambiental foi plantado nas escolas por duas empresas de Três Barras. Os projetos Aprendendo com a Árvore (Paca), criado há mais de 13 anos pela Rigesa, e Recicle, criado há sete anos pela Mili S.A., atingem hoje todas as escolas públicas de Canoinhas, Três Barras e outras espalhadas pela região. Os dois trabalham, basicamente, ações que visam a preservação do meio ambiente, colocando os estudantes como protagonistas do processo.
Os programas entram nas escolas por conta do interesse dos professores e diretores. São eles que têm de tomar a iniciativa.
“Estes programas são fundamentais hoje para as escolas”, resume o diretor da E.B.M. Aroldo Carneiro de Carvalho, Aderbal Ludka.